Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Desafios da Assistência aos pacientes com Ansiedade e Depressão no município de Itapiranga durante a Pandemia de COVID-19
Samara Santos Nascimento Torres, Luisa Tiemi Tuda, Sandro Adriano de Souza Lima, Deise Andrade Melo, Emanuelly Maria Lima Barbosa, Antônio de Pádua Quirino Ramalho

Última alteração: 2022-01-24

Resumo


APRESENTAÇÃO: A ansiedade e depressão são transtornos de grande prevalência na sociedade contemporânea. A classificação dos transtornos mentais mais usadas atualmente são as preconizadas pela Classificação internacional de Doenças da Organização Mundial da Saúde (OMS), e pelo Manual Diagnóstico e Estatístico da Associação Americana de Psiquiatria (DSM-V). É sabido que é papel do profissional da saúde mental ajudar o paciente na identificação dos casos em que os sinais e sintomas se tornam característicos de transtornos mentais.

A ansiedade é definida como um afeto desagradável de inquietação, apreensão, insegurança associado a uma série de queixas somáticas tais como: taquicardia, sudorese, vasoconstrição, taquipneia, dores musculares, tremores, calafrios, adormecimentos e sensação de sufocamento. Segundo a OMS, o transtorno afeta 264 milhões de pessoas ao redor do mundo.

Outrossim, a depressão pode se apresentar de múltiplas formas, trazendo sintomas como: autodesvalorização, ideias de morte, humor depressivo, sentimento de culpa, queda da concentração e memória, abulia, irritabilidade; além de sintomas somáticos como: alterações do sono, apetite e peso, diminuição da libido e dores. Segundo estimativas da OMS, a depressão é um problema global, afetando mais de 320 milhões de pessoas, cerca de 4% da população mundial.

O Brasil tem sofrido fortemente com os transtornos supracitados. A OMS afirma que o país é o maior com taxa de pessoas ansiosas no mundo, e o quinto com casos de depressão, sendo o maior em número de casos na América Latina. Cerca de 9,3% dos brasileiros têm algum transtorno de ansiedade, enquanto que a depressão afeta 5,8% da população, tendo como fatores de risco a situação econômica do país, as desigualdades sociais e o nível de pobreza.No estado do Amazonas, os transtornos têm uma taxa de incidência de 2,7% na população, segundo o Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde.

Diante da pandemia do novo coronavírus, a preocupação da Saúde Pública é ainda maior devido às dificuldades de controlar os episódios de crises de ansiedade e depressão. Quando comparados às condições normais, o risco de sequelas resultantes dos desajustes mentais é muito mais significativo durante esse período de quarentena. Diante do elencado, o estudo teve como objetivo estudar a discrepância da demanda de pacientes com sofrimento mental frente à oferta de serviços de assistência psicológica em um município do Amazonas no período da pandemia.

DESENVOLVIMENTO: Foi um estudo secundário que se deu por meio de uma revisão sistemática de cunho exploratório em bases de dados do governo relacionadas à saúde mental. A pesquisa ocorreu por meio da busca de dados sobre a demanda de atendimentos e profissionais na área de saúde mental e o funcionamento desta assistência em tempos de pandemia. Ademais, explorou os reflexos da carência desse amparo no âmbito sociopsicológico no município de Itapiranga, interior do Amazonas.

A investigação ocorreu a partir de busca científica de dados em ambiente virtual e em portais do governo, sendo eles: http://www2.datasus.gov.br/DATASUS/index.php; http://cnes.datasus.gov.br/; ehttps://www.gov.br/saude/pt-br.  Utilizou-se filtro de busca entre os anos de 2019 e 2021, uma vez que a pandemia teve início em 2019.  Explorou-se as informações e dados registrados pela gestão do município nessas diversas plataformas de dados de saúde condizentes ao serviço de saúde mental ofertado para a população local de Itapiranga. E, posteriormente, houve uma análise e exposição dos pontos positivos e negativos a respeito da evolução e déficits desse serviço ao longo desse período.

