Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO E ECONÔMICO DE PUÉRPERAS QUE RELATARAM TER SOFRIDO VIOLÊNCIA PERPETRADA POR PARCEIRO ÍNTIMO AO LONGO DA VIDA
Glenda Pereira Lima Oliveira, Isadora Pirschner Lopes, Júlia Rezende Scheidegger, Luciana Carrupt Machado Sogame, Gracielle Pampolim

Última alteração: 2022-01-24

Resumo


APRESENTAÇÃO: Muitas mulheres vivem em situação de risco e vulnerabilidade domiciliar provocada pelo próprio parceiro íntimo, isto é, o companheiro ou ex-companheiro com o qual manteve-se relação sexual, e algumas podem vivenciar atos ou verbalizações violentos capazes de lesionar, tanto fisica, quando emocionalmente sua vida, configurando, assim, uma questão complexa e multifacetada, com necessidade de uma equipe de saúde multidisciplinar e bem estabelecida para lidar com as repercussões. O processo histórico brasileiro e a sociedade ainda muito patriarcalista contribuem para a perpetração de episódios de violência, uma vez que a figura feminina representa fragilidade e, na grande maioria das vezes, deve ser submissa à vontade masculina dominante, culminando com o aumento da desigualdade de gênero, apesar de movimentações ativas e passivas contra esse pensamento. A violência perpetrada por parceiro íntimo (VPPI) pode ser caracterizada por ações capazes de provocar danos e/ou sofrimento físico, mental ou sexual à mulher, afetando sua integridade e dignidade. É comum encontrar a VPPI durante a gestação e o puerpério, fases em que muitas mulheres se encontram mais vulneráveis e sujeitas a coerções de ordem física e psíquica. A violência doméstica costuma ocorrer de forma escalonada, ou seja, inicia-se por agressões psicológicas, com ameaças verbais, humilhações e manipulações, evoluindo para a forma física, com tapas, empurrões e até uso de materiais perfurocortantes. Isso reflete o predomínio das notificações, sendo maiores as de caráter físico, quando, na verdade, a maioria já vivenciou a violência psicológica anteriormente. Vale destacar que, no período gravídico e puerperal, estudos indicam que a violência sexual tem um ligeiro aumento dentre as demais, o que pode estar relacionado com a diminuição da libido e as alterações fisiológicas proporcionadas pela própria gravidez. Em vista disso, esse trabalho tem por objetivo descrever o perfil sociodemográfico e econômico de puérperas que relataram ter sido vítimas de violência perpetrada por parceiro íntimo ao longo da vida, assistidas por uma maternidade pública de Vitória-ES. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: Trata-se de um estudo observacional transversal de caráter quantitativo e descritivo, realizado com 65 puérperas assistidas pela maternidade pública Pró-Matre, em Vitória-ES. As informações foram coletadas por meio de entrevistas com equipe previamente treinada e realizada face a face com registro na plataforma Google Forms e questionário que envolvia questões relacionadas à situação sociodemográfica e econômica, e o histórico de violência. Como critérios de inclusão foram estabelecidos tempo mínimo pós-parto de 24 horas, estar sob assistência da maternidade em questão e ter assinado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) ou o Termo de Assentimento Livre e Esclarecido (TALE), se puérpera menor de 18 anos. Excluiu-se as puérperas que possuíam déficit cognitivo ou outros distúrbios que impeçam de compreender os questionamentos a serem respondidos, bem como as menores de 18 anos cuja participação não foi permitida pelo responsável. A VPPI foi analisada através do instrumento World Health Organization – Violence Against Woman Study que avalia a ocorrência de violência psicológica, física e sexual, para este estudo utilizando o recorte de tempo “ao longo da vida”. As variáveis utilizadas para descrever a amostra foram faixa etária, padronizada em intervalos de 5 anos; raça/cor (branca, parda, preta ou amarela); situação conjugal atual (casada, namorando, solteira, em união estável ou divorciada); nível de escolaridade em anos de estudo (até 4 anos, de 5 a 9 anos, de 9 a 12 anos ou maior que 12 anos); se possui ou não ocupação laboral; se possui ou não religião; condições econômicas, levando em consideração os níveis propostos pela Associação Brasileira de Empresas e Pesquisa (ABEP) (níveis A, B, C1, C2 ou D-E); e condições de moradia (própria, alugada ou cedida). A análise estatística foi representada de forma descritiva, por meio de tabelas de frequências absolutas e relativas. O estudo faz parte de um projeto primário intitulado “Violência doméstica e percepção social: estudo em uma maternidade pública de Vitória-ES” que foi aprovado pelo CEP/EMESCAM sob o número 4.734.133, respeitando as normas estabelecidas pela Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisa Envolvendo Seres Humanos sob a resolução 466/12. RESULTADOS E/OU IMPACTOS: Ao todo, 30 mulheres sofreram violência psicológica ao longo da vida e o perfil delas consistiam em sua maioria de idade entre 20 e 24 anos, autodeclaradas brancas, com companheiro ou cônjuge, com escolaridade de 9 a 12 anos e que seguiam a religião evangélica. A classificação econômica da maior parte, de acordo com a ABEP, era baixa (D-E) e não possuíam emprego formal, porém moravam em imóvel próprio. No que diz respeito à violência física, 17 mulheres relataram já ter sofrido agressões ao menos uma vez na vida e a caracterização delas consiste em mulheres de idade jovem (16 a 24 anos), que se autodeclaravam pardas ou pretas, com grau de escolaridade até o ensino fundamental completo (9 anos) e que possuíam religião evangélica. O nível econômico destas também é considerado baixo (D-E) e, igualmente, não possuem emprego formal, mas possuem imóvel próprio. Por fim, 11 puérperas informaram ter sofrido violência do tipo sexual, sendo que a maioria tinha idade entre 20 e 29 anos, considerava-se branca ou parda e possuía relacionamento estável (casada, namorando ou em união estável). Quanto ao grau de escolaridade, predominava-se até 9 anos de estudo e mais da metade relatou ser evangélica. O nível econômico predominante era o C e a maioria morava em imóvel alugado ou cedido por familiares/amigos, bem como possuía emprego formal. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Percebe-se que a violência psicológica teve maior predomínio entre as puérperas, que pode ser explicada pela simplicidade dos atos agressivos, expressos por palavras de humilhação, ameaças, diminuição da autoestima ou limitação de liberdade. Comumente, a violência psicológica é o primeiro passo da violência doméstica, que poderá evoluir para a violência física, como o observado na amostra sendo o segundo tipo de maior prevalência. Pode-se enumerar como possíveis fatores relacionados à VPPI a idade jovem, a baixa escolaridade e o desemprego, pois estão intimamente relacionados com a maturidade emocional, independência financeira e experiência de vida das mulheres. Junto disso, o baixo nível socioeconômico da maioria que sofreu VPPI demonstra que casos de violência estão relacionados com a baixa renda e, possivelmente, dependência financeira do parceiro íntimo. Outro fator que também pode interferir nos casos de violência é o estado conjugal, em especial nas mulheres solteiras, pois ter um relacionamento estável pode configurar relativa proteção para os casos de violência intradomiciliar. Por fim, planos de enfrentamento à VPPI, principalmente durante a gestação e o puerpério, deveriam se basear também nas informações socioeconômicas com a finalidade de direcionar as práticas para a população de risco, identificando as variáveis mais expostas.