Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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TRABALHO EM EQUIPE OU EQUIPE DE TRABALHO? REFLEXÕES SOBRE O CUIDADO INTERPROFISSIONAL
Ana Beatriz Barros Ferreira da Silva, Talita Miranda Pitanga Barbosa Cardoso, Rocío Andrea Cornejo Quintana, Caroline Raíza Dourado Lima, Magno Conceição das Mercês, Silvana Lima Guimarães França, Marcia Cristina Graça Marinho, Marcio Costa de Souza

Última alteração: 2022-01-25

Resumo


APRESENTAÇÃO

A saúde é fabricada por meio do trabalho vivo em ato, já que a execução laboral do ser humano é executada no exato momento em que determina a produção do cuidado. Destaca-se aqui a necessidade do reconhecimento do Trabalho Vivo no processo produtivo do cuidado e que passa a ser permeado por tudo que é humano, agenciados por uma ética e se expressam pelo manejo das tecnologias de trabalho e as subjetividades que operam no cotidiano.

Portanto, o processo de trabalho em saúde é diferente/singular dos outros modos de produção de ordem laboral, composto por tecnologias do cuidado, mas deve estar centrado nas relações. Nele, devem-se articular elementos técnicos, do escopo de cada profissão, e recursos referentes às habilidades e as atitudes, enfatizando a valorização do outro, com um plano comum o cuidado, este como objetivo final do trabalho em saúde.

Assim, o cuidado em saúde é um trabalho coletivo, pois não há trabalhador de saúde que dê conta sozinho da complexidade do mundo das necessidades de saúde. Importante destacar que, há um campo comum entre todos os trabalhadores: todos participam da construção do cuidado, independentemente da sua formação, pois as valises tecnológicas consideradas leves, que produz relações, são, igualmente, de todos.

Diante do exposto, esta pesquisa tem como objetivo descrever sobre as diferenças existentes em sua formação das equipes de trabalho no campo da saúde e os elementos que constituem uma formação interprofissional.

METODOLOGIA

Este estudo trata-se de uma revisão de literatura, com período de coleta realizado entre julho e dezembro de 2021. A pesquisa abrange artigos científicos publicados em revistas indexadas com os mais diversos delineamentos, publicados nos últimos 10 anos, nos idiomas português e inglês.

As buscas dos artigos foram realizadas nas bases de dados eletrônicas: Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), PubMed e SciELO (Scientific Electronic Library Online). Foram utilizadas as palavras-chave: Trabalho; Assistência Centrada no Paciente; Continuidade da Assistência ao Paciente; e suas respectivas traduções em inglês (acrescidas dos operadores booleanos “AND” e “OR”), escolhidas mediante consulta prévia aos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS). O rastreamento foi realizado por meio das palavras encontradas nos títulos, assuntos e resumos dos artigos.

Alguns filtros disponíveis nas bases de dados foram adicionados para delimitação da pesquisa - textos completos; intervalo de ano de publicação: últimos 10 anos. Os artigos coletados foram selecionados por rastreio dos títulos (primeira etapa), resumos (segunda etapa) e leitura integral (terceira etapa). Posteriormente, foi realizada uma leitura exploratória dos estudos selecionados e, em seguida, leitura seletiva e analítica.

O processo de seleção e extração de dados dos artigos, assim como a identificação dos aspectos metodológicos foi realizado por dois revisores independentes. Quando ocorria algum desacordo entre eles, os revisores liam novamente o artigo na íntegra para reavaliação. Se a divergência persistisse, um terceiro revisor poderia decidir quais estudos deveriam ser selecionados, entretanto, não houve necessidade.

RESULTADOS

Devido ao caráter coletivo do trabalho em saúde, a atuação em equipe também é uma característica desse processo. Nos últimos anos têm ocorrido mudanças essenciais no modo de conceber o processo saúde e doença, influenciadas pela transição epidemiológica e demográfica e na discussão do modelo tecnoassistencial, seriam orientadas pela nova abordagem desses conceitos e da noção de atenção integral às demandas e necessidades. Dessa forma, vem se ampliando o debate em torno do trabalho em equipe com o reconhecimento da importância da integração e colaboração entre as diferentes equipes de um serviço e entre os diversos serviços das Redes de Atenção à Saúde (RAS).