Foram incluídos no estudo dados referentes ao quantitativo e atendimentos realizados pelos Centros de Atenção Psicossociais e atendimentos psiquiátricos no período da pandemia entre os anos de 2019 e 2021 no município em questão e no país, bem como dados estatísticos, dentro das bases de dados utilizadas, referentes à demanda de pacientes da saúde mental.   Outrossim, foram incluídas literaturas com análises referentes à falta de atendimentos destinados à saúde mental e suas consequências sociopsicológicas. Foram excluídos dados que iam de encontro nas diferentes bases de dados e aqueles que acabaram comprometendo a análise estatística.

RESULTADOS: Durante a pesquisa nas plataformas como Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS) e Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), esperava-se encontrar dados que evidenciassem as possíveis limitações da assistência aos pacientes de Itapiranga, a partir de informações como a demanda de pacientes no período de pandemia, disponibilidade profissionais especializados e locais para acolhimento ou transferência em caso de complicações, no entanto, foi observado uma escassez de referências comprobatórias da situação real dos cidadãos do município.

Os atendimentos psiquiátricos realizados durante o período da pandemia no território nacional, 2020, no SUS, em comparação com um ano antes, 2019, é perceptível notar uma diferença de 28.504 mil atendimentos em psiquiatria no ano de 2019 para 23.074 em 2020. Portanto, houve uma redução de aproximadamente 20% nos atendimentos.

Entretanto, essa média de atendimentos em 2019 ainda seriam insuficientes para a demanda gerada nas informações do Caderno de Atenção em Saúde: Saúde Mental do Ministério da Saúde de 2013, que indicam que mais de 10% dos brasileiros têm algum transtorno de ansiedade e 6% sofrem depressão. Dessa forma, seriam necessários mais de 1 milhão de atendimentos para cobrir toda a população brasileira. Logo, a redução de atendimentos na pandemia limitou o acesso de portadores de ansiedade e depressão em um cenário já com dificuldades evidenciadas.

No estado do Amazonas, onde o município de Itapiranga está localizado, os transtornos têm uma taxa de incidência de 2,7% na população, segundo o DATASUS. Portanto, a carência de dados oculta a necessidade de aproximadamente 10 mil habitantes residentes do município. Desse modo, conforme há baixa oferta de atenção especializada e equipes preparadas para o acolhimento de pacientes, é notório que o falta de dados é decorrente de subregistros, o que, consequentemente, agrava o estigma das doenças mentais e mascara real necessidade de ações nesse setor, como treinamento especializado, programas de acolhimento.

Acerca da lista de espera para atendimentos psiquiátricos no município em questão, não há dados exatos a respeito. Os únicos índices fornecidos consistem em número total de solicitações de atendimentos e número total de atendimentos realizados, entretanto uma simples operação matemática com tais dados não resultaria no número de pacientes em fila de espera, pois podem haver intercorrências externas que influenciem no número de pessoas não atendidas, sendo necessário, maiores pesquisas.

Dessa forma, apesar de dados da Associação Brasileira de Psiquiatria afirmarem aumento superior a 40% de atendimentos na pandemia, assim como agravamento de 82% dos quadros psiquiátricos, o maior atual desafio do município de Itapiranga na assistência à pacientes portadores de ansiedade e depressão é a catalogação de informações essenciais para a tomada de atenção dos gestores de saúde e governantes para essa área.

CONSIDERAÇÕES FINAIS: Diante dos resultados obtidos, é notado a necessidade de maiores pesquisas e análises sobre o acesso ao atendimento psiquiátrico no Amazonas, e principalmente no município de Itapiranga, visto que, apesar do acesso rodoviário à cidade e a localização relativamente perto da capital, não há dados suficientes para a realização de investigações de possíveis necessidades para ações de intervenção e melhorias.

Dessa maneira, para continuar o avanço na prevenção ao risco ao suicídio e complicações de doenças psiquiátricas, urge-se a maior propagação de estudos e campanhas que englobem todo território nacional de patologias que são fatores de risco para o agravo da saúde mental, a ansiedade e depressão a fim de introduzir um acolhimento e seguimento especializado aos pacientes.