Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Ação educativa sobre a saúde mental no ambiente de trabalho: relato de experiência
Hector Brenno da Silva Cagni, Fabiana Morbach da Silva, Bianca Silva de Brito, Felipe Macedo Vale, Pedro Lucas Carrera da Silva, Adriele Janaina Amorim Pereira, Paula Varanda Gomes, Bruno Jáy Mercês de Lima

Última alteração: 2022-01-30

Resumo


Apresentação: Historicamente, a saúde mental sofre preconceitos e negligência no mundo todo. No contexto nacional, com a chegada da família real no Brasil, as pessoas ditas insanas eram recolhidas do convívio em sociedade e colocadas nos hospitais psiquiátricos, chamados de manicômios. Atualmente, a questão da saúde mental ganhou maior credibilidade, tendo em vista o contexto da pandemia, na qual houve diversos fatores que contribuíram para o agravamento do sofrimento mental da população, como: isolamento, medo, aflição, entre outros, esses contribuem para o surgimento de transtornos mentais em pessoas sem sofrimento psíquico, agravam-se aqueles com sofrimento psíquico pré-existente e os familiares de infectados por COVID-19 tornam-se mais susceptíveis. Segundo dados da OMS, os transtornos mentais e comportamentais estão entre as principais causas de perdas de dias de trabalho no mundo. Os casos leves causam em média perda de quatro dias de trabalho/ano e os graves cerca de 200 dias de trabalho/ano. Em 2021, uma campanha foi criada para marcar o “Abril Verde”, mês de conscientização da saúde e da segurança no trabalho, com foco na saúde mental e na união de forças, a campanha conta com o slogan “Em conjunto: a construção do trabalho seguro depende de todos nós". A campanha foi marcada por vídeos e posts nas redes sociais que visam conscientizar e mobilizar empresas, instituições públicas e privadas, empregadores e trabalhadores a atuarem de forma conjunta neste período de crise. Nesse sentido, esse trabalho objetiva relatar a experiência dos discentes na realização de uma educação em saúde mental no setor administrativo de uma universidade, tendo como público alvo os servidores dessa instituição. Desenvolvimento: Este é um estudo descritivo-qualitativo, sob a forma de relato de experiência, o qual trata de uma atividade que foi efetuada por acadêmicos de enfermagem como componente avaliativo da disciplina de Enfermagem em Saúde Mental I, em uma universidade. No primeiro instante, foi realizada uma visita ao local para definir os pontos relevantes observados, os quais poderiam nortear o desenvolvimento de uma ação de educação em saúde mental, a partir disso foi constatado que apesar de todo o esforço, existia a necessidade de uma maior aproximação entre os servidores e o Núcleo de Apoio ao Servidor (NAS), que atua no atendimento psicossocial da instituição, oferecendo serviço aos servidores e seus familiares, contudo, esses indivíduos ou não sabiam da existência do NAS ou não confiavam no sigilo dos serviços oferecidos. Sendo assim, foi pensado a respeito da elaboração de uma dinâmica que foi desenvolvida por meio de momentos de diálogo, tendo como suporte a utilização de um cartaz como recurso didático, abordando informações relevantes como: fatores de  risco, cuidados com a saúde mental, formas de procurar ajuda e os serviços disponibilizados por esses locais. Após isso, houve a visita nas salas administrativas desta universidade, porém apenas 2 setores disponibilizaram um tempo para que fosse realizada a ação. Durante os momentos dialógicos, foram questionados sobre as suas vivências no ambiente de trabalho, como eram tratadas as situações estressoras e se haviam muitos fatores que causavam estresse; além disso, realizamos a orientação quanto o desenvolvimento de atividades que pudessem proporcionar melhor qualidade de vida, prevenindo quadros de adoecimento psicológico. Nesses locais, pudemos realizar escuta ativa sobre problemas que poderiam atuar como estressores e contribuir para o adoecimento mental, além de esclarecer dúvidas sobre a atuação dos Centros de Atenção Psicossociais (CAPS). Resultados: Inicialmente, foi encontrada muita resistência entre os setores onde procurávamos realizar a atividade de orientação, sob a justificativa dos trabalhadores de haver a necessidade em agilizar e se dedicarem a seus respectivos trabalhos, não dispondo de tempo suficiente para a participação na ação. No entanto, procurando em outros setores, conseguimos adesão de alguns profissionais, os quais apresentaram boa receptividade para a ação e, apesar da preocupação com a efetividade de seus deveres, puderam participar ativamente da atividade proposta. Desse modo, em um desses setores, houve a oportunidade de conhecer a dinâmica do trabalho desenvolvido e das dificuldades enfrentadas que proporcionavam situações de estresse, tal fato sendo relatado pelo trabalhador ali presente, mostrando-se muito à vontade para se expressar conforme era desenvolvida a atividade de orientação sobre os cuidados à saùde mental. Ademais, em outro departamento, percebeu-se que os trabalhadores, embora autorizassem a nossa aproximação, ainda estavam muito conectados ao dever de exercer suas funções laborais, concedendo, em momento inicial, pouca atenção ao que era abordado, porém, no decorrer das perguntas, como tentativas de estabelecer a sua interação, notou-se melhor comunicabilidade e disponibilidade ao  mencionarem, também, as suas visões sobre a necessidade do cuidado visando o seu bem estar psicológico; entretanto, não houve a identificação de fatores que pudessem provocar alguma situação de estresse durante as suas tarefas laborais, indicando que conseguiam manter um bom relacionamento em equipe durante o momento de trabalho. Sobre o NAS, os participantes da atividade acusaram ter conhecimento do serviço ofertado por esse núcleo, todavia, todos esses profissionais negaram terem procurado o núcleo, tendo em vista o temor do julgamento pelos colegas de trabalho ou por não identificarem a necessidade de usufruir desse serviço. Considerações finais: Desse modo, é notória a necessidade do desenvolvimento de atividades que visem a promoção da saúde, por intermédio de práticas de educação, a fim de garantir autonomia e conhecimento sobre a adoção de hábitos que possam prevenir o adoecimento mental, além da possibilidade da busca por ajuda profissional, quando necessária. Pode-se concluir, também, que a escuta é um método muito importante e que pode ser aplicado de forma simples e sem custos durante as ações de saúde mental, ao passo que os usuários se sentem valorizados e que a sua saúde como um todo é muito relevante. Mas deve-se estar atento para o nível de liberdade concedido pelo outro para que o diálogo seja livre e sem julgamentos, ou seja, somente o detentor das informações poderá julgar se está se sentindo confortável em falar sobre determinado assunto.  Outrossim, para os acadêmicos, essa ação revelou-se como um importante instrumento para enriquecer as vivências da profissão, gerando conhecimento e direcionando olhares sob diferentes perspectivas da realidade na saúde de trabalhadores.