Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Análise de Saúde dos Municípios do Interior do Amazonas
Samara Santos Nascimento Torres, Deise Andrade Melo, Emanuelly Maria Lima Barbosa, Luisa Tiemi Tuda, Sandro Adriano de Souza Lima, Antônio de Pádua Quirino Ramalho, Antônio de Pádua Quirino Ramalho

Última alteração: 2022-01-26

Resumo


APRESENTAÇÃO:

A disciplina de Saúde Coletiva está presente nas Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Medicina e desempenha um papel essencial no tocante à formação de futuros profissionais de Saúde para o trabalho no Sistema Único de Saúde (SUS). Logo, entende-se que a graduação de futuros médicos é um ato inseparável dos processos de intercessão coletiva, da capilarização das orientações ético-políticas do sistema de saúde, da transformação da realidade e da mobilização de agentes socialmente engajados na superação dos problemas vivenciados no cotidiano do trabalho. Contudo, nessa rotina diária, observa-se que muitos profissionais de Saúde carecem de competências teórico-práticas para reconhecer e enfrentar, de modo adequado, os desafios para a consolidação do SUS.

Concomitantemente ao surgimento da Saúde Coletiva e opondo-se ao modelo biomédico, deu-se a construção do SUS e sua legitimação na constituição cidadã de 1988, que concretizou o debate sobre a importância de práticas de cuidado e de gestão em saúde norteadas pelos princípios da universalidade, da integralidade e da equidade. Nessa perspectiva, visando inserir o acadêmico do quarto período de Medicina na atenção e no cuidado em saúde e fazer com que este compreenda o funcionamento do SUS, a disciplina de Saúde Coletiva IV do curso de Medicina da UFAM, propôs uma atividade acadêmica a partir de sistemas de informações do SUS sobre a Saúde dos Municípios pertencentes ao interior do Amazonas, com o objetivo de aplicar os conhecimentos adquiridos na disciplina no que tange as esferas sociais, demográficas, epidemiológicas, organização e funcionamento dos estabelecimentos de saúde e também, uma análise de financiamento da saúde de tais municípios, como Maués, Parintins, Manacapuru, Tefé, Itacoatiara, Lábrea, Borba, Itapiranga, Coari e Tabatinga, entre outros.

DESENVOLVIMENTO:

No decorrer da disciplina foram apresentadas aos discentes as diversas formas de analisar um recorte geográfico pelas lentes da gestão em saúde. Através de reuniões online foi orientado que os discentes colocassem em prática o conhecimento adquirido e que realizassem a análise da saúde de um município do Amazonas de sua própria escolha.

O conteúdo deste trabalho resultou da análise de bases de dados públicos referentes às instituições de saúde vinculadas ao SUS. Para a descrição da situação estrutural, financiamento, índices epidemiológicos e demográficos foram utilizadas as plataformas: Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES); DATASUS; IBGE; Fundo Nacional de Saúde (FNS); Plano Plurianual Municipal de Saúde; Índice de Desempenho do Sistema Único de Saúde (IDSUS).

De forma complementar, dados do Portal de Transparência e da Secretaria de Saúde de cada município foram considerados. Diante das informações coletadas, os discentes foram encorajados a realizar uma análise crítica no que tange o acesso, cobertura, qualidade estrutural, índices epidemiológicos, financiamento, assim como a própria qualidade e periodicidade dos dados disponibilizados.

RESULTADOS E/OU IMPACTOS:

A partir da experiência, foi possível coletar informações referentes à Saúde Pública dos municípios através de Plataformas de dados, as quais são relevantes para analisar a situação atual, identificar déficits, traçar metas e avaliar as melhorias de cada município no que tange a garantia do acesso à saúde como direito de todos. Observou-se, a partir disso, que grande parcela dos municípios ainda carece de investimentos e ampliações neste setor, tendo em vista que diversos atendimentos e procedimentos de saúde não podem ser realizados nesses locais por falta de infraestrutura e mão de obra especializada. Com o encaminhamento subsequente dos pacientes à Manaus, observa-se ainda uma sobreposição das demandas da capital com as dos demais municípios, resultante do descompasso nas condições de assistência em saúde dessas localidades.

Em relação à cobertura de atendimentos na atenção primária, secundária e terciária, nesses municípios, observou-se a necessidade de uma reorientação do modelo de atenção vigente. Diante disso, foi observada a importância do investimento na Atenção Básica como prioridade, pois grande parte dos atendimentos realizados nesses locais são de pequena e média complexidade, por problemas socioeconômicos, dentre outros, fato que suscita a reflexão sobre a necessidade de um serviço de transporte sanitário que venha a atender esta demanda.

Para que a gestão seja realizada de forma eficaz e condizente com as demandas de cada município, faz-se necessária a atualização periódica e acessível dos dados para consulta pública. No decorrer da atividade, foi evidenciada uma defasagem nos dados disponibilizados pelas instituições de saúde.

Outro conflito observado, como resultado dessa pesquisa, foi o distanciamento dos municípios e dificuldade de acesso devido à geografia da região. Como consequência, dentre as principais causas de mortalidade no interior do Amazonas, o maior número de causas de mortes se dá pela falta de assistência médica especializada e da indisponibilidade de exames diagnósticos específicos. Assim, verificou-se a importância em coletar esses dados para evidenciar as necessidades particulares de cada município e direcionar as políticas de saúde a fim de estabelecer maior qualidade no atendimento e eficácia no acesso à Saúde para essas populações. Por fim, foi observada a clara necessidade de mais estudos na área de gestão, no que tange a situação de saúde dos municípios do Amazonas, para que políticas públicas possam ser formuladas conforme as demandas específicas de cada local.

CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Os objetivos da atividade foram alcançados e pode-se concluir que as ações de saúde, por serem hierarquizadas, têm de ser organizadas de forma que o cidadão disponha do tratamento de forma integral, num processo contínuo, com referência e contrarreferência definidos em protocolos, e que o planejamento local do município disponha de capacidade de oferta que atenda às necessidades da população, e que haja uma visão ampliada da equipe para o atendimento em saúde.

Desse modo, acredita-se na mudança do modelo de atenção, hoje focado no modelo médico assistencial no qual o paciente é identificado conforme a doença em tratamento, para um modelo centrado no indivíduo como ser social com necessidades especiais, inclusive de atendimento, conforme preconizado na Política Nacional de Atenção Básica.

Além disso, atividades como essa, desempenham um papel fundamental no crescimento do perfil profissional do egresso do curso de Medicina, o qual deve ser de um profissional com formação geral, humanista, crítica e reflexiva, capacitado a atuar, pautado em princípios éticos, no processo de saúde-doença em seus diferentes níveis de atenção, com ações de promoção, prevenção, recuperação e reabilitação em saúde, na perspectiva da integralidade da assistência, com senso de responsabilidade social e compromisso com a cidadania, como promotor da saúde integral do ser humano.