Destarte, a organização do trabalho em saúde por equipes esbarra em duas noções distintas sobre tal processo. A primeira relaciona-se com o entendimento limitado de equipe como a coexistência de vários profissionais e trabalhadores num mesmo espaço físico, atendendo a um mesmo público, caracterizando uma equipe de trabalho. No entanto, essa concepção não dá conta de ilustrar e traduzir a importância da integração de todos os trabalhadores nesse processo, trazendo à tona a necessidade de distinguir as noções que recobrem a ideia de equipe.

Corroborando com este pensamento, as duas ideias citadas se referem ao entendimento de equipe como agrupamento de agentes (Equipe de Trabalho) e a equipe como integração de trabalhos (Trabalho em equipe). A primeira caracterizada pela fragmentação; a outra, pela articulação - correlações e conexões entre as diversas intervenções executadas, independente da sua natureza - consoante à proposta da integralidade do cuidado em saúde.

Apesar de ambas preservarem as diferenças técnicas de cada trabalho ou trabalhador, as tensões entre as diversas concepções, os exercícios de autonomia técnica e as diferenças entre as concepções quanto a independência dos trabalhos, a recomposição para a equipe integração requer a articulação das ações, a interação comunicativa dos agentes e a superação do isolamento dos saberes.

O fato de existirem equipes que reúnem diversos tipos de profissionais no mesmo local de trabalho, atendendo os mesmos usuários, não pressupõe que elas atuem de forma integrada e colaborativa, sendo este um dos principais desafios colocados pelo conceito de equipe multiprofissional. Não se trata de, apenas, juntar diferentes atores sociais em um mesmo espaço. A transição do multiprofissional para o interprofissional reforça a interação como um aprendizado para o desenvolvimento de competências colaborativas e para o efetivo trabalho em equipe, como uma condição singular e fundamental para o enfrentamento dos problemas e necessidades de saúde das pessoas.

Além disso, o trabalho em equipe pode se constituir como uma construção ativa, que implica enfrentar diferenças, relações de poder e com a potência de agenciar o diálogo entre os núcleos do saber, o qual se utiliza, muitas vezes, o matriciamento como ferramenta para proporcionar o trabalho em equipe.

O Apoio Matricial é uma metodologia tanto de trabalho em equipe interprofissional quanto em RAS, exercitando a cogestão, de maneira compartilhada e fluída, que nutri, estrutura e comunica as relações produzidas no cotidiano . Tem como objetivo, superar a lógica dos encaminhamentos e da fragmentação do cuidado, responsabilizando a equipe pelo cuidado, favorecendo, desta forma, a interprofissionalidade, ativando espaços de comunicação e deliberação conjunta para compartilhamento de saberes e organização de fluxos dentro da RAS. Neste arranjo matricial, os profissionais das áreas especializadas que não participam integralmente do cotidiano das Equipes de Referência, oferecem retaguarda especializada e suporte técnico-pedagógico a estas equipes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pode se afirmar, portanto que, a troca de experiências e o compartilhamento de saberes contribuem, de modo dinâmico e interativo, para ampliar a construção de Projetos Terapêuticos Singulares, favorecendo a integração dialógica entre distintas profissões e/ou especialidades, além de colaborar com uma melhor distribuição de poder entre os diferentes atores envolvidos.

Quando pensamos nos múltiplos determinantes e condicionantes do processo saúde-doença-cuidado de cada ser vivente enquanto, também, pertencente a um território e o sentido da ampliação do conceito de saúde, devemos considerar o trabalho em equipe agrupamento e a participação da equipe de forma interprofissional e colaborativa, inserindo os usuários no processo de elaboração dos seus projetos terapêuticos, proporcionando o vínculo e o reconhecimento da singularidade na produção de existências nas relações intersubjetivas.