Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
Tamanho da fonte: 
INSTRUMENTO ELETRÔNICO DE IDENTIFICAÇÃO DO RISCO DE PÉ DIABÉTICO (e-PED): UMA PROPOSTA NA SAÚDE DA FAMÍLIA
Carla Tavares Cerqueira Mattos, Rocío Elizabeth Chavez Alvarez

Última alteração: 2022-01-24

Resumo


INTRODUÇÃO. O Diabetes Mellitus (DM) é um importante e crescente problema de saúde pública para todos os países e, dentre as complicações mais frequentes, destaca-se o pé diabético, que pode comprometer de forma severa a vida do indivíduo. Diante desse quadro, é necessária a atuação na prevenção de maiores agravos, reconhecimento de situações de risco, intervenção imediata nas áreas social, educativa e de assistência à saúde e o cuidado integral, favorecendo a prevenção e promoção da saúde, a fim de garantir melhor qualidade de vida aos pacientes acometidos pela doença. OBJETIVO. Avaliar a proposta de utilização do instrumento eletrônico de identificação do risco de pé diabético (e-Ped) nas consultas de rotina dos profissionais da Estratégia Saúde da Família, no município de Porto Seguro (BA). MÉTODOS. Trata-se de pesquisa quanti-qualitativa, com 4 profissionais, médicas e enfermeiras, de duas Unidades de Saúde da Família (USF), apoiada no referencial teórico-metodológico do Sense-Making, de Brenda Dervin, que aborda quatro pontos importantes: a situação (S), que na pesquisa correspondia ao problema da abordagem profissional para a identificação do risco de pé diabético; as lacunas (L), como sendo a falta de instrumentos específicos que subsidiem essa abordagem e o cuidado integral dos pacientes com DM; os auxiliadores (A), sendo os resultados ou consequências decorrentes do problema inicial; e as pontes (P), como sendo a proposta do e-Ped. Também foi aplicada a entrevista semiestruturada com as profissionais de saúde, entre os meses de novembro de 2020 a maio de 2021. A análise descritiva quantitativa auxiliou na consolidação dos dados gerados pelo próprio instrumento eletrônico, através da utilização dos Programas Access Office e Excel, do Microsoft 2013, sendo, ainda, o processo de análise qualitativo feito através da análise de conteúdo de Bardin, que seguiu as etapas de pré-análise, identificação de categorias e subcategorias e interpretação dos dados. RESULTADOS E DISCUSSÃO. Apesar das adversidades, principalmente a pandemia provocada pelo SARS-CoV-2, a proposta do e-Ped foi utilizada pelas equipes e trouxe resultados positivos, tais como: a acolhida da proposta do instrumento e-Ped pelas profissionais de saúde, a caracterização dos pacientes diabéticos e identificação do risco de pé diabético com o uso do e-Ped, durante as consultas de rotina nas USF, e, a perspectiva dos profissionais de saúde sobre o uso do e-Ped. Para a implantação da proposta do e-Ped, elaborou-se, com o auxílio técnico especializado, o instrumento básico informatizado que foi implantado nas duas USF do estudo, as quais já possuíam prontuário eletrônico, e por esse motivo, as profissionais já estavam habituadas ao uso das tecnologias em saúde. O e-Ped estava dividido em cinco blocos: bloco 1, cadastro inicial do paciente e do profissional de saúde; bloco 2, avaliação das alterações/situação de risco do paciente; bloco 3, desenho colorido dos pés para observação e sinalização de locais afetados durante a avaliação do risco; o bloco 4, observações, evolução e conduta da avaliação do risco pelo profissional de saúde; e bloco 5, consolidado e histórico informatizado e individualizado dos pacientes avaliados nas consultas de rotina. A caracterização dos pacientes revelou 22 usuários com DM tipo 2 atendidos com a utilização do e-Ped na ESF, a maioria do sexo feminino (82%), com idade entre 30 e 69 anos e mais da metade portadores de comorbidade, como a hipertensão arterial (59%). A maioria de alterações identificadas nos pacientes, através do e-Ped, foram ressecamento (17 pacientes), seguido de rachaduras (9 pacientes), calos e formigamento (5 pacientes), podendo existir mais de uma alteração para um dado paciente. A perspectiva dos profissionais de saúde sobre o uso do e-Ped nas consultas de rotina, deu lugar a sete categorias: 1) roda de conversa e educação permanente como suporte na aplicação do e-Ped; 2) satisfação dos profissionais e dificuldades no manejo do e-Ped; 3) recomendações dos profissionais de saúde para o aprimoramento do e-Ped; 4) o e-Ped auxilia na identificação do risco de pé diabético; 5) utilidade e aplicabilidade do e-Ped na rotina da ESF; 6) possibilidade de inserção do e-Ped na Atenção Primária à Saúde (APS); e, 7) considerações dos profissionais sobre a experiência com o e-Ped. As participantes destacaram a importância do diálogo com os pacientes e a longitudinalidade do cuidado, mostrando compromisso e envolvimento com o registro e cuidado físico dos pés dos pacientes diabéticos e com o cuidado integral, durante as consultas de rotina, mostrando interesse para a utilização do e-Ped, de forma continuada, se inserido na APS do município, levando em consideração o diagnóstico e as condições de tempo disponível dos profissionais junto aos pacientes, quer seja de forma semanal, quinzenal ou mensal, a depender da necessidade do serviço e de cada paciente avaliado de forma individualizada. Por outro lado, as participantes ressaltaram a necessidade de consolidação dos dados do e-Ped em uma base de dados complementar na APS, que norteie as ações no serviço de saúde e na ESF, considerando as tecnologias de informação e comunicação em saúde. Entretanto, algumas limitações foram observadas, como certa insegurança da categoria médica na aplicação do e-Ped, sendo necessário um maior engajamento e aprimoramento dessa categoria, para que a proposta seja ampliada futuramente de forma multidisciplinar. Ademais, o cenário pandêmico na APS, impactou no processo de trabalho e, subsequentemente, na aplicação do e-Ped de forma contínua, existindo algumas lacunas de semanas sem sua aplicação por parte das participantes, seja por excesso de trabalho ou porque os pacientes não compareciam às consultas agendadas. CONSIDERAÇÕES FINAIS. A ferramenta informatizada, o e-Ped,  foi percebida como importante base de dados e como estímulo para o cuidado integral e identificação do risco de pé diabético, para tanto novas adequações precisam ser feitas com base no instrumento proposto e aqui analisado, para sua qualificação e implementação futura no SUS municipal, incentivando ao mesmo tempo, novas pesquisas que acompanhem esse processo até sua efetivação sucedida, visto que o instrumento foi pautado na integralidade e resolutividade do processo saúde-doença dos pacientes acometidos pela DM no território pesquisado. Por sua vez, o uso das tecnologias duras na APS, visa ser uma estratégia potencializadora e contributiva para o cuidado integral e para a identificação de riscos no paciente diabético, desde que utilizadas com critérios adequados, ética e responsabilidade profissional, sem com isso, substituir outras tecnologias que prezam pelo acolhimento, a comunicação dialógica e o cuidado humanizado, podendo somar esforços ao aprimoramento na qualidade da assistência à saúde dos usuários do SUS.

Palavras-chave: diabetes mellitus; pé diabético; Atenção Primária à Saúde; gestão clínica; tecnologias em saúde; saúde integral; Covid-19.