Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
Tamanho da fonte: 
CONDIÇÕES DE SAÚDE E HÁBITOS DE VIDA ASSOCIADOS À PRÁTICA DE POLIFAMÁRCIA EM IDOSOS ASSISTIDOS POR UMA UNIDADE DE SAÚDE DA FAMÍLIA DE VITÓRIA-ES
Glenda Pereira Lima Oliveira, Luciana Carrupt Machado Sogame, Gracielle Pampolim

Última alteração: 2022-01-18

Resumo


APRESENTAÇÃO: A longevidade da pessoa idosa está relacionada a múltiplos fatores que, juntos, contribuem para aumentar também a qualidade de vida dessa população. Dentre eles, pode-se citar o uso de medicamentos que auxiliam no controle da sintomatologia de doenças crônicas não transmissíveis, muito comum nessa faixa etária. Em vista disso, a polifarmácia é uma prática comum, uma vez que a senilidade traz consigo comorbidades que necessitam de amparo farmacológico. Essa situação, definida como o uso de 5 ou mais medicamentos simultaneamente, pode tanto ter poder curativo, quanto poder de agravo, principalmente quando está aliado à conduta de médicos, condições de saúde e práticas habituais de vida. A automedicação e o uso indiscriminado de fármacos podem gerar efeitos adversos, muitas vezes até indesejáveis, de difícil manejo clínico. Em vista disso, percebe-se o quão complexa e multifatorial é a prática da polifarmácia, portanto, esse estudo objetiva verificar a associação entre a prática de polifarmácia e hábitos de vida e condições de saúde em idosos. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: Trata-se de um estudo observacional transversal, de caráter quantitativo realizado com 236 idosos de idade maior ou igual a 60 anos, assistidos pela Estratégia de Saúde da Família em uma Unidade de Saúde da Família de Vitória-ES. Para coleta de dados, realizou-se entrevista domiciliar com os idosos com uma equipe previamente treinada e posterior assinatura dos idosos que tiveram interesse em participar do estudo. Os critérios de exclusão foram baseados em idosos que não possuíam condições ou cuidador apto em responder ao questionário aplicado; aqueles que recusaram a visita; e aqueles que vieram a óbito ou se mudaram antes da realização das entrevistas e avaliações. Ao final, foram excluídos 5 idosos do estudo, pois não apresentaram os dados necessários sobre a polifarmácia. A variável dependente do estudo foi a polifarmácia, verificada por meio da quantidade de medicamentos em uso de cada idoso, e as variáveis independentes analisadas foram: idade (60 a 74 anos ou 75 anos ou mais), sexo (masculino ou feminino), etnia/raça (branco ou negro), estado civil (casado ou solteiro), escolaridade (0 a 4 anos, 5 a 11 anos ou 12 anos ou mais), núcleo familiar (mora sozinho ou acompanhado), multimorbidade (presença de duas ou mais doenças associadas), sair de casa sozinho ou acompanhado, presença de tabagismo, presença de etilismo, prática de atividades físicas, prática de atividades de lazer, prática de atividades na Unidade de Saúde e autopercepção da saúde (positiva ou negativa). A análise estatística realizada foi a descritiva por meio de tabelas de frequências absolutas e relativas e, para a relação entre a variável dependente e as variáveis independentes, realizou-se o teste Qui-quadrado, adotando p-valor < 0,05 e intervalo de confiança igual a 95% para todas as análises. Este estudo é parte de um projeto primário intitulado “Condições de saúde e funcionalidade de idosos assistidos pela estratégia saúde da família em Vitória-ES”, aprovado no CEP/EMESCAM sob o nº 2.142.377 com seguimento de todas as normas estabelecidas pelas Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisa Envolvendo Seres Humanos da resolução 466/12. RESULTADOS E/OU IMPACTOS: Dos 236 idosos, constatou-se que 89 (37,7%) idosos estavam em uso de polifarmácia e a maior parte dos entrevistados apresentava idade entre 60 e 74 anos (72,5%), era do sexo feminino (61,4%), se identificava como negro (73,7%), era casado (61%) e tinha de 0 a 4 anos de estudo (57,2%). Levando em consideração as variáveis de comportamento e hábitos de vida, percebeu-se que a 182 (77,1%) idosos não moram só, 188 (79,7%) saem de casa sozinho, 203 (86%) não possuem hábitos tabágicos, 183 (77,5%) não possuem hábitos alcoólicos, 157 (66,5%) não realizam atividade física, 147 (62,3%) praticam atividades de lazer e 185 (78,4%) não participa de atividades na UBS. Já sobre as variáveis de saúde, a maioria possui multimorbidades (65,3%) e percebe a própria saúde como positiva (53,8%). Ao final, dentre aqueles que estavam em uso de polifarmácia, percebeu-se associação positiva com as seguintes características: faixa etária de 75 anos ou mais (56,9%), presença de multimorbidade (87,8%), ausência de hábitos alcoólicos (41,5%), não sair de casa sozinho (55,3%) e autoavaliação negativa da saúde (45,9%). CONSIDERAÇÕES FINAIS: A prevalência da polifarmácia associada à faixa etária e à presença de patologias pode ser explicada pela senilidade vivenciada durante o envelhecimento e a necessidade de uso de medicamentos para o controle dos sintomas, que contribui para o aumento da dependência funcional, limitando-os ao lar. A ausência de hábitos alcoólicos está embasada nas orientações passadas pelos profissionais da saúde, visto que o uso concomitante dessas substâncias com fármacos possui alta incidência de efeitos colaterais, muitas vezes nocivos, para o organismo ou até mesmo desencadeando a necessidade de lançar mão de novas terapias para auxílio. A autopercepção negativa da saúde é esperada, visto que o conjunto das condições citadas contribui para a diminuição da qualidade de vida dessa população e, com isso, o idoso se vê doente e tende a se recolher, evitando interações antes prazerosas, contribuindo para o declínio cognitivo e psíquico. Por isso, a polifarmácia, quando não evitável, deve ser realizada de forma adequada, com uso racional de medicamentos e conscientização dos pacientes sobre os efeitos colaterais e interações medicamentosas, sempre com respaldo das evidências científicas. Para contornar esses problemas, é importante a presença de uma equipe multidisciplinar, em especial a figura do médico e do farmacêutico, centrada em cuidados geriátricos, a fim de traçar um plano de ação individual de acordo com as particularidades de cada pacientes e que contribua para a prevenção de agravos, como a prescrição inadequada e hábitos de vida que possam vir a ser prejudiciais no processo do controle das comorbidades. Assim, pode-se citar como exemplos a serem seguidos a formulação de protocolos que minimizem a acessibilidade livre de alguns fármacos, diminuindo a cultura da automedicação, bem como a adoção de ferramentas que consigam perceber, no prontuário eletrônico, interações medicamentosas potencialmente inapropriadas. Tudo isso contribui para identificar e intervir em áreas fragilizadas do idosos, evitando a progressão de doenças e o comprometimento mental, físico e social. Dessa forma, juntamente com a educação permanente dos profissionais, será possível permitir um envelhecimento saudável e um cuidado integral e longitudinal, onde a pessoa idosa será a figura principal da sua terapia e terá participação ativa no processo saúde-doença, garantindo, assim, a independência desses indivíduos.