Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Prevenção e educação: O papel da Enfermagem na saúde do adolescente
Flavine Evangelista Gonçalves, Brenda Caroline Martins da Silva, Maria Luiza Maués de Sena, Ingrid Cristina Siraides dos Anjos, Ana Carla Cavalcante Ferreira, Joanny Emanoelly Campos do Nascimento, Josele de Jesus Quaresma Trindade, Jhennifer Nycole Rocha da Silva, João Enivaldo Soares de Melo Junior

Última alteração: 2022-01-17

Resumo


Apresentação: A gravidez na adolescência é um sério problema de saúde pública e deve ser observado de forma ampla, envolvendo a adolescente gestante e as problemáticas que a cercam. A baixa escolaridade e o início precoce da relação sexual, a falta de conhecimento e de acesso aos métodos anticoncepcionais, são fatores de risco para gravidez na adolescência. Além da evasão escolar, a falta de planejamento futuro, a baixa autoestima, o abuso de drogas lícitas e ilícitas, a falta de conhecimento a respeito da sexualidade e o uso inadequado ou insuficiente de métodos contraceptivos. Segundo o IBGE, a proporção de adolescentes e jovens brasileiras entre 15 e 19 anos não inseridas no mercado de trabalho ou na escola é maior entre aquelas que já tiveram filhos em relação às que nunca foram mães. A inclusão dos adolescentes na esfera de prevenção contra agravos de saúde, seja qual for, é fundamental para a superação dessa realidade que ainda faz-se tão presente na vida dessas jovens. Desenvolvimento: Trata-se de um relato de experiência vivenciado durante o período de estágio curricular obrigatório de Enfermagem Obstétrica, Ginecológica e Neonatal, do curso de Enfermagem da Universidade Federal do Pará (UFPA). A adolescência, definida pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) como a faixa etária entre 12 a 18 anos, configura um período de transição conhecido como puberdade entre a infância e a vida adulta, tendo seu desenvolvimento marcado por conflitos internos e externos, descobrimento da própria identidade como sujeito no mundo, mudanças corporais e questões que envolvem necessidade de aceitação social e pertencimento a um grupo. A vivência ocorreu na Enfermaria de um hospital de referência de Belém/Pará. Foram realizadas duas consultas, nas quais foram coletadas a anamnese e o exame físico geral da usuária, que segue: Puérpera de parto cesariano imediato, parda, abandonou a escola, proveniente de Cachoeira do Piriá, interior do estado do Pará, onde reside com a mãe (autônoma), 14 anos, consciente, pouco comunicativa. Sem queixas. Antecedentes ginecológicos: Menarca aos 9 anos, coitarca aos 12 anos. Ciclo menstrual regulado, de fluxo moderado. Método contraceptivo, quando utilizado, era o preservativo masculino. Relata perda gestacional prévia decorrente de abortamento. Relata parceiro sexual fixo. Antecedentes obstétricos: G2P1A1. Quando indagada acerca do número de gestações, a adolescente aguardava aquiescência da mãe para falar. Foi relatado, primeiramente, pela mãe, a existência de uma gestação não planejada em 2019, quando a puérpera tinha 12 anos de idade e seu parceiro, 24. O desfecho dessa primeira gestação foi um abortamento induzido. A mãe da adolescente ainda relatou que realizou os cuidados com este abortamento em casa, sem levá-la a um serviço de saúde. Realizou cesariana eletiva, cuja a indicação da cesárea foi devido a gemelaridade e a idade da gestante. Apresentou caderneta da gestante e estado vacinal incompleto. Consta na caderneta da gestante que realizou 3 sessões de acompanhamento psicológico devido a tal situação enquadrar-se como caso de violência sexual. A adolescente ainda relatou que o serviço de saúde onde realizou o pré-natal referiu boletim de ocorrência quanto o caso de abuso sexual, entretanto, ela e sua mãe retiraram a queixa. Atualmente, o pai das crianças abandonou o lar e a adolescente irá residir com a mãe, junto aos recém nascidos. A adolescente mostrou-se hesitante ao fazer os relatos. Ao exame físico bom estado geral. Resultados: Devido a falta do planejamento familiar, previsto pela lei nº 9.263/1996 e da educação sexual o adolescente não se sente confortável para reivindicar ou mesmo pedir sugestões e informações sobre, muitas vezes sente vergonha e medo. Pesquisas apontam que uma parcela significativa das adolescentes que engravidam continuam morando na casa dos pais e evadem do ambiente escolar. Dessa forma, as possibilidades de inclusão social e  promoção econômica ficam prejudicadas, devido a dependência financeira dos pais e a evasão escolar torna dificultoso o acesso a empregos formais, resultando em vínculos empregatícios frágeis, abusivos e de baixa remuneração. Assim, é restabelecida a vulnerabilidade dessa adolescente. Outra problemática identificada foi a violência sexual. O Art. 217-A da Lei nº 12.015 de 2009 define como crime de estupro de vulnerável a conjunção carnal ou outro ato libidinoso praticados com menor de 14 anos, mesmo diante de consenso próprio ou consenso de pais e/ou responsáveis. Acerca da iniciação sexual de adolescentes, da violência sexual e da lei que a tipifica como estupro de vulnerável, tem-se como crime o fato da adolescente referida neste estudo apresentar sua primeira gestação com 12 anos de idade, bem como sua segunda gestação aos 14 anos de idade. Contudo, a tipificação desse crime impõe impasses para profissionais da saúde que assistem adolescentes. A adolescente em questão, mantinha relações sexuais consensuais e com consentimento familiar, e se refere como casada. Nesse caso, a conduta obrigatória do profissional de saúde atuante em serviço de saúde é realizar a notificação do caso ao Conselho Tutelar, com respaldo no ECA, nos Art. 130 e 245. Além das condutas legais, é importante o encaminhamento dessa adolescente ao acompanhamento psicossocial. A adolescente em questão recebeu tal apoio, porém, vê-se que a própria e sua mãe não compreendem a relação como crime. Portanto, a gravidez precoce é um evento preocupante por aspectos sociais, econômicos e culturais. Hoje, no Brasil, configura um importante problema de saúde pública. No que tange a prevenção da gravidez precoce, o Enfermeiro tem papel fundamental na assistência à saúde sexual e reprodutiva, a partir da lei 9.263/96. Os adolescentes estão inseridos nesse cenário, no qual devem receber todas as informações necessárias a fim de prevenir a gravidez precoce, bem como serem acolhidos e protegidos em caso de gravidez e violência sexual. Considerações Finais: Quando se trata da sexualidade na adolescência há inúmeros tabus, conflitos, possibilidades e incertezas envolvidos que não são amplamente discutidos ou deixam de receber os esclarecimentos necessários. O papel do enfermeiro como educador em saúde entra aí, uma vez que é ele o profissional que irá conduzir esse atendimento, planejamento familiar e indicação de métodos contraceptivos e extinguir dúvidas e questionamentos. Como principal fator de prevenção da gravidez na adolescência temos a educação na abordagem da sexualidade e saúde reprodutiva, cuja proteção se faz no binômio família-escola, bem como nos serviços de saúde. Ademais, percebe-se o desalinhamento da legislação brasileira com a realidade do vasto território nacional, de forma que é notória a ausência de políticas públicas acerca da saúde do adolescente no que tange a prevenção de cenários de violência sexual que abarquem e considerem as vivências desses jovens, sua educação, a idade considerada adequada para iniciação sexual e até mesmo as consequências desses atos à sua vida e à sua saúde.