Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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EDUCAÇÃO EM SAÚDE: RELATO DE EXPERIÊNCIA DE UM GRUPO DE ESTUDO ACERCA DA AIDS EM MUNICÍPIO DO NORDESTE BRASILEIRO
Ana Luísa Duarte Cantanhede, William Pereira Santos, Arthur Costa Junger, Edjane Silva Araujo, Hanna dos Santos Ferreira, André Luiz Moreira de Alencar, Ana Clara Arrais Rosa, Claudia Regina de Andrade Arrais

Última alteração: 2022-02-04

Resumo


Apresentação: A pandemia de HIV/AIDS, apesar dos avanços biomédicos nas últimas décadas, continua tendo importâncias social, epidemiológica e biológica. Dados recentes da UNAIDS (2020) mostram a prevalência do quadro ao registrar o total de 36,7 milhões de Pessoas Vivendo com HIV (PVHIV) no mundo. No Maranhão, no período de 2007 a 2019, a prevalência de HIV/AIDS colocou o estado como o quarto maior do nordeste brasileiro em número de novos casos de infecções por HIV notificados no Sistema de Informações de Agravos de Notificação (SINAN) (BRASIL, 2020). Na cidade de Imperatriz, no período de 1980 a 2020, foram 1574 novos casos de infecções, sendo 823 a partir de 2009, o que demonstra uma aceleração gradual do número de infectados (MARANHÃO, 2019). Nos últimos anos, intensificaram-se os debates sobre o tema, permitindo construir uma visão ampla e oportuna do Sistema Único de Saúde (SUS) e da conjuntura dos territórios onde estão inseridas as pessoas que carecem de cuidados. Considerando a realidade complexa da AIDS no Brasil, de importância biomédica e social, e as políticas de cuidado que precisam ser embasadas na ideia da integralidade para prover ações de promoção, proteção e recuperação, quebrando o estigma social associado à doença, surgiu a intenção real de realizar ações de educação em saúde no Serviço Ambulatorial Especializado (SAE), em Imperatriz. A ênfase do grupo é informar e educar as PVHIV sobre os riscos cardiometabólicos associados ao uso da terapia antirretroviral (TARV), medicamentos essenciais no combate à infecção mas que podem levar o indivíduo ao desenvolvimento de comorbidades, tendo como foco a população mencionada em acompanhamento no SAE de um município do Nordeste brasileiro, além de subsidiar processos de planejamento para prevenção, proteção e recuperação e promoção da saúde da PVHIV. Assim, o objetivo deste relato de experiência é registrar as atividades desenvolvidas por um grupo de estudo durante as atividades de referente ao projeto de extensão intitulado “PREVENÇÃO E ANÁLISE DO RISCO DA DOENÇA CARDIOMETABÓLICA EM PESSOAS VIVENDO COM HIV/AIDS EM USO DE ANTIRRETROVIRAIS”, composto por cinco graduandos de Medicina da Universidade Federal do Maranhão (UFMA/ Imperatriz), uma graduanda em Psicologia da Unidade de Ensino Superior do Sul do Maranhão (UNISULMA/ Imperatriz), e a professora supervisora das atividades vinculada ao quadro de docentes da faculdade de Medicina (UFMA/ Imperatriz). O relato foi construído com base na experiência vivida pelo grupo de estudo, além de um debatedor externo, biólogo atuante na área da saúde. A interação entre esses atores permitiu ampliar as discussões sobre formação e trabalho em saúde, desenvolvendo capacidades e experiências profissionais relevantes durante o compartilhamento da experiência e do conhecimento acumulado para reflexões, reconhecendo situações que, na prática, carecem de respostas e soluções.

