Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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O USO DE MIRANTES NO ENSINO DA EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE: UMA ESTRATÉGIA DE ENSINO-APRENDIZAGEM
Natânia Candeira dos Santos, Carina Corrêa Bonates Campos, Geilsa Soraia Cavalcanti Valente, Patrícia Marano Lima, Simone Fátima de Azevedo, Marcelle Ignácio Rebello, Tatiane Jardim Costa, Elaine Antunes Cortez

Última alteração: 2022-01-24

Resumo


Apresentação: O estudo através do uso de mirantes é um condutor para a observação da realidade em que os temas sugeridos ou as situações vivenciadas no trabalho acontecem. Neste sentido, são ferramentas adequadas para a reflexão crítica e para a sistematização do conhecimento, uma vez que podem ser escritos e analisados em evolução e ascendência de conceitos a serem estudados, analisados e compreendidos. O ensino-aprendizagem a partir dessa estratégia estimula os estudantes a refletirem sobre a práxis de modo autônomo e problematizador, incentivando um despertar para o cotidiano do trabalho e para as próprias práticas. Assim, o objetivo dessa pesquisa é relatar a experiência do uso de mirantes no ensino da educação permanente em saúde. Desenvolvimento: Esse estudo relata uma experiência conduzida no âmbito de um Mestrado Profissional em Ensino na Saúde, na disciplina de educação permanente dos trabalhadores em saúde, no ano de 2021. Essa disciplina tem como desafio o estudo da educação permanente em saúde e sua aproximação com os serviços nos diversos âmbitos de trabalho, inclusive nas atividades de gestão em saúde e na formação de educadores. A turma, composta por 41 alunos, trabalhou inicialmente com a construção de mapas conceituais e de questões norteadoras que auxiliaram na condução da discussão em cada encontro. Essas atividades eram complementadas com vídeos, filmes e casos, espelhados através da prática profissional nos diversos contextos, dentre eles: atenção primária; reuniões de equipe; encontros para discussão de educação permanente; atenção terciária, entre outros. Dessa maneira, conceitos sobre educação permanente foram sendo trabalhados, de modo que houvesse um amadurecimento prévio para o posterior estudo com os mirantes. Assim, foram trabalhados três mirantes, em momentos distintos, divididos em: situação educativa vivenciada, construção da ação gerencial no trabalho em saúde coletiva e aprendizagem significativa no trabalho. No mirante 1, ao estudar uma situação educativa vivenciada, objetivou-se repensar, através do pensamento crítico, a mudança de práticas, a partir da identificação dos coletivos e dos processos de trabalho em que a ação educativa estava inserida, bem como, os seus efeitos sobre o cuidado em saúde. Foi possível ponderar se as ações conduzidas no território implicavam efetivamente na problematização das práticas em saúde, entendendo que para que isso ocorra, é necessário que o diálogo seja desenvolvido no concreto do trabalho das equipes, em que os trabalhadores passam a ser atores sociais que produzem um trabalho conduzido pelo direito à saúde e na luta pela gestão do sistema e dos serviços. Por conseguinte, no mirante 2, a problematização implica na construção de uma ação educativa e/ou gerencial no trabalho em saúde. Para isso, utiliza-se o conceito da caixa de ferramentas, inspiradas na reflexões de Emerson Merhy, que traz como ferramentas básicas a rede analisadora do processo de trabalho, a rede explicativa de problemas e nós críticos e a rede de co-gestão de coletivos, que buscam ampliar a visão e a compreensão de como as atividades são realizadas no cotidiano dos serviços. A definição de problemas e nós-críticos deve estar articulada ao coletivo, uma vez que os atores do processo de trabalho observam as questões a partir de suas experiências, valores e interesses, e neste sentido, a discussão coletiva tende a potencializar a ação educativa em construção, de forma que possibilite a produção de efeitos positivos. Discutiu-se ainda nesse mirante as tecnologias leves construídas em ato, uma vez que o trabalho vivo em ato ocorre e dá significado ao trabalho no exato momento em que a atividade é produzida, o que possibilita a interação e a inserção do usuário no processo de produção da própria saúde. Isto posto, todas as reflexões desde a construção dos mapas, o estudo dos casos, a produção das questões norteadoras e o estudo dos dois primeiros mirantes culminaram de modo profundo e intenso no mirante 3, ou seja, na aprendizagem significativa no trabalho. Pensar na aprendizagem significativa é refletir sobre uma aprendizagem motivada pelos próprios atores para a apropriação de novos saberes e novas práticas, sendo estes capazes de dialogar e problematizar no concreto do trabalho e, a partir disso, construir relações mais fortes em equipe e instituições, além de novos modos de trabalho, os quais podem ter um caminho difícil de ser percorrido, mas possível a partir da construção coletiva. Resultados e/ou impactos: O ensino remoto durante a atual crise sanitária tem se mostrado desafiador tanto para estudantes quanto para professores, e nesse sentido, a utilização de estratégias e de metodologias ativas tem se mostrado eficaz durante o processo de ensino-aprendizagem. No mestrado profissional de ensino na saúde, que tem como um dos focos o estudo da educação permanente em saúde, a sala de aula invertida e os mapas conceituais, por exemplo, agregados à produção dos mirantes agiram como um potente catalizador no desenvolvimento do conhecimento e de uma integração ensino-serviço, uma vez que o cotidiano dos serviços e os coletivos foram partilhados e refletidos em meio à educação permanente em saúde. Dessa maneira, essas atividades foram incentivadoras para a ação-reflexão-ação, transmutando a aprendizagem em coletiva e recíproca. A estratégia de ensino-aprendizagem utilizada ampliou o debate, fornecendo mais robustez na discussão, o que possibilitou um olhar diferenciado para os problemas, nós-críticos e para as divergências entre o ideal e o real construído nos serviços. Considerações Finais: Apoderar-se dos conceitos e da aplicabilidade na prática da educação permanente em saúde colocou em evidência a necessidade de aprimorar conceitos de co-gestão, compartilhamento do poder, planejamento estratégico e organização do trabalho em saúde, de forma a possibilitar condições de liberdade para agir no serviço a partir da relação entre os atores sociais. O uso dos mirantes pode atuar como uma proposta de construção compartilhada que conduz para a interdisciplinaridade e para um maior fortalecimento da educação permanente em saúde no cotidiano do trabalho, em que os trabalhadores podem problematizar, discutir criticamente e planejar as próximas ações com mais solidez e eficácia. Recomenda-se estimular continuamente atividades que oportunizem relações dialógicas, a troca de experiências e saberes, a construção de elos e o aprimoramento da escuta, visto que é notório através dos debates a presença de demandas sensíveis pela população em que o trabalho vivo acontece.