Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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SITUAÇÃO DE SAÚDE E AUTOCUIDADO ENTRE IDOSOS DOMICILIADOS EM MUNICÍPIO BAIANO, À LUZ DA TEORIA DE OREM
Antonio João de Araújo Xavier, Rocío Elizabeth Chávez Álvarez

Última alteração: 2022-01-30

Resumo


INTRODUÇÃO. O envelhecimento populacional tem trazido novos desafios aos sistemas de saúde. A presença de condições crônicas, acompanhadas de multimorbidade, fragilidade e incapacidade funcional em parte considerável dessa população idosa habitualmente ocasiona o déficit para seu autocuidado. Além disso, acentuam sua restrição ao domicílio, limitando o acesso oportuno e continuado desses indivíduos aos serviços de saúde, o que contribui para fragilizar, mais ainda, sua situação de saúde e autocuidado. A Estratégia Saúde da Família (ESF) atua no território onde vivem esses idosos domiciliados, sendo sua responsabilidade a oferta contínua e coordenada de cuidados também a partir do domicílio onde eles residem. No entanto, as equipes da ESF, muitas vezes, têm dificuldade em reconhecer as características e necessidades dessa população vulnerável, o que pode repercutir no planejamento e na prestação de cuidados a esses idosos domiciliados. OBJETIVOS. O objetivo do estudo foi analisar a situação de saúde e organização para o autocuidado de idosos domiciliados em territórios da ESF do município de Vitória da Conquista (BA) à luz do referencial teórico da Teoria do Déficit do Autocuidado de Dorothea Orem. MATERIAIS E MÉTODOS. Pesquisa descritiva, exploratória, de abordagem qualitativa com 16 familiares cuidadores de idosos domiciliados residentes nos territórios de abrangência de oito ESF do município de Vitória da Conquista, Bahia. A coleta de dados foi desenvolvida durante o primeiro semestre de 2021 por meio de contato telefônico, em razão da pandemia de Covid-19 e da necessidade de se manter o distanciamento social. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com os familiares cuidadores, utilizando-se de um roteiro norteador previamente estabelecido. Os idosos domiciliados não foram diretamente abordados devido às limitações físicas ou cognitivas para manter o diálogo continuado na entrevista por via telefônica. Também foram aplicados um questionário sociodemográfico e o instrumento CADEM. Este último instrumento foi desenvolvido a partir do referencial teórico de Orem e tem como objetivo identificar o nível de dependência do indivíduo para seu autocuidado, com base em funções consideradas relevantes para a execução de ações de autocuidado. Tais funções são: a capacidade do indivíduo de se comunicar (C); a capacidade de realizar adequadamente as atividades diárias, como higienização, alimentação e hidratação (A); a capacidade de se locomover (D); a capacidade de realizar as eliminações voluntariamente e em tempo e local adequados (E); e a mobilização ou capacidade de manter e controlar o posicionamento corporal adequado (M). Os dados coletados a partir das entrevistas semiestruturadas foram organizados em categorias e interpretados através da Análise de Conteúdo de Bardin, permitindo uma aproximação com o autocuidado e a realidade em que vivem os idosos domiciliados e seus cuidadores. Este trabalho é um recorte da dissertação do Mestrado Profissional em Saúde da Família, sendo que a pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa sob parecer nº 4.356.156. RESULTADOS E DISCUSSÃO. Identificou-se entre os idosos incluídos na pesquisa uma maior representatividade feminina (57%), em sua maioria viúvos(as) e com baixa escolaridade (75%), sendo que a maioria tinha menos que 4 anos de estudo. A renda familiar mensal era composta por até 3 salários-mínimos na maioria das famílias e as residências possuíam entre 4 e 8 cômodos em sua maior parte (69%). Tais achados tem sido corroborados por outros estudos que evidenciam a predominância da feminização entre idosos domiciliados, assim como um contexto de maior vulnerabilidade socioeconômica, revelada por meio de uma menor escolaridade e menor renda familiar, associada a uma maior chance de adoecer ou de apresentar problemas de saúde nessa população. A partir do instrumento CADEM, os idosos deste estudo foram incluídos em quatro níveis de capacidade para o autocuidado, que variam desde o Nível I, no qual a pessoa se encontra sem alterações funcionais e demonstra autocuidado adequado; Nível II, em que existe uma independência ameaçada, mas na qual o sujeito é capaz de ajustamentos que o tornam hábil para seu autocuidado, ainda que com certo apoio e ajuda profissional; Nível III, quando existe um autocuidado prejudicado em razão da situação de saúde do paciente, pelo próprio envelhecimento, pela presença de comorbidades ou de perdas sociais, entre outros fatores, sendo que o indivíduo necessita de ajuda moderada a grande para alcançar seu autocuidado; e o Nível IV, em que o indivíduo se mostra totalmente dependente de ajuda para manter seu autocuidado. Assim, os idosos domiciliados do estudo apresentaram os mais altos níveis de dependência para o autocuidado em todas as faixas etárias, permanecendo entre os níveis III e IV, demonstrando uma necessidade maior ou total de ajuda para manter o seu autocuidado, como definido na Teoria do Déficit de Autocuidado de Orem. Quatro categorias analíticas foram identificadas a partir dos dados coletados nas entrevistas semiestruturadas: 1) Declínio cognitivo e limitações físicas entre idosos domiciliados; 2) Entre a (in)capacidade e a (in)dependência para o autocuidado do idoso domiciliado; 3) Arranjos familiares para o autocuidado do idoso domiciliado e da cuidadora; 4) Os desafios da equipe de Saúde da Família para o cuidado profissional dos idosos domiciliados no território. Os níveis relevantes de incapacidade para o autocuidado dos idosos domiciliados e os arranjos familiares diversos promovidos pelos cuidadores informais são preocupantes nesta pesquisa, assim como a situação precária do suporte para o autocuidado das mulheres cuidadoras que desempenhavam esse papel, revelando também o seu adoecimento e suas limitações para a manutenção do próprio autocuidado. A assistência domiciliar em nível comunitário provida pelas equipes da ESF se revelou com algumas fragilidades, tanto no que se refere ao cuidado ao idoso domiciliado como também ao suporte ao cuidador no território, e que foram acentuadas em razão da reorganização do trabalho entre as equipes de Saúde da Família como resposta à pandemia de Covid-19. CONSIDERAÇÕES FINAIS. A Teoria do Déficit do Autocuidado de Orem possibilita uma identificação mais ampla das características e necessidades em saúde dos idosos domiciliados, e contribui para a elaboração de planos de cuidados individualizados e mais abrangentes, bem como para a prática interprofissional na ESF, de forma efetiva, ao permitir caracterizar demandas e necessidades de cuidados desses idosos e dos seus cuidadores familiares, e também para a organização da rede assistencial e da oferta dos cuidados profissionais desenvolvidos pelas equipes de Saúde da Família. Considera-se que a organização e planejamento dos cuidados profissionais aos idosos domiciliados deve ser coparticipativo e dialógico, em conjunto com os próprios idosos e seus cuidadores, por serem os corresponsáveis e protagonistas da sua autonomia e autocuidado no território da saúde da família.

PALAVRAS-CHAVE. Saúde do Idoso; Atenção domiciliar; Estratégia Saúde da Família; Déficit do Autocuidado.