Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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AUTONOMIA, TROCA E VIVÊNCIA: INTERAÇÃO DE SABERES ENTRE A EDUCAÇÃO BÁSICA CAMPONESA E A GRADUAÇÃO EM MEDICINA.
LIVIA DE OLIVEIRA SABIONI

Última alteração: 2022-01-19

Resumo


APRESENTAÇÃO

Trata-se de um relato de experiência sobre vivências de estudantes de medicina da Universidade Federal da Fronteira Sul  Campus Passo Fundo (UFFS/PF) junto aos territórios de assentamentos rurais com crianças e adolescentes de Escolas de Educação do Campo, em especial,  as Escolas 29 de Outubro e Olavo Bilac no município de Pontão/RS.

Com objetivo de desenvolver um processo educativo de promoção da saúde, da equidade, proteção de doenças e agravos em crianças e adolescentes a partir da educação popular em saúde, estudantes de medicina da UFFS realizaram ações educativas em assentamentos da Reforma Agrária.

Os acadêmicos de medicina tiveram a oportunidade de desenvolver o exercício da comunicação, da interação e do aprendizado com base na experiência de intervenção na realidade através das vivências com criticidade e empatia.

Nesse sentido, trabalhou-se com as crianças e adolescentes envolvendo a consciência em saúde, abordando a importância do Sistema Único de Saúde na prática cotidiana com as seguintes atividades: “Cuidado com o Corpo e Higiene Pessoal”, “Prevenção de Arboviroses” inspirados no "Hospital do Ursinho” e “Corpo, Sexualidade e Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST's)”.

 

DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO

A Universidade Federal da Fronteira Sul possui o Componente Curricular de Saúde Coletiva em todas as fases do Curso de Medicina, até o final da graduação. Nesse sentido, esse Componente Curricular é responsável pela integração ensino-serviço-comunidade, através das vivências/imersões dos acadêmicos e docentes no cotidiano do SUS, seus serviços, equipes, territórios e comunidades, o que enriquece e diversifica sua perspectiva sobre a profissão. Assim, os acadêmicos da Fase I tiveram seu primeiro contato com crianças e adolescentes numa dinâmica de atividades em escolas do campo de ensino fundamental de um município do interior gaúcho que se originou em função dos assentamentos da Reforma Agrária.

As ações foram pactuadas entre as Secretarias da Saúde e da Educação do município de Pontão/RS onde as escolas em territórios das duas Estratégias Saúde da Família com a  definição conjunta dos temas necessários a serem abordados com crianças e adolescentes.

Assim,  durante os encontros de Saúde Coletiva foram organizados três grupos temáticos para preparar e desenvolver as atividades: Cuidado com a higiene Pessoal, Prevenção de Arboviroses com o Hospital do Ursinho e Corpo, Sexualidade e IST. Os estudantes tiveram autonomia para escolher seus grupos, pensar a abordagem, conteúdo e dinâmicas, apenas orientados pela professora.

Dessa forma, o grupo da higiene pessoal se dividiu em sub-temas principais: lavagem de mãos, saúde bucal, cuidado com o corpo, prevenção e cura de piolhos. Todas as abordagens buscaram acolher as crianças para fazê-las sentirem-se confortáveis, como rodas de apresentação, caixas de perguntas e brincadeiras. Em seguida, elas foram envolvidas em dinâmicas vivenciais de como fazer a lavagem correta das como mãos e também receberam orientações de prevenção de piolho e escovação de dentes. Ainda, foram utilizados materiais de apoio  como vídeos e imagens.

Além disso, inspirados numa atividade lúdico chamada “Hospital do Ursinho” que vem sendo desenvolvida na UFFS desde 2013já que consiste em trabalhar a realidade do atendimento médico com as crianças, para que elas possam superar medos e compreender a importância do cuidado à saúde. Nesse sentido, está atividade lúdica simuka um espaço de cuidado à saúde e conta com uma mãe e pai representados por ursos de pelúcia, que dão origem a um ursinho também de pelúcia que é dado para cada criança. Assim, ela se torna responsável por ele, escolhe um nome para identificação e passa em cada estação de cuidado do Ursinho desenvolvida pelos acadêmicos de medicina, que faz representações de triagem, exames físicos, realização de exames específicos e, ainda, simulam o diagnóstico de dengue para orientar sobre a doença, prevenção e tratamento específico relacionado às arboviroses.

Destarte, os estudantes de medicina praticaram a transformação da linguagem acadêmica em uma abordagem compatível com crianças de variados comportamentos e realidades. Outrossim, enquanto elas se encantavam pelos ursinhos, pelo carinho recebido, também foram compreendendo sobre procedimentos que poderão passar no futuro.

Ademais, o grupo de “Corpo, Sexualidade e IST” discutiu as mudanças no corpo durante a puberdade, a sexualidade numa perspectiva de autoconhecimento, diversidade e respeito, além das Infecções Sexualmente Transmissíveis na visão preventiva. A execução dessa atividade envolveu apresentação de multimídia, caixa de perguntas anônimas, roda de conversa, além de uma dinâmica que trabalhou a IST e gravidez precoce.

Por fim, em cada escola, ao final das atividades, construiu-se um espaço entre os estudantes da UFFS, a professora orientadora, a equipe escolar, e os profissionais da saúde do município que acompanharam as atividades, de avaliação. Esse espaço consistiu-se em uma troca sincera de expectativas sobre a experiência, e quais foram ou não atendidas, e quais foram ultrapassadas.

 

RESULTADOS E IMPACTOS

A vivência/imersão possibilitou o estabelecimento e fortalecimento de relações com algumas comunidades da região próxima à universidade, executando e comprovando o pilar da extensão articulado com o ensino e a pesquisa e cultivando espaço para novas pesquisas. O retorno foi de uma ação realizada com êxito em movimentar as escolas, trazer novas reflexões, integrar a educação superior em medicina à educação básica infantil, envolvendo agentes da saúde e outros profissionais da saúde e educação da região. Além de despertar nos graduandos a concepção de uma medicina popular, que esteja nas escolas, feiras, movimentos sociais, cidades e campos.

Além disso, a vivência propiciou, para muitos, o início de um desenvolvimento de consciência em saúde já na infância e adolescência, o que na maior parte da população brasileira não possui nem na vida adulta. Assim, essa consciência percebe a saúde como universal e essencial ao combate das desigualdades - como pilar da democracia -, também em uma proteção objetiva e subjetiva dos indivíduos.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As discussões construídas caminharam para o rompimento de estigmas sociais, que proporcionaram perceber situações de LGBTfobia e desigualdade de gênero nas escolas que foram discutidas para encaminhar em conjunto com representante da equipe de saúde regional, professora orientadora da atividade e equipe psicopedagógica da escola.

Portanto, a vivencia/imersão estabeleceu redes de comunicação de diferentes grupos, reflexões das relações em escola e da construção de um profissional de medicina humanizado, crítico e completo, que ao invés de idealizar pôde conhecer a realidade e pensar a partir do popular.