Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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HANSENÍASE E SUAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS: A VISÃO DO PORTADOR SOBRE SUA AUTOIMAGEM
wanne Leticia Santos Freitas, Pedro Vitor Rocha Vila Nova, Ewellyn Lima Rocha, Fernando de Souza Lima, Luine Glins Cunha, Ana Julia Silva de Souza Silva de Souza, Pollyanna Ribeiro Damasceno, Victor Alexandre Santos Gomes

Última alteração: 2022-01-30

Resumo


INTRODUÇÃO: Caracteriza-se como uma doença crônica, infectocontagiosa, cujo agente etiológico é o Mycobacterium leprae, um bacilo álcool-ácido resistente, fracamente gram-positivo, a hanseníase infecta os nervos, especialmente as células de Schwann. A patologia atinge,sobretudo, nervos superficiais da pele e troncos nervosos periféricos, inseridos na face,pescoço, terço médio do braço e abaixo do cotovelo e dos joelhos, afetando também olhos e órgãos internos, como mucosas, testículos, ossos, baço, fígado, etc. Ao longo dos séculos XIX e XX, com a descoberta do bacilo, ocorreu a desmistificação do isolamento como única forma de proteger a população sadia. Entretanto, somente a partir de 1950 começaram a surgir as drogas de combate à infecção e, com isso, esperava-se que o tratamento levaria ao desaparecimento do estigma frente a indivíduos não mais doentes. Porém, o avanço na terapia não foi satisfatória para tratar e reintegrar socialmente esses pacientes. As representações sociais de Serge Moscovici, dessa forma, são importantes para o embasamento desta pesquisa, pois se caracteriza pelos relacionamentos entre pessoas ou grupos, que trocam experiências e conhecimentos às quais dão significado. Essas representações, sejam elas adquiridas pelo senso comum ou científico, influenciam no comportamento do indivíduo, permitindo, assim, elucidar e compreender o universo de significados que envolvem a doença e as implicações desta em relação ao tratamento. OBJETIVO: O objetivo do estudo é identificar as representações sociais de pacientes portadores de hanseníase, avaliando a percepção dos mesmos sobre a sua autoimagem frente ao diagnóstico e tratamento da doença. METODOLOGIA: Estudo descritivo com abordagem qualitativa, adotando como aporte conceitual a Teoria das Representações Sociais (TRS) de Serge Moscovici. Esse projeto de pesquisa pertence a um projeto Universal da Universidade Federal do Pará, da Faculdade de Enfermagem, para o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC), intitulado “Vigilância e Cuidados em Tuberculose e Hanseníase no Núcleo Familiar dentro do contexto Amazônico”. Estudo de natureza quanti-qualitativa de cujo objeto de estudo abrange múltiplos objetivos e variados subprojetos, configurando-se num tipo amplo de projeto “Guarda-Chuva”. Pautar-se-á por preceitos de investigação por métodos mistos. RESULTADOS E DISCUSSÃO: Participaram da pesquisa 10 pacientes (n=10) em tratamento de Hanseníase em uma unidade Básica de Saúde (UBS) localizada em uma região periférica de Belém do Pará. A amostra foi composta por 7 homens (70%), e apenas 3 mulheres (30%). A idade mediana foi de 42,5 [IQ = 25;70] anos, variando entre 20 e 70 anos, entretanto foi observado uma incidência de 60% entre 30 e 40 anos. No que se refere ao grau de instrução, 70% dos entrevistados relataram ter baixa escolaridade, variando entre analfabetos e ensino fundamental incompleto. Em relação a ocupação atual, 50% estavam desempregados, e no que diz respeito ao tempo de tratamento 5 encontravam-se entre o 1° e o 2° mês, 1 entre o 3° e 4° mês e 5 entre o 5° e o 6° mês de tratamento, dessa totalidade 90% tinham renda familiar igual ou inferior a 1 salário mínimo. Após a análise dos dados coletados, considerou-se fundamental a elaboração de núcleos de significados os quais têm o objetivo de facilitar a demonstração da representação social dos entrevistados sobre as implicações para o cuidado da doença. Assim, produziu-se duas categorias para a análise das falas coletadas, são elas: CATEGORIA 1: A lesão social da hanseníase: estigmas e preconceitos, Essa