Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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DESAFIOS DA ATUAÇÃO INTERDISCIPLINAR NA PERSPECTIVA DO SERVIÇO DE ATENÇÃO DOMICILIAR (SAD): UM RELATO DE EXPERIÊNCIAS
Marcilane da Silva Santos, Jessicka Araújo Batista, Lindinalva Dantas dos Santos

Última alteração: 2022-01-30

Resumo


O Serviço de Atenção Domiciliar (SAD) implantado em 2016, por meio da Portaria nº 825, de 25 de abril de 2016, integra o Programa Melhor em Casa, vinculado ao Governo Federal, e objetiva prestar assistência domiciliar multiprofissional a pacientes com demandas de média e alta complexidade, em que o/a cuidador/a também está integrado/a ao processo de cuidado dos pacientes atendidos pelo serviço. Este relato de experiências, tem como foco, o SAD de um município do estado da Paraíba que é composto por duas equipes, sendo uma Equipe Multiprofissional de Atenção Domiciliar (EMAD), formada por duas médicas, uma enfermeira, três técnicas de enfermagem e uma fisioterapeuta; e uma Equipe Multiprofissional de Apoio (EMAP), composta por uma assistente social, uma psicóloga, uma nutricionista e um odontólogo que prestam assistência às demandas da zona urbana e rural. O município possui 138.093 habitantes (IBGE, 2021), cujo Produto Interno Bruto (PIB) é de R$ 18.821, segundo dados do IBGE (2019). As demandas de atendimentos, em grande maioria, dizem respeito ao acompanhamento domiciliar de pacientes com sequelas neurológicas, neoplasias e cuidados paliativos. Tendo em vista que se trata de um serviço que envolve obrigatoriamente, a atuação interdisciplinar, o objetivo deste trabalho é discorrer acerca dos desafios inerentes à atuação interdisciplinar na perspectiva do SAD de uma cidade no estado da Paraíba.

O presente trabalho se trata de um relato de experiências de trabalhadoras do SAD de uma cidade no estado da Paraíba, envolvendo o tema da interdisciplinaridade e seus desafios no processo de trabalho. Inicialmente, é importante destacar que a base do trabalho interdisciplinar é a interdependência entre as especialidades. De acordo com Fazenda (2002), é também um posicionamento coletivo, um somatório de forças recíprocas entre profissionais em diversos campos do conhecimento, bem como pela junção das especialidades com o mesmo propósito. Desta feita, a interdisciplinaridade trata-se de um trabalho integrado entre várias especialidades, que juntas, atuam na direção do mesmo objetivo, sem interferir na conduta de cada saber profissional. No caso do SAD, recuperar o paciente do ponto de vista biopsicossocial, proporcionar o cuidado humanizado para a continuidade de sua vida ou em sua terminalidade, bem como, contribuir para a melhora de sua qualidade de vida em seu domicílio. O fluxo de trabalho do SAD do município em questão, é iniciado a partir do preenchimento de uma ficha de solicitação de visitas, que é realizada por meio de uma avaliação clínica de médicos/as da Unidades de Saúde da Família (USF) do município. Após avaliação e preenchimento da ficha, esta é encaminhada ao setor da Atenção Básica do município e posteriormente, entregue às/aos profissionais do SAD. Após o recebimento das fichas preenchidas, as profissionais que integram a equipe EMAD, realizam a visita de avaliação, chamada de elegibilidade. Caso o paciente tenha perfil para o serviço, é admitido pela equipe, e caso não tenha, é encaminhado novamente para a Atenção Básica (contrarreferência). No caso dos pacientes com perfil para o serviço (como aqueles que sejam acamados, em uso de dispositivos invasivos, com graves lesões por pressão, pacientes em cuidados paliativos etc.), estes passam a receber visitas periódicas (semanais ou quinzenais) da equipe multiprofissional EMAD e EMAP, de acordo com a necessidade apresentada pelo paciente.

É neste ponto relacionado ao cuidado profissional, que estão inclusos elementos muito importantes para a realização de um serviço de qualidade: a comunicação, o diálogo, a discussão frequente sobre os casos clínicos, o respeito entre profissionais, a colaboração e a atuação coletiva em prol dos benefícios para o paciente, incluindo os aspectos éticos inerentes a qualquer serviço de saúde. Podemos destacar que os elementos anteriormente citados são os primeiros desafios que uma equipe multiprofissional enfrenta, pois são profissionais que cumprem diferentes cargas horárias dentro do serviço, além de terem cada um/a expectativas e perspectivas que consideram relevantes para o cuidado com o paciente. Além destes, outros desafios podem ser destacados, como as diferenças culturais, políticas e sociais, que podem influenciar positivamente ou negativamente no processo de trabalho. Desse modo, é importante frisar que além de não existirem serviços de saúde que não enfrentem desafios, estes, apesar de existirem, não são intransponíveis. Portanto, o diálogo e a comunicação são um dos elementos-chave para a realização de um atendimento interdisciplinar humanizado e de qualidade. Nesta experiência em tela, podemos destacar, a realização de reuniões para discussão de casos clínicos como uma estratégia crucial para o bom alinhamento entre a equipe, bem como a integração entre a equipe EMAD e a equipe EMAP, além da escuta horizontal e do desenvolvimento do Plano Terapêutico Singular, em que todos os profissionais discutem e colaboram elencando objetivos inerentes ao cuidado de cada paciente. Outra estratégia importante a se destacar, é a colaboração, tendo em vista que a comunicação e o diálogo precisam partir de um pressuposto, que é o desejo de colaborar, pois um profissional verdadeiramente colaborativo, se mantêm disposto a compartilhar seus conhecimentos, a construir junto aos colegas de trabalho e se dedica a aprofundar-se nos temas que estiverem sendo debatidos, além de se manter disposto a ouvir. Sem estes elementos cruciais, a atuação interdisciplinar se torna frágil. Sabe-se que com as atribuições que cada profissional possui no dia a dia e com a quantidade de demandas que pode chegar até eles, estes elementos podem se perder ou serem fragilizados, portanto, é de suma importante que as equipes de saúde (sejam elas do SAD ou não) realizem autoavalições frequentes; o que poderíamos chamar de práxis profissional (reflexão-ação-reflexão), trabalhando e tendo sempre como base, os conceitos da interdisciplinaridade.

O tema abordado neste trabalho, além de atual, pode ser visto como relevante para as equipes multiprofissionais atuantes no Sistema Único de Saúde (SUS), incluindo o SAD, pois partimos do pressuposto de que a formação profissional dos trabalhadores da saúde no Brasil, pouco aborda e explora a interdisciplinaridade, o que se reflete, posteriormente na prática profissional. O presente relato de experiência apontou que os desafios internos inerentes ao processo de trabalho interdisciplinar podem ser superados por meio de estratégias simples e acessíveis, além de estudos em grupos sobre a interdisciplinaridade, tendo em vista, as fragilidades da formação acadêmica. Conclui-se que a interdisciplinaridade contribui positivamente para a atuação profissional dos trabalhadores do SAD, além de colaborar com a recuperação do paciente, que é o foco principal do serviço.