Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS DA TUBERCULOSE EM UM MUNICÍPIO DO INTERIOR DA AMAZÔNIA: UM ESTUDO RETROSPECTIVO
Gabriel Cunha da Silva, Matheus Sallys Oliveira Silva, Fabiane Correa do Nascimento, Miriam Souza Oliveira, João David Batista Lsibôa, Ana Beatriz de Sena Pantoja, Micaela Vitória Costa Furtado, Bruno Abilio da Silva Machado

Última alteração: 2022-01-17

Resumo


INTRODUÇÃO: A tuberculose (TB) é uma patologia infectocontagiosa provocada pela Mycobacterium tuberculsis, também conhecida como bacilo de Koch, um gênero de actinobactérias bacilares, aeróbicas obrigatórias de alta patogenicidade. Há registros que datam a ocorrência da TB desde o período pré-histórico. Sendo assim, podem ser destacados alguns fatores de risco para o desenvolvimento da doença, entre eles estão a idade, casos de imunossupressão, diabetes, convivência com pessoas infectadas pelo bacilo, alcoolismo, tabagismos e uso de drogas ilícitas. Nesse contexto, considerada um importante problema de saúde pública, em 2019 a TB foi a causa de 1,2 milhões de óbitos no mundo, 4,5 mil mortes no Brasil e 255 óbitos no estado do Pará. A transmissão na maria das vezes ocorre por via aérea, de um paciente contaminado a uma pessoa sadia que inala as gotículas infectadas. Outra possibilidade de transmissão, porém, menos frequente, é a incubação direta da bactéria em um tecido lesionado, como a pele. Sua sintomatologia envolve tosse seca, escarro com sangue, dor no peito, fadiga, emagrecimento rápido, febre e suor noturno. Nesse interim, o diagnóstico da TB pode ser realizado através da anamnese e exames laboratoriais como a baciloscopia, teste rápido molecular para tuberculose e cultura da bactéria. O tratamento da doença requer o uso de antibioticoterapia por no mínimo 6 meses, sendo a rifampicina, isoniazida, pirazinamida e etambutol, os medicamentos mais utilizados nesse tratamento. Diante do exposto, e considerando-se a importância da TB e de seus impactos na saúde da população, justifica-se a efetivação de estudos epidemiológicos a respeito, para melhor compreender os fatores determinantes e condicionantes envolvidos nessa patologia. Dessa forma, determinou-se o seguinte problema de pesquisa: qual o cenário epidemiológico dos casos de tuberculose em Santarém- Pará em um período de dez anos? OBJETIVO: Investigar os aspectos epidemiológicos das notificações de tuberculose em Santarém-PA, entre os anos de 2011 a 2020. METODOLOGIA: Trata-se de um estudo descritivo, quantitativo e retrospectivo. Utilizou-se o Sistema de Informações de Agravos de Notificações (SINAN) do Ministério da Saúde, disponíveis no Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS), para coleta de dados. Os critérios de inclusão foram: casos notificados com confirmação diagnóstica. Contudo, foram excluídos da pesquisa todos os casos que, apesar de notificados estavam sem confirmação diagnóstica e com inconsistências em seu registro. Delimitou-se o recorte temporal ao período de 2011 a 2020, analisou-se as notificações dos casos de TB no município de Santarém, que está situado na região oeste do Pará e é pertencente a de saúde do Baixo Amazonas, possui população estimada em 308.339 habitantes e extensão territorial de 17.898,389 quilômetros quadrados. A região em que Santarém situa-se, caracteriza-se pelas condições socioeconômicas menos favorecidas, apresentando carência no desenvolvimento, além de abranger uma grande extensão territorial e baixa densidade demográfica, fatores esses, colaborativos para a evolução da doença. Os dados foram tabulados através das variáveis: sexo, faixa etária, raça, escolaridade, zona de residência e forma clínica, com uso do software Microsoft Excel 2019, utilizou-se cálculos, construções de tabelas e gráficos para análise estatística descritiva simples. Realizou-se uma fundamentação teórica, no mês de janeiro de 2022, nas bases de dados: Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), e bibliotecas:  Scielo e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), aplicando-se os descritores controlados DeCs e MeSH: " Infecção por