Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM A UMA PUÉRPERA PORTADORA DE ESQUIZOFRENIA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
Jhennifer Nycole Rocha da Silva, Brenda Caroline Martins da Silva, Ana Larissa Lobato de Freitas, Ana Carla Cavalcante Ferreira, Dayane Jacqueline da Silva Alves, Maria Luiza Maués de Sena, Flavine Evangelista Gonçalves, Thais Lopes do Amaral Uchôa

Última alteração: 2022-01-18

Resumo


Apresentação: A esquizofrenia, integrante do grupo de transtornos mentais graves, é uma condição crônica, caracterizada por ser uma doença debilitante do ser humano. Está associada a distúrbios na comunicação e maturação do sistema neuronal, capaz de produzir alterações no grupamento de receptores de informações. A literatura já menciona a interferência do desenvolvimento do sistema nervoso na vida intrauterina do indivíduo, causados possivelmente pela ausência de nutrientes e restrição de oxigênio e outros componentes como ferro e glicose que podem estar associados. Enquanto em alguns transtornos psíquicos o nível de consciência é afetado, na esquizofrenia as habilidades intelectuais permanecem resguardadas, apresentando como principais sintomas o embotamento afetivo, alterações da percepção e pensamento, passividade e sensação de desesperança ou medo, condições que geram um infortúnio considerável na vida do indivíduo. Quanto ao ciclo gravídico-puerperal, carregado de alterações fisiológicas, biológicas e psicológicas, apresenta-se uma maior suscetibilidade à mudanças  hormonais, desregulação do sono e vulnerabilidade psíquica, fatores que viabilizam o surgimento de stress psicológico, ansiedade, depressão e, em mulheres que possuem tendência à esquizofrenia, psicose puerperal. Na relação materno-infantil, faz-se importante a preservação do contato entre mãe e filho, reforçando um acompanhamento e tratamento adequado à genitora, considerando a associação direta da relação do feto ou recém-nascido com o estado mental e de saúde materno. Destarte, o enfermeiro, como gestor do cuidado, é um profissional que possibilita uma assistência adequada capaz de promover a supervisão segura e recuperação apropriada ao paciente, além de incentivar a interação social e enfrentamento com humanização e valorização da pessoa humana. O estudo propôs-se a descrever a Sistematização da Assistência de Enfermagem a uma puérpera portadora de esquizofrenia, tendo como referencial teórico o modelo conceitual de Wanda Horta, utilizando os Diagnósticos de Enfermagem da Taxonomia II da NANDA, as intervenções de enfermagem da NIC e os resultados da NOC. Desenvolvimento do trabalho: Estudo descritivo do tipo relato de experiência, realizado em um hospital de ensino, referência na atenção à gestante de alto risco e ao recém nascido de Belém do Pará, no setor de enfermaria clínica de puerpério patológico, no mês de agosto de 2021. Participaram do estudo três estudantes e um professor da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal do Pará. O paciente foi selecionado de forma aleatória para análise de dados e prontuário, realização de exame físico e identificação dos diagnósticos de enfermagem, intervenções de enfermagem e resultados esperados. Resultados e descrição da experiência: Ao primeiro momento, foram coletadas as seguintes informações: puérpera de parto tardio, 23 anos, estudante, em união estável, G1P1CA0, desacompanhada de RN, proveniente do município de Castanhal/PA, consciente, orientada em tempo e espaço, acessível ao diálogo, deambulando sem auxílio, de humor ansioso, acompanhada de avó, referindo dificuldade de ficar só e medo excessivo. No momento, apresentou rede venosa fragilizada com sinais flogísticos em locais de tentativas de AVP em MMSS e queixava-se de dor e edema em MSD. Paciente em 37° dia de Pós Operatório por Cesárea (POC), deu entrada na instituição referindo intensas contrações. Neonato evoluiu para sofrimento sofrimento fetal agudo sendo necessário intervenção cirúrgica. Após 21 dias de POC, relatou hemorragia vaginal, na qual  apresentou uma grande quantidade de coágulos (hemorragia pós parto secundária) e endometrite, e foi submetida a uma