Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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O olhar de bell hooks para pensarmos a educação e a saúde da população negra
Dyana Helena Souza

Última alteração: 2022-01-18

Resumo


APRESENTAÇÃO

Este resumo integrou uma pesquisa de mestrado em Saúde Coletiva, que teve como objetivo: produzir evidências sobre a implementação da saúde da população negra na formação dos profissionais da saúde nos cursos de graduação em saúde de uma universidade pública brasileira da Região Centro-Oeste. O estudo de natureza qualitativa, com abordagem metodológica do tipo pesquisa-intervenção, realizou oficinas com os membros dos Núcleos Docentes Estruturantes dos cursos selecionados para dialogar e trocar experiências sobre como a saúde da população negra tem sido abordada na formação das e dos discentes.

Há movimentos de reformulação curricular para tensionar, no cenário brasileiro, a formação em saúde de caráter fragmentado e com foco no modelo biomédico. Essas mudanças podem ser percebidas nas reformulações curriculares de cursos, como Saúde Coletiva, Enfermagem e Medicina, especialmente nas suas Diretrizes Curriculares Nacionais e nos Projetos Pedagógicos, mas ainda há um desafio na implementação dessas no cotidiano das instituições de ensino.

As motivações para realização da dissertação, partiram de uma pesquisadora negra implicada, que, a partir de uma postura ético-política, defende e adota a Epistemologia Feminista Negra enquanto implicação epistemológica.  É objetivo deste resumo refletir, a partir desse referencial, sobre as contribuições e visões de mundo de teóricas do feminismo negro- destacando bell hooks- sobre as implicações da inserção da saúde da população negra na formação dos cursos de graduação em saúde, dialogado com os ensinamentos partilhados pela autora. Na primeira parte, apresenta-se o Feminismo Negro para compreensão dos sistemas de dominação e opressão, que consequentemente moldam a estrutura e o ensino das nossas universidades. Na segunda parte, discutem-se aspectos sobre a saúde da população negra e sobre a educação como prática de liberdade.

DESENVOLVIMENTO

bell hooks, mulher negra, nasceu em 1952 em Hopkinsville, cidade dos Estados Unidos, durante o período de segregação racial. Formada em literatura pela Universidade de Stanford, fez mestrado na Universidade de Wisconsin e doutorado na Universidade da Califórnia. É uma importante intelectual, teórica feminista, crítica cultural e autora de mais de 30 livros. Têm publicações de diferentes gêneros, como críticas culturais, memórias pessoais, poesias e livros infantis. Suas obras abordam os temas de gênero, raça, classe, espiritualidade e ensino. bell hooks partiu em 15 de dezembro de 2021, mas sempre se fará presente em nossas resistências.

O pensamento feminista negro, enquanto outro caminho para contrapor às verdades que são ditas como universais, coloca a subjetividade das mulheres negras no centro de suas análises. Faz, ainda, uma abordagem situada em um contexto de dominação, no qual há diferentes padrões de opressões intersectadas. Pensando sobre esse contexto de dominação, bell hooks reflete sobre como nós, mulheres negras, temos a nossa voz silenciada. Por isso, há necessidade de moldar a teoria feminista.

É interessante como a autora fala sobre a sua consciência da luta feminista que foi estimulada pela circunstância social, vivenciando a tirania patriarcal e questionando a dominação masculina. Assim, a partir de nossas experiências de vida, também desenvolvemos estratégias de resistência.

Contando sobre sua vida e os desafios de habitar a comunidade acadêmica, bell hooks, discorre a respeito da trajetória que a fez tornar-se uma intelectual. Ela, a partir da compreensão do seu destino e da aproximação com um pensamento analítico crítico, percebeu que essa seria uma estratégia de sobrevivência e refúgio e de compreensão de sua realidade. É nesse sentido que ela evidencia o desafio de mulheres negras que trabalham como acadêmicas, discutindo sobre a solidão nos espaços universitários. Considerando a população negra como sujeito que constrói suas próprias histórias, a autora do presente resumo é uma mulher negra que habita o espaço universitário e que tem se preocupado com a forma na qual a universidade tem reproduzido um pensamento e ensino colonizados.

RESULTADOS

Por meio das suas reivindicações, o movimento negro, enquanto sujeito social e político, conquistou espaços a partir do seu reconhecimento pelo Estado, impulsionando mudanças, por exemplo, nas universidades públicas com o processo de implantação de políticas e práticas de ações afirmativas destinadas à população negra. Também tem sido pauta de reivindicação, a construção e publicização de estudos sobre as condições sociais da população negra, como uma das estratégias para impulsionar políticas em direção à equidade racial e denunciar o Racismo Institucional.

Nesse sentido, a Política Nacional de Saúde Integral  da  População  Negra enfatizou a necessidade da inclusão dos temas “Racismo e Saúde da População Negra”  nos  processos de  educação  permanente  dos  trabalhadores  da  saúde,  e ainda, que esteja em articulação com  a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde.  Mas como pensar nessa articulação, considerando o Racismo Institucional e seus impactos no SUS?  Para auxiliar essa articulação é importante implementar as “Diretrizes  Curriculares  Nacionais  para  a Educação das Relações  Étnico-Raciais  e para  o Ensino de História e Cultura AfroBrasileira e Africana”, que situam a configuração do racismo e do epistemicídio no âmbito político, cultural e pedagógico da sociedade. Pensando no âmbito pedagógico, bell hooks, na obra “Ensinando a Transgredir:  educação como prática de liberdade”, nos ajuda a refletir sobre esse tema.

bell hooks nos faz refletir sobre a educação na perspectiva de criação de espaços para a valorização dos saberes da população negra e sua realidade. Ela traz reflexões sobre a prática crítica pedagógica,  pensando  a  necessidade de transformar as práticas de ensino, pois, a educação está numa grave crise!

A autora menciona sua trajetória enquanto mulher negra e professora universitária, saudando àquelas professoras negras que a antecederam e a inspiraram pela busca de uma educação libertadora. Questiona o sistema educacional, no qual há uma relação de hierarquização entre professor e aluno e, ainda, o fato de que os alunos sejam apenas ouvintes em um espaço de exercício de poder e da autoridade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É preocupante o atual cenário de desmonte da educação. Percebe-se, como afirma hooks, que há um acirramento das questões sociais, políticas e culturais que têm buscado deslegitimar os saberes tradicionais e frear iniciativas que visem à transformação dos espaços educacionais. Por meio de contrarreformas, medidas verticalizadas, sem diálogo com a comunidade e que censuram, têm sido aprovadas.

A autora, porém, compartilha o seu compromisso com uma pedagogia engajada, afirmando que o currículo precisa ser transformado para não reforçar os sistemas de dominação e a fazer de sua prática de ensino, um foco de resistência.