INTRODUÇÃO: A Organização Mundial de Saúde (OMS) define saúde como sendo o estado de completo bem-estar físico, mental e social, conceito este oposto ao concebido pelo modelo biomédico de atenção à saúde que foca apenas na doença e nos fatores biológicos do indivíduo, desconsiderando os demais aspectos. Quando se observa o ser humano de modo holístico, como um ser biopsicossocial, pode-se notar que a manutenção da saúde sofre influência dos mais diversos meios, sejam eles internos ou externos, daí a importância de se considerar todos os fatores que podem influenciar no processo saúde-doença. É notório que existem na sociedade brasileira estereótipos de gênero, enraizados há séculos na cultura patriarcal, que potencializam práticas baseadas em crenças e valores do que é ser masculino, o que por vezes diminui a resolutividade da atenção primária em decorrência do elevado quantitativo de pessoas nas unidades básicas de saúde a procura apenas de tratamento, reabilitação e cuidados paliativos, negligenciando a promoção à saúde, assim como a prevenção de agravos. Especificamente, no que diz a respeito à saúde do homem, é possível verificar um descaso ainda maior com a saúde, oriundo tanto de uma negligência pessoal quanto social, especialmente, quando em detrimento de estabilidade financeira e porte social. A realidade singular masculina, produziu um cenário de alto índice de mortalidade precoce, devido a doenças crônicas não transmissíveis, evitáveis através da regularidade de medidas preventivas. A resistência masculina à atenção primária aumenta não somente a sobrecarga financeira da sociedade, mas também, e, sobretudo, o sofrimento físico e emocional do paciente e da família, na luta pela conservação da saúde e da qualidade de vida dessas pessoas. A partir desta constatação e da análise das variáveis socioculturais e determinantes sociais, o Ministério da Saúde instituiu a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem, com o objetivo de alcançar esse público em suas condições reais de existência, valorizando, fundamentalmente, a educação como importante estratégia para promover mudanças comportamentais indispensáveis à consolidação de um novo paradigma baseado na atenção integral. Neste contexto, o objetivo do presente trabalho é relatar a experiência de discentes de enfermagem no processo de promoção à saúde de trabalhadores masculinos em construção civil, no município de Belém/PA. DESENVOLVIMENTO: Trata-se de estudo descritivo com abordagem qualitativa no formato de um relato de experiência acerca de ações educativas alusivas aos cuidados à saúde do homem, direcionadas a trabalhadores da construção civil. As ações ocorreram durante dois dias não consecutivos em obras, espaços de trabalho desse público, promovidas por estudantes de enfermagem, acompanhados por uma profissional de psicologia da Coordenação Estadual de Atenção Oncológica da Secretaria de Saúde do Estado do Pará. Estavam presentes nas ações cerca de trinta homens com idades entre 20 e 60 anos, que ficaram dispostos em formato de meia lua, e participaram, primeiramente como ouvintes e, posteriormente, como questionadores e demandantes de serviços ofertados na ocasião. Desenvolveu-se um material no software Microsoft PowerPoint com o fito de ilustrar e fornecer suporte ao conteúdo que seria discutido, sendo, inicialmente, abordada a questão da susceptibilidade dos homens ao adoecimento causado por maus hábitos de vida e a sua frequente resistência em procurar serviços e cuidados de saúde, sob a vista de pressão social e preconceitos acerca desses cuidados estarem relacionados à fragilidade, característica que apresenta, socialmente, caráter desvinculado do gênero masculino. Foram, também, mencionadas as consequências desse comportamento, refletidas no desenvolvimento de doenças crônicas, especialmente o câncer de próstata e de pênis, havendo a explicitação de questões epidemiológicas relacionadas a essas neoplasias, como as estimativas de incidência e as taxas de mortalidade nos últimos anos e o perfil de pessoas mais acometidas por esses tumores malignos. Ademais, foram explicadas noções sobre a anatomia genital masculina, o processo de senescência e senilidade, que ocorre no decorrer dos anos, sendo exemplificado o aumento da próstata e outras ocorrências às quais deveria ser direcionada maior atenção, como a hiperplasia da próstata e a sua inflamação. Após isso, houve a demonstração dos estágios de desenvolvimento dos cânceres de próstata e de pênis, incluindo a fase in situ e a progressão para metástases, além das principais manifestações clínicas, formas de diagnóstico e de tratamento. Ademais, houve o alerta acerca da necessidade da adoção de hábitos saudáveis de vida, como a aplicação e manutenção de boa higiene diária, alimentação balanceada, prática de atividades físicas, consoante a realidade desses trabalhadores, considerando a rotina exaustiva de labuta enfrentada por eles. Ocorreu também a orientação sobre as formas de rastreamento do câncer de próstata (PSA - Antígeno Prostático Específico - e toque retal), sobre os quais houve a sensibilização e discussão do extremo preconceito existente acerca de sua realização. No primeiro dia de ação, realizou-se uma dinâmica de mitos e verdades sobre o adoecimento pelas neoplasias de próstata e pênis e os cuidados em relação a eles, sendo baseados, principalmente, em inverdades disseminadas socialmente, possuindo como objetivo analisar, reiterar e fixar as informações compartilhadas durante a ação. Posteriormente, oportunizou-se o cadastro para a realização de PSA e exames complementares pela rede pública de saúde, havendo uma grande demanda de busca pelos ouvintes. No segundo dia de ação, a dinâmica de perguntas ocorreu no decorrer das explicações, visando melhor esclarecimento das informações que eles já possuíam e das que estavam sendo repassadas. Para o desenvolvimento deste momento de interação levou–se em consideração os fatores sociais dos ouvintes e teve como foco primordial a identificação de como os hábitos de cuidados em saúde ocorriam e se eram eficazes ou conforme recomendado. RESULTADOS: Percebeu-se um relevante interesse do público pela temática na primeira ação, uma vez que se mostraram atentos ao que era compartilhado nas explicações e houve expressiva participação durante a dinâmica de “mitos e verdades”, durante a qual se manifestou o conhecimento dos homens sobre o conteúdo abordado. Outrossim, durante o preenchimento de fichas para o cadastro dos interessados na realização de exames ofertados, houve a manifestação de dúvidas em relação a casos de conhecidos que apresentavam sintomas semelhantes aos mencionados para os cânceres citados, ocorrendo a orientação de busca por cuidados e avaliação de profissionais nas unidades básicas de saúde. Notou-se também expressiva disposição dos participantes à realização de exames de rastreamento, justificado por muitos, pela preocupação gerada com as informações adquiridas naquele momento. Na segunda ação, boa parte dos envolvidos demonstraram estar atentos ao que foi explanado, havendo uma parte considerável que interagiu nos momentos de perguntas; entretanto, alguns mostraram-se pouco interessados em parte da exposição, no que se refere à anatomia masculina e às formas de rastreamento, possivelmente por serem questões bastante técnicas e que alguns admitiram desconhecer a presença de certas estruturas em sua anatomia, como a próstata. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Percebeu-se, desse modo, a importância do desenvolvimento de ações educacionais direcionadas ao público masculino, seja no âmbito de promoção de saúde e da prevenção de doença, ou seja no âmbito de conhecimento básico de própria anatomia. Ademais, pôde-se observar o enriquecimento que essas ações proporcionam a profissionais e estudantes da saúde, de modo a presenciarem e conhecerem melhor a realidade do público, tendo como abordagem estratégica a inserção de práticas educativas em saúde no ambiente em que se pode ter o contato com um número expressivo de homens e, dessa forma, facilitar a troca de saberes.