Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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DESAFIOS DOS REGISTROS DE CÂNCER DURANTE PANDEMIA SOB A PERSPECTIVA DE ACADÊMICOS E PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM
Bianca Silva de Brito, Hemilly Vasconcelos de Miranda Silva, Luciana Ferreira dos Santos, Lucrécia Aline Cabral Formigosa

Última alteração: 2022-01-27

Resumo


INTRODUÇÃO: As neoplasias malignas são consideradas um problema de saúde pública em todo o mundo, estando entre as quatro principais causas de mortalidade em pessoas em adultos. Globalmente, as informações sobre a incidência de câncer são produzidas pelos Registros de Câncer de Base Populacional, os quais deveriam abranger o território nacional, entretanto, em países em desenvolvimento incluem áreas selecionadas, especialmente as urbanas. Em 2010, atingiam apenas 17,5% da população mundial. Os registros de câncer são primordiais no controle e monitoramento da doença, contribuindo desde a determinação de variações geográficas até o entendimento das possíveis causas, por meio do desenvolvimento de pesquisas epidemiológicas e clínicas, assim como de avaliação e monitoramento dos programas de prevenção e controle. Na América Latina, são poucos os registros de câncer com elevado desempenho, o que interfere negativamente no monitoramento das políticas públicas voltadas ao controle da doença. No Brasil, existem 32 RCBP implantados, a maioria deles nas capitais, onde são realizadas a coleta, análise e classificação das informações referentes à incidência de câncer, permitindo descrever e acompanhar o perfil de incidência do câncer em uma população geograficamente definida. No Pará, está implantado e em funcionamento um RCBP, com área de abrangência dos municípios de Belém e Ananindeua, o que representa o monitoramento em aproximadamente 25% da população da região e cuja base de dados conta com uma série histórica dos anos de 1996 a 2017. Nele, são coletadas informações sociodemográficas do paciente e informações referentes ao tumor, as quais são oriundas de múltiplas fontes: hospitais, clínicas, laboratórios e declarações de óbitos, e informatizadas através do sistema SisBasepopWeb (BPW), desenvolvido e disponibilizado pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA), para estruturação da bases de dados e gerenciamento do processo de coleta e produção de informações. O processo de coleta de dados pode ocorrer de forma ativa ou passiva, em ambos os casos cabe aos registradores a responsabilidade pela identificação de todos os tumores malignos diagnosticados no ano definido, adotando condutas padronizadas, sem as interpretar, modificar, fazer inferências ou interpretações. Procede-se à coleta passiva quando as informações são cedidas pelas instituições de saúde, por mídia eletrônica, enquanto que é ativa requer a presença periódica e rotineira nas fontes externas, havendo a necessidade de atuação presencial e manuscrita da coleta. A coleta de dados deve ser previamente agendada entre o registrador e a fonte notificadora, para que o trabalho seja realizado em horário compatível com a rotina de cada fonte. Nesse contexto, em março de 2020, foi declarado estado de pandemia pela Organização Mundial de Saúde (OMS), ocasionado pela COVID-19, diversas medidas foram tomadas visando a contenção do vírus, instalando-se em todo o mundo ações de isolamento social e redução do fluxo presencial de pessoas em locais públicos e privados, devido à influência que as aglomerações populacionais provocam na propagação do novo Coronavírus (SARS-COV-2). O presente estudo objetivou descrever as experiências de discentes e profissionais de enfermagem para realização da coleta de dados no RCBP Belém durante período pandêmico. DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA: Trata-se de um estudo descritivo do tipo relato de experiência com abordagem qualitativa. O quadro permanente do RCBP Belém é composto por duas coordenadoras, uma enfermeira e outra médica, e um profissional de nível médio, responsável pela digitalização dos dados coletados no sisbasepop. Devido ao  pequeno quantitativo de profissionais disponíveis para a atuação junto ao RCBP Belém, foi realizado um termo de cooperação com um hospital de ensino da cidade para a captação de seis discentes de graduação em enfermagem  e de um enfermeiro, para executarem a função de registradores e supervisor, respectivamente, no processo de coleta de dados nas fontes, durante 12 meses ininterruptos. Após a elevação do estado de contaminação do novo coronavírus à pandemia de Covid-19 pela OMS, todo o mundo passou a adotar medidas restritivas, visando conter a transmissão do vírus. Entre os meses de março de 2020 a dezembro de 2021, houve no estado do Pará uma série de medidas que objetivaram a contenção do vírus, dentre elas a limitação do número de pessoas em locais fechados e, inclusive, o bloqueio total de circulação de pessoas em alguns períodos considerados críticos. Tal medida propiciou a suspensão temporária de serviços públicos e privados, sendo permitido apenas o funcionamento daqueles e serviços essenciais. A aplicação de medidas restritivas provocou impacto significativo no trabalho desenvolvido no RCBP Belém, uma vez que as fontes passaram a adotar as orientações do governo estadual. Em efeito cascata, houve a limitação das atividades nas fontes; redução do quantitativo de recursos humanos, muitos deles para tratamento da doença; proibição da entrada de público externo à instituição; e, por último, interrupção das ações desenvolvidas pelos registradores. Durante os meses de pico da pandemia (março a junho de 2020) as atividades dos bolsistas foram totalmente suspensas até melhora do cenário epidemiológico, havendo um retorno gradual das atividades a partir de julho daquele ano, desempenhando-se apenas tarefas administrativas. Mediante maior controle dos casos graves e diminuição do número de mortos devido à doença, as medidas restritivas foram diminuídas propiciando o retorno das atividades externas de coleta a partir de agosto do mesmo ano, sendo adotadas todos os tipos de medidas preventivas para diminuir a chance de contágio pelo vírus, tal como o fornecimento de equipamentos de proteção individual. Encerrando-se o contrato da pesquisa em janeiro de 2021, nos meses antecedentes foi realizada a seleção das pessoas que viriam a compor a equipe de coleta e supervisão no ano seguinte. Após início da campanha de vacinação contra a COVID-19 e consequente melhora do quadro epidemiológico, as fontes tornaram-se mais flexíveis à atuação dos registradores, permitindo que fosse retomado de modo gradual a realização das coletas externas. CONSIDERAÇÕES FINAIS: A pandemia desencadeada pelos elevados índices de casos do novo coronavírus gerou impacto em todos os aspectos das sociedades mundiais, especialmente no que diz respeito ao levantamento epidemiológico de dados sobre as demais patologias. Ambos os modos de coletas apresentaram seus entraves, sendo maior, no entanto, no modo ativo, tendo em vista a resistência de algumas instituições em permitir a entrada dos estudantes para o desenvolvimento das ações, sob o temor gerado devido ao quadro de pandemia vigente.  As restrições adotadas pelas fontes de informações e as orientações do governo objetivando a contenção da doença proporcionou a estagnação da coleta de dados referentes ao diagnóstico de câncer. Contudo, mesmo diante das diversas dificuldades enfrentadas, as coletas de dados nas fontes disponibilizadas foram realizadas com êxito, havendo a conclusão da coleta de dados na maioria das fontes analisadas. Outrossim, o presente estudo proporcionou a oportunidade de reflexão acerca dos impactos que uma pandemia pode provocar aos serviços de saúde e sua influência nas demais patologias, tal qual gerando comprometimento no levantamento de dados dessas.