Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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A experiência de Pós-Graduandas na Representação Discente: um olhar para a formação
Priscila Norié de Araujo, Kisa Valladão Carvalho, Poliana Silva de Oliveira, Karen da Silva Santos, Janaina Pereira da Silva, Maristel Kasper, Cinira Magali Fortuna

Última alteração: 2022-01-21

Resumo


Apresentação: A Universidade de São Paulo (USP) estabeleceu na resolução nº 7265 de 07 de outubro de 2016 que o corpo discente possui direito à representação com voz e voto dentro de seus órgãos e colegiados. Os Representantes Discentes (RD) eleitos são figuras que possuem papel importante na comunidade acadêmica por participar de decisões fundamentais relativas a melhorias e mudanças da unidade de ensino e da USP. Fora do Brasil, estudantes que realizam o doutorado em cotutela, visando a dupla-titulação, também têm a oportunidade de se candidatar à representação discente na universidade no exterior. Neste sentido, o objetivo deste trabalho é compartilhar as experiências de pós-graduandas na representação discente e suas contribuições na formação docente e cidadã de uma instituição de ensino superior brasileira da área da saúde e uma instituição de ensino superior francesa, da área da educação. Desenvolvimento do trabalho: Trata-se de um relato de experiência de pós-graduandas, autoras deste relato, que assumiram a representação discente (RD) nos anos de 2017 a março de 2022 dentro dos colegiados e departamentos de uma unidade de ensino da USP e da representação discente entre maio de 2021 a janeiro de 2022 em CY Cergy Paris Université. A atuação das RD’s ocorreu no departamento de Relações Internacionais, Congregação, Comissão de Pós-graduação do Programa Enfermagem em Saúde Pública e Comissão do Programa Mestrado Profissional “Tecnologia e Inovação em Enfermagem”, através de reuniões periódicas ordinárias mensais e extraordinárias (casos urgentes). As RD’s foram eleitas pelos demais pós-graduandos regularmente matriculados nos programas de pós-graduação da referida instituição. O mandato foi de 12 meses em cada comissão e/ou colegiado. Na instituição francesa, a representação se deu junto à Escola de Doutorado, com um mandato previsto de três anos. Diferentemente do que ocorre no Brasil, na universidade francesa a candidatura não é individual, o candidato deve compor uma lista representativa que contemple alunos de todos os laboratórios de pesquisa, sendo uma das vagas como titular e a outra suplente. No caso da lista de candidatura, os alunos interessados devem redigir uma carta aos representantes discentes que estão concluindo seu período, argumentando de que forma pretende contribuir com a lista de inscritos e que atributos pode oferecer nessa posição. Dentre as comissões da Escola de Doutorado que o estudante pode contribuir estavam: organização das Doctoriales (evento que integra os estudantes de todos os laboratórios que compõem a Escola de Doutorado), Newsletter construída pelos representantes com participação dos demais doutorandos, Comissão para discutir sobre as formações e seminários (disciplinas), Comissão sobre a profissionalização do doutorando e formas de financiamento, Comissão de acolhimento dos novos laboratórios de pesquisa (grupos de pesquisa), Comissão sobre as normativas dos estudos doutorais (Comitê de Acompanhamento de Tese – Comité de Suivi de ThèseResultados e/ou impactos: Durante o período como RD’s foram vivenciadas diversas situações que exigiram discernimento e postura ética. Em alguns casos foi necessária uma consulta aos pós-graduandos para o debate como, por exemplo, a escolha do novo Reitor e Vice-Reitor. A colaboração em relatórios como o Sucupira, o qual é direcionado para a avaliação dos programas de pós-graduação e a construção de eventos relacionados aos processos de cotutela de tese, por exemplo, também foram espaços importantes de aprendizado para as RD’s. A participação na comissão do mestrado profissional propiciou o acompanhamento e avaliação de produtos e processos de pesquisas em saúde e discussões, reflexões sobre a condução de um curso de pós-graduação que apresenta como foco a articulação entre universidade e serviços de saúde, e busca uma qualificação científica diretamente aplicada à prática profissional em enfermagem. A participação nas comissões e colegiados, possibilitou o contínuo desenvolvimento das competências de negociação, mediação de conflitos e da escuta. A experiência na função como RD, permitiu às pós-graduandas que exercessem posições importantes dentro da academia exigindo responsabilidade frente às decisões tomadas, postura crítico-reflexiva como “porta-voz” dos interesses dos alunos, representando uma coletividade. Ressalta-se como dificuldade a mobilização dos demais estudantes para que a representação não se torne auto-representação. Esse aspecto relaciona-se não só as características locais, mas também a crise dos modelos de representatividade vivenciados na sociedade brasileira. Por outro lado, o reconhecimento de projetos em disputa permite considerar movimentos de embate e de diversos projetos na arena da formação permeada por poderes e saberes. No caso da universidade francesa, a representação apresenta semelhanças com a universidade brasileira no que tange à mobilização dos estudantes junto à vida da universidade. Um dos pontos que mobiliza os estudantes nos dois países a assumir essa posição é a aquisição de maior visibilidade junto aos professores, o que pode favorecer a entrada como professor temporário ou permanente na universidade. Uma crítica que se coloca nesse caso é o lugar da representação servir de alavanca para conquistas pessoais, ficando em segundo plano sua missão principal, que seria discutir e interrogar os processos instituídos, reivindicando melhorias para os estudantes. Uma situação vivida por uma das autoras do presente resumo tornou visível as forças dos poderes em disputa, em uma ocasião que os representantes ao invés de votarem conforme as definições que haviam sido produzidas no coletivo de representantes estava inclinado a mudar o voto no dia da votação, considerando as forças do poder instituído que atuavam naquele instante. Considerações finais: A participação de pós-graduandos como RD contribuiu para a formação de futuras docentes que pretendem atuar na formação de profissionais da saúde. Entender as lógicas instituídas nesses espaços, principalmente em relação à gestão universitária, foi um marcador da importância da representação discente. Além disso, permitiu compreender a complexidade da formação docente que não se restringe apenas a sala de aula, a educação precisa articular-se com diferentes saberes e considerar disputas de projetos, saberes e poderes que impactam o ensino, pesquisa e extensão, sobretudo no campo da saúde. A experiência de representação discente em um país estrangeiro trouxe aprendizados diferentes daqueles vividos na representação discente no Brasil. Em um país estrangeiro, a representação precisa se articular com estudantes provenientes de vários outros países, com nacionalidades, culturas e línguas diferentes, o que traz uma complexidade para estabelecer diálogos e tornam a produção de relações mais complexas também.