APRESENTAÇÃO: Há a preocupação, na realidade brasileira, em promover um ensino médico adequado às reais necessidades da população ocorre desde o século XIX. A transição do modelo hospitalocêntrico de ensino para um formato centrado no paciente e na Atenção Primária à Saúde precisa ocorrer não apenas nos currículos das escolas médicas, mas também na mudança de pensamento de todos envolvidos: docentes, discentes, coordenadores e gestores do SUS. O presente estudo buscou analisar a percepção de estudantes e preceptores de um curso de medicina da Zona da Mata Mineira sobre a aplicação das competências propostas pela Diretrizes Curriculares Nacionais de 2014(DCN/2014), nas atividades práticas realizadas no cenário da Atenção Primária à Saúde.

DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: Foi realizado um estudo exploratório quanti-qualitativo, realizado em uma instituição de ensino privada da Zona da Mata Mineira com a aplicação de questionário estruturado na primeira etapa, e realização de grupos focais, para coleta e análise qualitativa. Os participantes dos grupos foram escolhidos aleatoriamente, de forma a representar cada período do curso e foi composto, cada um, por oito integrantes. Foram aplicados questionários por meio do Google Forms, sendo os dados compilados para o programa Excel da Microsoft e analisados pelo programa SPSS.25. Foi utilizada a Técnica de Bardin para organização dos dados dos grupos focais para sua posterior análise.

RESULTADOS: Um total de 237 estudantes (71,6%) e 19 (70,4%) preceptores responderam ao questionário. Na percepção dos alunos e preceptores, as práticas na Atenção Primária à Saúde desde o ciclo básico contribuem para que preceptores e estudantes se apropriem das competências da DCN 2014; e que os atributos considerados relevantes para formação médica foram o reconhecimento da determinação social do processo saúde-doença,  a compreensão da relevância do trabalho multiprofissional e interprofissional entre as equipes de saúde e que eles preparam o estudante para trabalhar na Atenção Básica e permitem que os atributos dos SUS sejam vivenciados durante o período de formação. Mais da metade (63,3%) dos preceptores eram médicos especializados em outras áreas; 10,5% se especializaram em Medicina de Família e Comunidade (MFC) e 21,1% não possuem especialização. Apenas 5,3% eram Enfermeiros e não possuíam especialização. Dentre as opções de motivação para o trabalho na APS, 52,6% dos participantes responderam que foi devido à espera para fazer uma especialização e à resolutividade do sistema de saúde. Dentre os fatores responsáveis para o baixo percentual de preceptores formados pela MFC, pode-se destacar a falta de um programa de residência médica para esta especialidade no município, carência de um plano de carreira, insegurança e instabilidade dos profissionais inseridos na rede, dentre outros.

CONSIDERAÇÕES FINAIS: Apesar dos achados do estudo confirmarem a importância do ensino médico ocorrer no cenário da APS, a permanência do estudante na atenção básica não contribuiu para promover sua intenção em se especializar em Medicina de Família e Comunidade. Torna-se, portanto, primordial identificar e compreender como as competências preconizadas pelas DCN são vivenciadas por estudantes e preceptores que atuam nos cenários de ensino-aprendizagem e a discussão sobre o tema, nas escolas médicas.