Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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SÍNDROME DE BURNOUT: UM ESTUDO COM OS BOMBEIROS MILITARES DOS MUNICÍPIOS DE BELÉM E ANANINDEUA-PA
Helder Correa Luz, Eric Campos Alvarenga, Mário Brito, Paulo de Tarso Ribeiro de Oliveira

Última alteração: 2022-01-18

Resumo


Pesquisas e estudos vêm demonstrando aspectos prejudiciais presentes nas práticas e na organização do trabalho dos Bombeiros Militares, tendo como um de seus efeitos o desenvolvimento da síndrome de burnout. A presente pesquisa realizou-se nos municípios de Belém e Ananindeua-PA e contou com a participação de cinquenta (50) bombeiros militares. Tanto a escolha dos locais quanto dos sujeitos se deu de forma aleatória e de acordo com a disposição e o interesse de cada um.  Como critério de inclusão, foram selecionados bombeiros que estivessem na ativa e atuando no setor técnico-operacional nos municípios de Belém e Ananindeua, no estado do Pará. Nesta pesquisa, utilizamos dois instrumentos – Questionário e o inventário Maslach Burnout Inventory – MBI. A aferição dos percentuais do burnout dispostos no MBI foi expressa pela aplicação da Escala Likert, obedecendo a um escalonamento numérico que vai de 0 (zero) até 6 (seis) pontos. É imprescindível considerar tais índices de maneira indissociável, para que o diagnóstico se estabeleça de forma fidedigna e confiável e o tratamento dos dados seja delineado de forma satisfatória. Os procedimentos de análise dos dados coletados foram praticados afim de fazer uma categorização por percentual  quanto aos riscos de que futuramente algum indivíduo venha apresentar a síndrome, classificando-os da seguinte maneira: a) alto risco para desenvolver o burnout, caso o informante apresente alteração em duas dimensões analisadas; b) médio risco para desenvolver o burnout, quando apresentar alteração pelo menos uma dimensão analisada e c) baixo risco para desenvolver o burnout, quando não possuir nenhuma alteração nas dimensões analisadas. A análise estatística dos dados relativos ao questionário sociodemográfico revelou que 96% dos informantes são do sexo masculino e 4% do feminino. A maior porcentagem dos participantes, isto é, 40%, possui idades entre 36 a 40 anos. Já os que têm idades entre 46 a 50 anos, são 22% e 18% têm idades entre 31 a 35 anos. O restante está diluído nas demais faixas etárias. Verificou-se também que 84% são casados ou amasiados; 12% são solteiros e 4% são divorciados. Quanto à escolaridade, os dados revelaram que 66% dos informantes têm apenas o ensino médio; 30% têm graduação; 2% têm especialização e também 2% têm mestrado. No que diz respeito ao nível hierárquico, a maioria deles, ou seja, 50%, é formada por cabos; 10% são soldados; 14% são 3º sargentos; 14% são 1º sargentos; 2% são 2º sargentos; 8% são sub-tenentes e 2% são 2º tenentes. A corporação apresentou um tempo médio de trabalho de 16,34 anos de serviço, com jornada média mensal trabalhada de 214,4 horas. Quanto à análise do inventário MBI, os dados revelam escalas de Exaustão Emocional (EE); Despersonalização (DE) e reduzida Realização Profissional, respectivamente. Considerando associadamente a totalidade dos dados coletados e baseando-se nos critérios já apontados para fins de se obter um diagnóstico do burnout, podemos dizer que 6% dos participantes apresentaram a sintomatologia característica da síndrome; 18% têm alto risco para adquirir a síndrome no futuro; 24% têm médio risco e 52% têm risco baixo para desenvolvê-la. Outro dado relevante é que em 16% dos indivíduos embora apresentando altos índices de Exaustão Emocional (EE) e Despersonalização (DE) associadamente, ainda assim suas respostas evidenciaram altas pontuações de Realização Profissional. Quando associado o índice de prevalência do burnout encontrado na amostragem com as variáveis escolaridade e idade dos participantes, os dados mostraram que 100% deles possui graduação completa; 66,66% possui idades entre 26 a 30 anos e 33% possui idades entre 41 a 45 anos. Ainda considerando apenas os indivíduos classificados positivamente para o burnout, descobrimos que 66% são soldados (apesar de representarem somente 10% da amostragem) e 33% são cabos; 66% são solteiros (ainda que apenas 12% da amostragem) e 33% são casados ou amasiados; 100% são do sexo masculino. Em estudos anteriores com bombeiros militares não foram encontrados níveis de burnout superiores à faixa de 3%. A presente pesquisa, no entanto, revelou que 6% da corporação dos bombeiros militares dos municípios de Belém e Ananindeua-Pa apresenta uma sintomatologia determinante para a ocorrência do burnout. Causa estranheza tal desnivelamento, mas algumas especificidades metodológicas e outros fatores de ordens diversas podem ter contribuído para tal distorção. Dentre estes, julgamos relevante o fato de que nossa pesquisa tenha priorizado os informantes que fazem parte do setor técnico-operacional da corporação, o que significa maior probabilidade em encontrarmos índices mais vultosos de burnout, haja vista a natureza e a rotina de trabalho que a categoria destes servidores desenvolve são mais intensas, estressantes e perigosas quando comparadas aos servidores lotados na área administrativa, por exemplo. Podemos inferir que o período de plena pandemia da COVID-19, o qual coincidiu com a pesquisa, também pode ter sido um dos fatores que mais alavancaram este considerável índice de burnout, uma vez que as pessoas tiveram limitadas suas opções de lazer e diversão. Outro dado preocupante é que 18% dos participantes da pesquisa demonstram ter alto risco para o desenvolvimento futuro deste fenômeno. Demonstrou-se que 80% dos informantes estão satisfeitos ou parcialmente satisfeitos com o trabalho. Além disso, apresentaram níveis altos para Despersonalização e Exaustão Emocional quando analisados associadamente, ainda assim, apresentaram escalas significativas de Realização Profissional e, quanto menor o nível hierárquico, e, por conseguinte, menor a faixa salarial, mais propenso o indivíduo estará para apresentar a sintomatologia do burnout. Todos os indivíduos que apresentaram o burnout têm nível de graduação completa, embora não sendo maioria na nossa amostragem, ou seja, apenas 30%. Além de ter graduação completa, todos os informantes com provável diagnóstico de burnout ocupavam baixas patentes na hierarquia militar, ou seja, ou eram soldados (02 indivíduos) ou cabo (01 indivíduo). Mediante as discussões que trazemos aqui, podemos afiançar que são fortes as evidências de que o burnout vem se expandindo a atingindo um número cada vez maior de trabalhadores bombeiros dos municípios de Belém e Ananindeua-Pa. Portanto, é preciso estratégias para o enfretamento dos aspectos negativos implicados no contexto do trabalho, com espaço para o diálogo e para a reflexão, pois o ser humano é afetado constantemente pelo que ele vivencia no seu ambiente de trabalho. Esse corpus de afetos possibilita a composição da identidade e da subjetividade do trabalhador, onde o espaço do exercício de sua profissão expressará a marca indelével do seu próprio ser. Desse modo, esta pesquisa vem colaborar para o debate político e acadêmico sobre o burnout, sobre o prazer e o sofrimento no trabalho e sobre as maneiras do homem produzir e de se relacionar; ajudando a pensar novas táticas para o enfrentamento que as transformações do mundo do trabalho demandam na atualidade.