Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Tá pensando que Travesti é bagunça?: Identidade Trans e o acesso à saúde na cidade de Macaé-RJ
victor tavares

Última alteração: 2022-02-24

Resumo


No Brasil, a transfobia é um conceito tem se tornado cada vez mais notório devido à sua associação ao preconceito contra pessoas trans. Estritamente falando, o termo trans é usado para descrever pessoas transgênero e pessoas trans, enquanto "fobia" significa "odiar algo ou alguém". Assim, a definição de transfobia envolve preconceito contra esse grupo, bem como todas as formas de discriminação e intolerância. Este conceito inclui a incitação à violência física, verbal, psicológica ou moral contra esses indivíduos. Um dos pilares que alimenta esse viés é uma cultura que julga apenas relacionamentos heterossexuais como aceitáveis. Manter essa ideia transfóbica exclui completamente as pessoas trans e todos os outros que se encaixam em orientações sexuais alternativas.A transfobia- ou seja, desrespeito a identidade de gênero travesti e transgênero (feminino e/ou masculino) é um dos problemas mais comuns mencionados nos relatos dessas pessoas aos cuidados de saúde. A maioria dos profissionais de saúde, do seu ponto de vista define o gênero em termos do chamado "sexo biológico". No entanto, ao contrário do que muitas vezes se supõe que a identidade transgênero é determinada por pessoas que identificam,de forma cirúrgica ou não (SOARES, 2012).A transfobia institucional existe em alguns espaços, especialmente nos serviços de saúde, impondo um comportamento correto que faz parte da  expectativa da sociedade quanto ao desempenho de gênero. O Serviço de Aconselhamento LGBT da Prefeitura de Macaé (RJ), é uma experiência inovadora no atendimento às pessoas LGBT, é uma das respostas públicas ao combate à LGBTfobia em resposta à transfobia. Macaé está localizada na zona norte do Rio de Janeiro e tem uma característica em comparação com outras cidades da região, sua alta e rápida expansão econômica. Isso se deve à Petrobras que trouxe exploração de petróleo e transformou uma cidade do campo em uma cidade petrolífera do país.O Consultório na rua surgiu em Macaé em 2010 e, por meio da luta e organização dos profissionais da rede pública, observando o crescente número de moradores de rua na cidade que fazem parte da comunidade LGBT. Este número pode demonstrar a necessidade urgente de construir e estruturar um serviço diretamente para esse público-alvo. Inicialmente, o Consultório na Rua começou o trabalho com um pequeno grupo de profissionais. Este trabalho trouxe uma variedade de perspectivas. Através de mapeamento realizado por esses profissionais foi permitido identificar um território marcado pelo trabalho de transgêneros e travestis como trabalhadoras do sexo. O consultório nasceu do compromisso de um grupo de profissionais em dar respostas concretas às necessidades contemporâneas, da cidade de Macaé: atendendo pessoas LGBT, principalmente pessoas trans e travestis.  Trata-se de uma tentativa de proporcionar um trabalho diferente do trabalho que os usuários relatam aceito em outros espaços de saúde do município.. A formação contínua é urgente para todos os profissionais, suma vez que o preconceito e o desconhecimento dos profissionais chocam com as necessidades dos usuários LGBT torna-se o fator decisivo no tratamento para pessoas LGBT. também pela história social do grupo. Acolher essas populações deve ser um compromisso com a satisfação das necessidades dos cidadãos através dos serviços de saúde, construindo relações de confiança, vínculo e compromisso, respeitando a equidade e buscando compreender as necessidades de saúde. Em 2011, o Brasil desenvolveu uma política nacional Saúde Integrativa para Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transgêneros (PNSILGBT). Um de seus objetivos é garantir no processo de desnaturação, que representa uma série de medidas auxiliares visando atrair a atenção e o cuidado de trans e travestis que manifestam o desejo de mudar o corpo por adequação da aparência e a função das características sexuais. Desta forma, a comunidade de atenção primária à saúde começa deve ser considerada um compromisso profissional e ético para garantir a universalidade, acessibilidade e reduzir as desigualdades relacionadas a saúde da comunidade LGBT (ARAÙJO, 2020). Nem todos os municípios possuem profissionais que têm visão ampla e escuta sensível, muitas vezes dando lugar ao constrangimento institucional e a violência, o que pode afastar possíveis alvos de tratamento inicial, enfraquecendo assim os cuidados primários, principalmente sobre a integridade e justiça da saúde. Macaé – RJ, dispõe de uma política de acesso a saúde da comunidade LGBT, o que faz-se necessário refletir a ausência dessa política instituída por lei em outras partes do país.Obstáculos para que a comunidade LGBT tenha acesso a atendimento médico e de qualidade é uma realidade presente uma vez que esse grupo social é estigmatizado e oprimido o que leva a (in) visibilidade sobre necessidades e serviços que resultam  em discriminação, nomeadamente LGBTfobia -preconceito profissional e institucional facilitando o aumento da desigualdade refletindo na descaracterização do papel do SUS como universal, completo e justo.A partir dessa perspectiva o presente trabalho teve como objetivos: Investigar como se dá o acesso ao Consultório LGBT no Município de Macaé-RJ por pessoas trans. Os objetivos específicos foram: Apresentar um panorama histórico, da atuação do Consultório LGBT em Macaé-RJ, Descrever e analisar o perfil da população atendida no Consultório LGBT, através da análise de prontuários; Investigar a importância do acolhimento e vínculo no acesso de identidade trans ao Consultório LGBT. A presente pesquisa será realizada através de abordagem qualitativa. A pesquisa qualitativa pode ser entendida como a produção de resultados que não derivam de nenhum procedimento ou forma quantitativa de pesquisa. Por meio desse tipo de pesquisa, é possível compreender universos simbólicos e específicos de experiências, comportamentos, emoções e sentimentos, e até mesmo compreender funções organizacionais, movimentos sociais, fenômenos culturais e interações entre as pessoas, seus grupos sociais e instituições (MEDEIROS, 2012). A escolha do campo para a pesquisa foi Consultório LGBT no Município de Macaé-RJ. O mesmo esta localizado na Rua Visconde de Quissamã, 482, no Centro, Macaé-RJ e tem seu horário de funcionamento de segunda a sexta-feira de 7h às 19h.Participarão da pesquisa 20 usuários do Consultório LGBT no Município de Macaé-RJ, que se declarem transexuais. A escolha da amostra foi não probabilística intencional, onde os integrantes da pesquisa foram selecionados a partir do julgamento dos pesquisadores a partir de um grupo que tenha as características que atendam os objetivos da pesquisa. O presente trabalho poderá auxiliar pesquisas futuras, servindo como mais uma referência para estudos posteriores sobre cuidado em saúde, a heteronormatividade e o estigma presentes nos atendimentos à travestis e transexuais em serviços de saúde.

Palavras-Chaves: Consultório LGBT.Transfobia. Macaé.Identidade trans. Serviço de Saúde.

Referências:

ARAÚJO, Ellen Thallita Hill et al. Acolhimento à população de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros na atenção básica. Revista Enfermagem Atual In Derme, v. 92, n. 30, 2020.

SOARES, Luciano Silveira et al. Cuidado em saúde e transfobia: percepções de travestis e transexuais de duas regiões do Rio de Janeiro: Maré e Cidade de Deus, sobre os serviços de saúde. 2018. Tese de Doutorado.

MEDEIROS, Marcelo. Pesquisas de abordagem qualitativa. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 14, n. 2, p. 224-9, 2012.