Desenvolvimento: A experiência se consolidou por meio de visitas técnicas, palestras e rodas de conversa para fornecer informações aos usuários do SAE adulto acerca dos efeitos metabólicos uso de antirretrovirais (ARV) e sobre as medidas de prevenção à doença cardiometabólica e as Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST). Oportunamente, ampliam-se os encontros para abordar temas como sobre promoção da saúde. Essas atividades foram realizadas no SAE, que possui infraestrutura e aparatos tecnológicos necessários para a realização do estudo e das atividades práticas de educação em saúde. A abordagem pedagógica é inspirada em metodologias ativas de aprendizagem, com a dinâmica dos conteúdos e da prática baseada predominantemente em situações-problemas. Sob essa ótica, acredita-se que o espaço e os métodos destinados ao ensino são ressignificados com centralidade no processo de aprendizagem ativa e também nas mudanças das formas de ensinar e aprender, atendendo, dessa forma, as propostas do ensino na perspectiva freireana e da vida real. Esse exercício ofereceu condições para analisar o território e os indivíduos e grupos, percebendo os determinantes em saúde nas suas condições clínicas associadas ao tratamento a que estão submetidos, que potencializam o desenvolvimento de comorbidades cardiovasculares e metabólicas a longo prazo.

O projeto de extensão teve início em maio de 2021 e ainda permanece ativo até abril de 2022. Antes do início das atividades, o grupo passou por capacitações para que os graduandos pudessem conhecer o projeto e seu impacto social na vida das pessoas, além de oportunizar o desempenho em suas funções. Na dimensão da saúde e na jornada de formação, a importância desse exercício é a visibilidade no processo de trabalho e na própria formação, bem como na interação entre ambos. Com o advento da pandemia de COVID-19 as atividades, que foram atravessadas pela ameaça global, foram suspensas em atendimento às recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), que preveem o distanciamento espacial para conter a disseminação do novo coronavírus. No entanto, elas não foram totalmente interrompidas. Com mediações tecnológicas, acompanhando a nova dinâmica de trabalho e a interação impostas pela pandemia, parte das atividades foi realizada remotamente. Como resultado prático das atividades ininterruptas, o grupo de estudo teve a oportunidade de produzir e divulgar em eventos científicos análises incipientes adquiridas nas primeiras aproximações que tiveram ao SAE, em sintonia e em resposta aos estímulos da parceria colaborativa entre a professora supervisora da atividade e o debatedor externo, oportunizando a realização de atividades mais ativas e práticas. Por meio das análises postas ao diálogo, foi possível aprofundar a compreensão teórica sobre a AIDS e o impacto na vida das pessoas e grupos. Após liberação de serviços e eventos em Imperatriz-MA, as atividades presenciais do grupo de estudo foram retomadas. Porém, por considerar o potencial de novos casos da COVID-19 e da possibilidade real de surgir novas variantes do novo coronavírus, os protocolos de cuidado, que incluem distanciamento espacial e uso de máscara facial e álcool 70%, foram aplicados durante as visitas e atividades presenciais.

Resultados/ Impactos: A literatura brasileira aponta que não somente a infecção pelo HIV, mas também a utilização prolongada de TARV pode ser considerada um fator de risco para outras condições de desenvolvimento de doenças crônicas. O projeto aplicado possibilita conhecer mais amplamente a população assistida e o perfil da população do estudo. De fato, não conhecer efetivamente a população e não tratar desse assunto no interior dos serviços de saúde desde a formação acadêmica, além da precariedade de registros dessas condições, compromete a formulação de estudos epidemiológicos e nos distancia de conhecer efetivamente o perfil da doença e da população assistida no Brasil. Não cabe aqui uma larga formulação sobre isso, mas importa dizer que as abordagens interdisciplinares, com grande protagonismo para a história, a cultura e a própria saúde coletiva, permitem compreensões ampliadas sobre a produção de saúde.

Considerações finais: Com base na experiência vivida e na busca de literatura pertinente ao tema, percebemos que o projeto faz conexões entre as bases da formação que estão em construção e com a atuação profissional da professora supervisora das atividades e do debatedor externo. Permanecer com as atividades, mesmo em período de pandemia de COVID-19, mas seguindo as recomendações sanitárias, foi uma forma de manter o compromisso com o cuidado às pessoas, além de ser uma forma de resistência e enfrentamento implantada pelo atual cenário brasileiro. A atuação no projeto também nos permitiu compreender a importância do trabalho em conjunto interdisciplinar e produzir resultados favoráveis à saúde das PVHIV.

Palavras-chave: HIV/Aids; Doença cardiometabólica; Promoção da saúde; Antirretrovirais.