curetagem. Posteriormente, progrediu novamente com sangramento e infecção 8 dias depois, dessa forma, realizou-se uma Histerectomia Abdominal Total e Salpingectomia Bilateral. Em avaliação, foi identificado infecção na ferida operatória, que apresentou deiscência total, com grande quantidade de exsudato sanguinolento, purulento e fibrinoso. AP: nega etilismo, tabagismo e uso de medicação contínua. Possui histórico de SHEG e transtornos psiquiátricos como esquizofrenia, síndrome do pânico, fobia social, ansiedade e depressão. Realizava acompanhamento no CAPS de sua cidade e foi orientada a suspender o uso dos medicamentos desde o terceiro mês de gestação. NHB: Sono e repouso prejudicados, nutrição satisfatória, aceitando dieta hospitalar, oxigenação adequada e funções fisiológicas presentes e espontâneas. Exame físico: pele e mucosas hipocoradas, eupneica em ar ambiente, mamas simétricas, mamilos protusos, abdome normoflácido, útero contraído abaixo da cicatriz umbilical e ferida operatória com curativo oclusivo. Por intermédio do histórico e avaliação clínica, foram encontrados os seguintes problemas ativos e apontados os seguintes diagnósticos de enfermagem: a) Risco de comportamento auto destrutivo, relacionado à diagnóstico de transtornos psíquicos sem uso de medicação contínua; b) Recuperação cirúrgica retardada, relacionada à infecção na ferida operatória, evidenciado por secreção de exsudato sanguinolento, purulento e fibrinoso;  c) Risco de vínculo prejudicado, relacionado à prática de execução de alojamento intermitente. A partir disso foram elencados as respectivas intervenções de enfermagem: a) Orientar que a terapia medicamentosa psiquiátrica pode ajudar a aliviar seus sintomas e permitir um melhor cuidado para si e ao bebê; Observar padrão de manifestações clínicas quanto aos transtornos apresentados; Reconhecer e interpretar o comportamento materno, proporcionando apoio e compreensão; Favorecer um ambiente tranquilo para facilitar sono reparador; Incentivar o relacional com demais puérperas; Supervisionar e estimular aceitação alimentar; Manter vigilância discreta e constante com objetivo de impedir atos prejudiciais a si mesma; Verificar SSVV de 6/6h, Solicitar acompanhamento psicológico e psiquiátrico; b) Realizar limpeza de ferida operatória com soro fisiológico, aplicar pomada com princípio ativo  bactericida e capacidade de absorção de exsudato e  realizar curativo oclusivo segundo plano terapêutico; Avaliar adesão ao suporte nutricional que favorece uma cicatrização e recuperação adequada; Registrar queixas de desconforto, dor e alteração das funções fisiológicas; c) Incentivar o engajamento em atividades que estimulem a ligação mãe-bebê, como segurar o bebê o mais breve possível e próximo à face enquanto mantém comunicação; Solicitar à puérpera a inspeção do corpo do recém-nascido, para que se familiarize com o filho; Avaliar e registrar respostas maternas quanto o vínculo mãe/bebê;  Reforçar a autoconfiança materna; Acompanhar a presença da rede de apoio no suporte a este momento da puérpera. Após a execução da Sistematização de Assistência de Enfermagem, espera-se os seguintes resultados: a) alívio de sinais de medo e ansiedade, com retorno adequado ao acompanhamento psiquiátrico; b) recuperação cirúrgica adequada com boa resposta de cicatrização em ferida operatória; c) boa interação e respostas positivas quanto ao vínculo afetivo com o recém nascido. Considerações finais: Ao traçar de maneira sistêmica a atenção à puérpera portadora de esquizofrenia, faz-se perceptível a promoção e elaboração de uma assistência voltada às necessidades particulares de cada indivíduo. O profissional que atua no ciclo gravídico-puerperal, possui uma valiosa competência de acolher e preparar o início ou continuidade da vida materna, encarregado também de realizar o manejo de possíveis pacientes com alterações psíquicas. Isto posto, a elaboração de estudos relacionados às práticas assistenciais, contribuem para a capacitação e instrumentalização do enfermeiro quanto sua atividade profissional, além de assegurar um ambiente propício ao enfrentamento e harmonia de desejos, capacidades, ideias e emoções.