Mycobacterium tuberculosis", "TB" e "Fármacos Antituberculosos", inseridos de forma combinada em português com os conectores "e" e "ou”, em inglês com os operadores booleanos controlados "AND" e "OR". Assim, este estudo baseou-se em informações secundárias disponíveis em plataformas de domínio público, não sendo necessário, a apreciação junto ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP). Entretanto, seguiu-se, todos os cuidados éticos e legais que permeiam a Resolução 466/12, do Conselho Nacional de Saúde. RESULTADOS E DISCUSSÃO: O estudo identificou 1.414 notificações de TB em Santarém. Os dados mostraram que 889 (62,87%) das pessoas infectadas eram do sexo masculino. Esse achado possui relação com a pouca procura pelos serviços de saúde, além de maior vulnerabilidade de adoecimento em decorrência do risco de etilismo e uso de drogas. Além disso, este perfil está em consonância com o nacional, em que a TB se mostrou mais frequente na população masculina. Quanto à faixa etária, predominou a dos indivíduos entre 20 a 39 anos, 586 (41,44%), seguida por 40 a 59 anos 406 (28,71%), 60 e mais anos 273 (19,31%) e 0 a 19 anos com 149 (10,54%) dos casos. Um alto acometimento em pessoas de 20 a 39 anos, está relacionada a uma maior atividade dos indivíduos neste período da vida, onde são considerados economicamente ativos, estando assim, mais expostos ao risco de contaminação pela doença. Outrossim, este achado concorda com estudo realizado nas regiões de integração do estado do Pará entre os anos de 2009 a 2020 em que 84,9% dos casos também eram de indivíduos dessa faixa etária. Nesta pesquisa, contatou-se que a raça parda foi mais prevalente, com 1.142 (80,76%) registros. Em estudo realizado no estado do Piauí entre 2015 a 2020, percebeu-se que a maior prevalência da TB também foi em indivíduos autodeclarados pardos. Outra hipótese para tal achado, é a grande miscigenação da população brasileira. No que tange a escolaridade, 574 (40,59%) possuíam o ensino fundamental incompleto. Bem como, a indicativos da falta de entendimento e orientações adequadas para esse público, sobre os cuidados, tratamento e meios de prevenção da doença, deixando-os assim, mais vulnerável à infecção. Os resultados encontrados nesta pesquisa, sobre a escolaridade, também foram compatíveis com estudo realizado no estado da Bahia, no período de 2008 a 2018. Em relação a zona de residência, 1.075 (76,03%) dos indivíduos residiam na urbana, confirmando o caráter urbano da doença.  Isso, justifica-se em virtude da zorna urbana possuir um maior aglomerado de pessoas, facilitando assim a disseminação e ocorrência da TB. Além do mais, pode destacar as condições socioeconômicas das populações habitantes nessa zona de residência, que em muitos casos, são pessoas com baixo nível de escolaridade e condição econômica. A forma clínica que predominou neste estudo foi a pulmonar, com 1.153 (81,54%) notificações. Diante disso, é frequente a ocorrência de TB pulmonar, visto que, a principal forma de transmissão da patologia se dá por meio de aerossóis, fala, espirro ou tosse de pacientes contaminados. Vale destacar, que a TB pulmonar se apresenta de significativa importância para a saúde pública, por ser esta forma, responsável pelo ciclo de transmissão da doença. CONCLUSÃO: A TB apresentou taxa significativa de incidência neste município, principalmente a sua forma pulmonar. Acometendo os indivíduos do sexo masculino, de cor parda e com baixo nível de escolaridade, residentes na zona urbana. Dessa forma, os achados deste estudo, reforçam a necessidade de novas pesquisas para compreensão dos fatores envolvidos no ciclo da TB. Nesse ensejo, a análise do perfil epidemiológico realizada nesta pesquisa, permitirá a detecção do comportamento da TB, e pode colaborar para o desenvolvimento de estratégias voltadas para o controle e enfrentamento dos fatores determinantes e condicionantes da TB no município em questão, além de auxiliar os gestores em saúde pública, no melhor direcionamento dos recursos, e assim, proporcionar uma melhora na qualidade de vida da população exposta.