Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Qualidade do registro da informação no sistema e-SUS em um município do Rio Grande do Sul: Um relato de experiência
Vania Celina Dezoti Micheletti, Denise Zaffari, Eduarda Pacheco dos Reis, Jéssica Rosiane de Brito, Maria Eduarda Moutinho Bonin, Scheila Mai, Luise Peter da Silva, Roger dos Santos Rosa

Última alteração: 2022-01-19

Resumo


Apresentação - As Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) se apresentam como a principal causa de mortalidade em todo o mundo. São responsáveis também pela perda de qualidade de vida, limitações em atividades de trabalho e/ou lazer, além de gerar impacto econômico negativo para as famílias, comunidades e sociedade em geral, e de corroborar para mortes prematuras. O enfrentamento das DCNT requer vigilância, controle e monitoramento. Neste sentido, o novo financiamento da Atenção Primária à Saúde (APS) Portaria nº 3.222, de 10 de dezembro de 2019, prevê que o recurso repassado aos municípios seja pelo desempenho de alguns indicadores, entre eles dois estão diretamente relacionados às condições crônicas: percentual de pessoas hipertensas com pressão arterial aferida em cada semestre e o percentual de diabéticos com solicitação de hemoglobina glicada. É um grande desafio para as equipes de APS como coordenadora do cuidado, constituir um plano de cuidados para prevenir os agravos decorrentes da hipertensão, diabetes e obesidade. Assim, é de extrema importância identificar, no território de abrangência,  as pessoas com condições crônicas,  pois os profissionais têm papel primordial no planejamento e efetivação das estratégias de prevenção, diagnóstico, monitoramento e controle destas doenças. Reconhece-se a relevância da análise situacional e, nesse sentido, o presente resumo tem como objetivo relatar a experiência de um grupo de pesquisadores e bolsistas acerca da qualidade do registro da informação no e-SUS. O relato refere-se ao desenvolvimento da uma pesquisa aprovada e financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) (edital 27/20) intitulada Estratégias de Intervenção Intersetoriais na Prevenção e Controle de Diabetes Mellitus, Hipertensão Arterial Sistêmica e Obesidade na Atenção Primária à Saúde, em um município do Rio Grande do Sul. É constituída  por três etapas, sendo a primeira relacionada ao levantamento das informações sobre a prevalência de Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), Diabete Mellitus (DM) e Obesidade em adultos maiores de 18 anos acompanhados na APS do município, caracterizar o perfil sociodemográficos dessa população e avaliar o controle e monitoramento da sua condição de saúde.

Desenvolvimento do trabalho: O cenário da pesquisa é um município da região metropolitana de Porto Alegre-RS, com população estimada acima de duzentos mil habitantes, com maior afluência na área urbana. A APS do município possui 22 Unidades Básicas de Saúde (UBS), uma Unidade de Saúde Volante e uma Equipe do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), que se articulam com demais áreas do âmbito municipal. Para alcance dos objetivos acima mencionados, foi elaborado um questionário com perguntas fechadas e semiestruturadas, considerando informações pertinentes aos dados cadastrais dos usuários e referentes ao acompanhamento das DCNT como: parâmetros da pressão arterial, medidas antropométricas, diagnóstico de comorbidades, história prévia de internação, dados relacionados ao estilo de vida, resultados de exames laboratoriais e uso de medicamentos. Está sendo utilizado o Prontuário Eletrônico do Cidadão (PEC) do e-SUS para a busca das informações. Elencou-se uma unidade de saúde como piloto para aplicação do instrumento de coleta, posteriormente, será realizado adequações, se necessário. A coleta iniciou em outubro/2021 e está sendo realizada por bolsistas de iniciação científica da Escola da Saúde da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS).

Resultados e/ou impactos: Serão apresentados resultados parciais no âmbito da qualidade dos registros do PEC no sistema do e-SUS. A coleta abrangeu até o momento 503 prontuários relativos aos usuários cadastrados na Unidade Básica de Saúde piloto, composta por duas equipes de Saúde da Família. Diante das variáveis a serem coletadas para o alcance dos objetivos, tem sido possível identificar fragilidades na qualidade do registro, ou seja, escassez das informações fornecidas pelos profissionais de saúde no Prontuário Eletrônico do Cidadão. Dentre as principais informações faltantes estão os dados referentes ao cadastro do usuário como, por exemplo, aqueles referentes a escolaridade, nome de usuário correto, número de CPF e Cartão Nacional de Saúde (CNS) e a ocupação do usuário. Dados como, medidas antropométricas (peso, Comprimento/Altura, Índice de Massa Corporal (IMC)), também se mostram ser escassos e, quando encontrados, apresentam-se incompletos e/ou com grandes discrepâncias. Dados de igual importância e que, por vezes não são encontrados no PEC, os exames laboratoriais de âmbito hemodinâmico e bioquímico, implicam na continuidade e longitudinalidade do cuidado acerca das condições crônicas. Outro ponto importante é que, quando os dados são lançados no PEC eles não seguem uma padronização de registro, o que dificulta serem localizados de forma otimizada. A exemplificar, alguns registros estão sendo encontrados no espaço das evoluções realizadas pelos profissionais de saúde, sendo necessário revisar consulta  por consulta, outros encontram-se registrados na aba específica de registros de sinais vitais e medidas antropométricas, para os exames alguns estão registrado na aba específica de exames, sendo esta menos usual. Além disso, dados sobre medicamentos prescritos e/ou em uso não constam, em grande parte dos prontuários, na aba específica para tal acompanhamento, sendo assim, necessário abrir as evoluções de cada consulta para coletar esses dados, o que despende uma longa busca, implicando em tempo maior para coleta de informações. Ressalta-se que, em muitos PECs, não encontra-se registro algum sobre esse dado. Essas fragilidades podem ser explicadas conforme hipóteses iniciais dos pesquisadores: déficit de conhecimento dos profissionais acerca do correto preenchimento destas informações no sistema do e-SUS, tempo reduzido para registro das informações devido elevada demanda assistencial, bem como, alta rotatividade de profissionais na APS do município em estudo.

Considerações finais: Durante o percurso de coleta de dados, observa-se que a ausência e/ou equívocos no registro dos dados implicam na qualidade da informação disponível, o que fragiliza uma análise com completude acerca das condições crônicas das pessoas cadastradas com HAS e/ou DM e/ou Obesidade do município em estudo. Bem como, são informações disponíveis e utilizadas no planejamento de políticas de saúde que podem não retratar a realidade, implicar em uma avaliação inconsistente para elaboração das políticas públicas nas áreas de promoção da saúde, prevenção de doenças e agravos, vigilância e atenção à saúde em relação a HAS, DM e Obesidade, fomentando, assim,  a importância de realizar o controle e monitoramento da qualidade dos dados registrados. Assim, identificar erros de completude de dados também tem sido um resultado de relevância. Portanto, se faz necessário ressaltar a importância de recursos de âmbito federal destinados à pesquisa para a qualificação da assistência ofertada pelo SUS.