Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Comunicação e educação - direitos de cidadania na Estratégia Saúde da Família
Cheila Pires Raquel, Gerardo Clésio Maia Arruda, Kelen Gomes Ribeiro, Ivana Cristina de Holanda Cunha Barreto, Luiz Odorico Monteiro de Andrade

Última alteração: 2022-01-21

Resumo


Apresentação - O presente estudo busca deslindar, a partir de uma releitura da teoria da comunicação e de sua intersecção e aplicação no campo da saúde, a importância de ações de educação em saúde para o desenvolvimento de habilidades comunicacionais na Estratégia Saúde da Família, visando o fortalecimento da cidadania por meio de ações de promoção e prevenção da saúde. Tem-se, portanto, como objetivo verificar de que forma a comunicação pode funcionar enquanto instrumento para qualificar a relação entre profissionais de saúde e usuários da ESF, constituindo-se em um direito de cidadania. A Estratégia Saúde da Família representa o mais alto grau de descentralização e capilaridade no âmbito do SUS, o elo entre a comunidade e o Sistema e um centro de comunicação rico em construção de vínculos, interações e conflitos. Nesse cenário, a democratização da comunicação cria condições para que seja garantido o exercício da cidadania e da participação popular, princípios constitutivos do SUS e estruturantes da ESF. Comunicar-se não se trata apenas de buscar, receber e transmitir informação, mas sobretudo ser ouvido e compreendido na mensagem que se quer passar. Enquanto houver impeditivos para a plena realização desse direito, é dever do Estado promover a superação dessas desigualdades. Sendo assim, o acesso à comunicação é a garantia tanto da liberdade de expressão quanto do direito à informação e se faz presente a partir de ações de educação.

Desenvolvimento - Este estudo está alicerçado em revisão bibliográfica realizada entre agosto e outubro de 2020 nas bases de dados Scielo, Scopus e PubMed, do Portal Periódicos da CAPES, com objetivo de subsidiar o escopo teórico de uma dissertação de Mestrado que analisou a relação médico-paciente na Estratégia Saúde da Família apresentada ao Programa de Pós-graduação em Saúde Pública da Universidade Federal do Ceará. Com a palavra-chave "Comunicação em Saúde" mais de 300 publicações foram localizadas entre artigos, teses e dissertações dos últimos cinco anos, sendo que foram selecionadas 35 por atenderem ao objeto que se pretendia aprofundar. A partir do mergulho nesses textos, encontrou-se que por meio das ações de comunicação em saúde, os participantes do Sistema Único de Saúde, sejam profissionais ou usuários, podem adquirir meios de conscientizar-se acerca de direitos e deveres para com o SUS, de forma individual, em equipe, em comunidade etc. Trata-se de um processo em que o indivíduo passa a ter voz ativa, o que aumenta a variedade de mensagens e influencia a qualidade da representação social. A horizontalização das relações altera a estrutura social a partir do desenvolvimento de uma consciência crítica que reflete nas relações de poder. Cabe aos usuários e profissionais agora o papel de falantes e ouvintes em uma relação dialógica para que o agir orientado ao entendimento possa dar voz aos usuários, considerando o contexto em que vivem e aproximando os profissionais dessa realidade. A capacidade de se estabelecer esse diálogo é que permite a humanização da assistência. Uma linguagem clara e de fácil entendimento adquire uma importância proporcional à realização de um procedimento técnico, a partir do momento em que o profissional simplesmente transmite segurança e a credibilidade, diminuindo a ansiedade do paciente. Tais habilidades requerem um clima onde devem ser cultivadas atitudes de respeito e confiança. Um profissional considerado competente pode ter a eficácia limitada se não for capaz de desenvolvê-las. Comunicar vai permitir conhecer o paciente e não somente a doença que o afetou, um relacionamento que por si só já oferece um efeito terapêutico. Por isso a necessidade de profissionais de saúde qualificados não apenas nos aspectos tecnocientíficos, mas também e principalmente na subjetividade humana. Entretanto, para que esse cenário se concretize é necessário investir na capacitação dos profissionais de saúde em habilidades comunicacionais, tendo em vista que a comunicação é um fio condutor que leva a uma assistência humanizada no cotidiano de trabalho da ESF. A pesquisa encontrou que a ampliação do direito à comunicação pode acontecer a partir de intervenções em Educomunicação, que facilita a apropriação de tecnologias e habilidades de comunicação estimulando uma postura crítico-reflexiva das pessoas. A equalização dessa relação assimétrica entre usuários e profissionais de saúde deve amenizar inclusive a juridificação da relação, a partir da criação de condições para que o usuário possa exercer o direito de conhecer e compreender detalhes da sua situação de saúde, saindo de uma atitude passiva para tornar-se um membro da equipe que cuida de sua própria saúde e dos seus familiares, fortalecendo um trabalho alicerçado na empatia e confiança.

Considerações finais - A capacitação dos profissionais de saúde em habilidades comunicacionais é, portanto, uma relevante necessidade para que a essência de cuidado humanizado e integral da Estratégia Saúde da Família se concretize, tendo em vista que a comunicação é um fio condutor que leva a uma assistência humanizada no cotidiano de trabalho da ESF. A ausência de investimentos em capacitação nesta área pode transformar-se em fator de angústia para profissionais, que muitas vezes aprendem a comunicar-se no contexto limitado de transmitir corretamente uma informação, sem adentrar na interação dialógica com o usuário. Leva ainda essa defasagem a uma falta de envolvimento e compromisso do usuário com o tratamento proposto e a busca de alternativas na internet ou mesmo na justiça, juridificando uma relação que deve ser trabalhada no dia a dia da ESF. Sugere-se, portanto, um investimento na formação comunicacional dos profissionais de saúde desde a graduação e ações de educação permanente no cotidiano da ESF. No caso dos médicos, a competência comunicacional está inclusa nas Diretrizes Curriculares Nacionais desde 2014, mas na prática limita-se a oferta de algumas disciplinas optativas ou a apresentação do conteúdo de maneira informal e pontual. Conhecer técnicas de habilidades comunicacionais baseadas em atitudes como a orientação clara dispensada no atendimento, durante visitas domiciliares, realização de exames e outras atividades vai refletir diretamente no fortalecimento do vínculo do usuário não somente com o profissional, mas com o próprio serviço de saúde e, coletivamente, com a comunidade do qual esse indivíduo faz parte. Aprofundar essas questões leva a uma reflexão acerca da influência da comunicação no empoderamento das pessoas, no sentido de abrir um mundo de conhecimentos que antes não estava acessível.  Tal processo emerge a partir do desenvolvimento do pensamento crítico. Não se trata de dar poder as pessoas, mas torná-las capazes de ganhar poder sobre suas próprias vidas, impactando nas relações sociais e no fortalecimento de uma cidadania plena.