Apresentação: A tuberculose (TB) é considerada uma doença crônica transmissível de tratamento longo, tendo como principais dificuldades para a obtenção da cura, a não adesão ou abandono do tratamento, sendo o controle da doença considerado responsabilidade dos municípios e competência da Atenção Básica (AB). Ela acomete expressivos contingentes populacionais, principalmente adultos jovens, porém tem-se observado nos países onde a doença mostrou uma tendência de queda, a sua ocorrência em faixas etárias mais elevadas, como em idosos. Atrelado à situação exposta, destacam-se como principais fatores relacionados ao abandono de tratamento de TB comorbidades, estado nutricional deficiente, ingestão abusiva de álcool e outras drogas, pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, rejeição ao serviço de saúde, comunicação deficiente entre usuário e profissional de saúde. Nessa perspectiva, o enfermeiro é um ator importante para efetivação do cuidado da TB na medida em que realiza a gestão e gerência das ações de controle, para atuar nas singularidades e necessidades dos indivíduos, permanentes ou momentâneas, tendo como alvo o restabelecimento de seu bem-estar. Desse modo, esse trabalho tem por objetivo relatar a vivência de acadêmicos de enfermagem quanto a atuação do enfermeiro na adesão ao tratamento de TB em pacientes idosos. Desenvolvimento do trabalho: Trata-se de um estudo descritivo de abordagem qualitativa, do tipo relato de experiência, vivenciado por acadêmicos de enfermagem da Universidade do Estado do Pará (UEPA). A vivência ocorreu durante uma prática supervisionada, realizada no Centro de Saúde Escola do Marco (CSEM), localizada no bairro do Marco, Belém-PA, em agosto de 2021, no Programa de Controle da Tuberculose implementado e desenvolvido no Centro.  No primeiro momento, os discentes se ambientaram ao CSEM, tendo a oportunidade de conhecer o programa de Controle da tuberculose implementado e desenvolvido no centro, para maior aproximação ao campo de prática. No segundo momento, os acadêmicos se reuniram para discutir as vivências e destacar os principais pontos observados. Pôde-se identificar como principal questão no serviço a dificuldade de adesão ao tratamento, devido a vivência quanto a dificuldade de adesão por parte de uma paciente idosa que não comparecia ao serviço regularmente para a realização adequada do tratamento. Resultados: Durante a prática supervisionada no serviço de saúde do CSEM, o enfermeiro coordenador do programa de TB, precisou notificar uma paciente idosa, para que ela comparecesse a unidade, e não abandonar o tratamento. Destaca-se que o conteúdo da notificação se referia ao encaminhamento do caso ao Ministério Público, tendo em vista que a paciente estava ciente da sua doença e se recusava a tomar o medicamento, sendo um risco para si e para a sociedade. Em seu primeiro dia faltoso, a enfermeira responsável pelo serviço de TB da Unidade buscou contatar a usuária e seus familiares, sem êxito. Como a Unidade em questão não possui Agentes Comunitários de Saúde, não houve possibilidade de visitas domiciliares. Essa ação se encontra embasada no Manual de Recomendações para o Controle da Tuberculose no Brasil, em que preconiza a visita domiciliar ao faltoso com o objetivo de evitar o abandono do tratamento, e deve ser realizada, o mais rapidamente possível, após a verificação do não comparecimento ao TDO na Unidade de Saúde. O contato telefônico imediato após a falta pode facilitar o entendimento do problema e direcionar a visita domiciliar. Este seria o terceiro tratamento da usuária, evidenciado pela ocorrência de TB em outras fases da vida, devido a frequente perda de reatividade imune celular para o Mycobacterium tuberculosis, o que torna os indivíduos mais vulneráveis para a infecção exógena. Tal situação pode propiciar a manutenção da cadeia de transmissão, assim como o aumento das populações bacterianas resistentes à quimioterapia de primeira linha. Após o recebimento da notificação, a usuária compareceu ao serviço de saúde acompanhada por um familiar, e os acadêmicos de enfermagem realizaram o acompanhamento completo da consulta. A usuária se mostrou resistente às tentativas de sensibilização da enfermeira quanto a continuidade de seu tratamento, alegando que os fármacos administrados lhe causavam náuseas e dores abdominais. Após a leitura do prontuário, observou-se que anteriormente, um médico do serviço já havia proposto um tratamento para redução das reações adversas em questão. Ao questionar a paciente, ela informou não fazer uso dos medicamentos prescritos devido sua automedicação por remédios artesanais. O uso de diversos fármacos, combinado ou não com outras formas complementares de tratamento à saúde, configura-se como prática comum entre idosos que, muitas vezes, tem sido descrita na literatura como um problema da atualidade devido às inúmeras intercorrências advindas de reações adversas e sua repercussão nos custos para o sistema de saúde. Diante disso, para atender esta população, faz-se necessário estar atualizado para responder a questionamentos dessas práticas em saúde. No decorrer da consulta, a enfermeira que direcionava o atendimento sanou as possíveis dúvidas da usuária, desconstruindo o imaginário de que os fármacos poderiam agravar seu estado geral de saúde, e ressaltando a importância de aliar o uso das drogas anti-TB com as de prevenção as reações adversas em questão. Considerando a aproximação desses profissionais à dinâmica do processo saúde-doença em relação às populações adstritas, as práticas de educação em saúde devem, então, marcar uma relação de vínculo e conhecimento, estabelecendo um processo de aprendizagem que envolve uma multiplicidade de valores, práticas, saberes e percepções de mundo. Todo profissional de saúde, em especial o enfermeiro, é um educador em potencial e pode contribuir para o diálogo e intercâmbio de saberes técnico-científicos e populares. Tendo em vista que a usuária é um caso de retratamento, faltosa na terapia atual e relatando reações adversas quanto ao uso dos fármacos, seu caso foi encaminhado ao serviço de referência secundária para TB no hospital de referência do Estado. Durante a consulta acompanhada pelos acadêmicos de enfermagem, pôde-se observar a atuação da enfermeira no processo de educação em saúde e acolhimento, buscando o estabelecimento do vínculo por meio do diálogo e disponibilidade para uma escuta aberta no atendimento, com o intuito de que a paciente retornasse após a consulta no centro especializado. Dessa forma, a prática e a vivência dos acadêmicos de enfermagem foram oportunas para a formação de conhecimento acerca dos aspectos de tratamento da TB, principalmente aqueles relacionados ao abandono dele, possibilitando o conhecimento sobre o funcionamento do serviço e compreendendo a importância do enfermeiro enquanto profissional e educador em saúde. Considerações Finais: A enfermagem tem fundamental importância na adesão ao tratamento de TB em pacientes idosos, sendo este capacitado para escutar, acolher, e estando presente no diagnóstico, tratamento e cura da doença. Nota-se a importância de um entendimento básico sobre a utilização dos fitoterápicos, seus efeitos adversos, riscos de interações medicamentosas e a possibilidade da concomitância com o tratamento tradicional da TB. É necessário também que as universidades invistam no processo de ensino-aprendizagem, visando preparar profissionais de saúde capacitados para a realização dessas práticas, além de auxiliar profissionais que atuam na Atenção Básica no tratamento da TB, no sentido de promover estratégias e informações capazes de aperfeiçoar e complementar no atendimento no serviço, e beneficiando assim, o usuário.