categoria expressa os sentimentos dos indivíduos frente ao significado da Hanseníase em suas vidas, trazendo consigo sentimentos e vivências em face das mudanças ocasionadas pela doença, evidenciando imagens que são gerados a partir do processo de adoecimento, passando pelo processo de tratamento e de convívio com a sociedade. CATEGORIA 2: O peso de viver com hanseníase: Medos e limitações ocasionadas pela doença, essa categoria expressa as representações sociais ligadas às mudanças oriundas da doença, apontando as alterações geradas no modo de vida do paciente bem como na sua rotina e no seu convívio social e familiar. A distribuição da doença no Brasil ocorre de forma heterogênea, com os casos novos concentrados nas regiões mais pobres do país (Norte, Centro-Oeste e Nordeste). De acordo com dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), foram registrados aproximadamente 200.581 mil casos novos de hanseníase no Brasil entre os anos de 2015 a 2020. O estado do Pará, localizado na região Norte do país, nesse mesmo período apresentou 19.641 novos casos da doença e a capital, Belém, também no mesmo período apresentou 1.521 casos de hanseníase notificados através do sistema.O estado de doença, ocasionado pela hanseníase, reporta-se a desestruturações psíquicas, físicas e socioculturais, geradas, sobretudo, pelas incapacidades e deformidades físicas, pela debilidade gerada a imagem corporal, pelo estigma, e preconceitos. Em vista disso, a teoria das representações sociais pode contribuir para o entendimento das lesões corporais para além da dimensão individual e psicológica, evidenciando o papel do conhecimento compartilhado na valorização do corpo, na relevância da beleza e da saúde e suas repercussões para os indivíduos. O caráter social das RS encontra-se em um conjunto de crenças, valores e práticas, que juntas atuam como ponto de referência ao saber de um determinado grupo ou sociedade. As representações são sociais porque fornecem apoio às pessoas na designação e na significação das distintas perspectivas da realidade de maneira concomitante, vivenciadas em um determinado momento de suas vidas. A vista do exposto, temos que a imagem corporal é tida como uma peça chave na construção da identidade do indivíduo, uma vez que a mesma é cercada por valores e crenças próprias do indivíduo. Portanto, ressalta que as representações encontram-se constantemente em um processo de construção, não sendo meramente reproduzidas ou replicadas. 18 Partindo desse excerto, percebe-se que a compreensão acerca dos significados sociais e culturais gerados pelo portador de hanseníase, oportuniza aos profissionais uma maior proximidade com a realidade do indivíduo doente, fator que possibilita que esses profissionais possam orientar as práticas de saúde e de autocuidado desse sujeito, verificando suas reais necessidades de saúde, além de ajudar o paciente a sobrepujar as limitações do tratamento físico-biológico, considerando a problemática social agregada à doença. CONSIDERAÇÕES FINAIS: As representações sociais acerca do estigma social e do preconceito experimentado pelo paciente portador da doença. A hanseníase, apesar de ter cura, é responsável por gerar grande incapacidade física e social, especialmente em decorrência das consequências físicas, que por vezes são irreversíveis, nos estágios avançados da doença, o que pode ocasionar impactos a nível psicológico nos indivíduos acometidos. As mudanças ocorridas na vida social e no convívio familiar do paciente portador de hanseníase. Estudos determinam que as reações afetivas, emocionais e comportamentais, do portador de hanseníase estigmatizado, podem manifestar-se através de condutas como o afastamento ou isolamento social, redução da proximidade das pessoas queridas entre elas à família, que não está preparada para o impacto do diagnóstico e para os impactos emocionais advindos do mesmo. Assim, ao ausentar-se dos seus contatos sociais, este paciente passa por uma intensificação de emoções e sentimentos acentuados como raiva, revolta, irritabilidade, ansiedade, medo entre outros.