Apresentação: O Brasil tem avançado no desenvolvimento de estratégias para a redução do tabagismo. Entretanto, a indústria do tabaco também empreende esforços para não perder seus consumidores. Nessa disputa, o trabalho em saúde se destaca como potente ferramenta de controle. O Instituto Nacional do Câncer é responsável pelo Programa Nacional de Controle ao Tabagismo (PNCT) e articula a rede de tratamento no Brasil. O PNCT é efetivado por meio de parcerias com secretarias estaduais e municipais de saúde, integrando os diferentes níveis de atenção. As equipes de saúde da rede de atenção primária, secundária e terciária abordam o tabagismo a partir de diferentes perspectivas. Este trabalho tem como objetivo relatar como uma equipe de um ambulatório de atenção secundária produz o cuidado de pessoas dependentes à nicotina.  Descrição da experiência: trata-se de um relato de experiência de uma equipe que iniciou suas atividades voltadas à cessação do tabagismo em 2012 e, desde então, espera ansiosamente pelas quartas-feiras para produzir um modo de cuidar em saúde com foco na pessoa e não na doença. Às quartas-feiras a agenda dessa equipe, composta por auxiliares de enfermagem, enfermeira, fisioterapeuta, médica, psicólogo e recepcionista é reservada para o tratamento de pessoas dependentes do tabaco. Essa agenda reservada já foi alvo de muitas tentativas de modificação, já que a lógica biomédica dominante opta por ofertar cuidado individual com foco na doença. Mas, mesmo em meio a esses tensionamentos, essa equipe resiste ofertando cuidado de maneira interprofissional e coletiva. A escolha desse modo de produzir cuidado está relacionada à clara potencialização produzida pelos encontros. O encontro entre diferentes profissionais e diferentes pessoas é fonte de diversidade, força e encorajamento. Observa-se que as medidas legislativas, educativas e econômicas instauradas no âmbito nacional, estadual e municipal têm gerado uma diminuição da aceitação social do tabagismo. Assim, um número crescente de pessoas que procuram tratamento, o faz em função de questões familiares, sociais, laborais, estéticas, financeiras e pessoais e não pela perspectiva ou experiência de doenças associadas ao hábito de fumar. Nesse sentido, a equipe engaja-se para trabalhar os aspectos físicos, comportamentais e psicológicos dessa dependência, com foco na compreensão do modo de viver das pessoas e do papel ocupado pelo tabaco nessas vidas. Não tomamos os aspectos psicológicos como atribuição de uma categoria profissional, mas enquanto “campo” a ser trabalhado por todos os profissionais da equipe. A consideração de aspectos contextuais é igualmente muito importante. Impactos: Através de relatos dos usuários do serviço, percebemos maior compreensão dos mesmos frente ao problema e assim possibilidade de participar ativamente do processo de enfrentamento do tabagismo, contribuindo para a produção de cuidado integral.   A partir desse relato apreende-se que com resistência às pressões do sistema é possível produzir cuidado integral e interdisciplinar às pessoas no âmbito da atenção secundária. Considerações finais: o tabagismo é um tema transversal aos diferentes níveis da rede de atenção à saúde e sua abordagem possibilita às equipes de saúde a compreensão da complexidade do processo saúde-doença e uma maior aproximação ao conceito ampliado de saúde.