Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Abraço Presente
Clarissa Dantas de Carvalho, Maria Rocineide Ferreira da Silva, Emanuella Cajado Joca, Olga Damasceno Nougueira de Sousa, Raimundo Severo Junior, Genivaldo Macario de Castro, Claudia Marques Comaru, Mayana de Azevedo Dantas

Última alteração: 2022-01-23

Resumo


Este trabalho é trata-se de uma proposição de ExperimentAção Estética Política Afetiva, desenvolvida por uma trabalhadora da saúde, que encontrou na atividade do bordado um modo de catalisar as reflexões, emoções. A partir da aprendizagem da atividade do bordado, reinventar o cotidiano e dar vazão a sentimentos durante o período pandêmico. Iniciei a ritualística meu ato Psicomágico (Alejandro Jodorowsky) do Abraço Presente, que se faz em presentear as pessoas amadas com a imagem de um abraço bordada no bastidor como um “amuleto”, símbolo que evoca e materializa o afeto. No laboratório quero dar continuidade e promover reflexões e ampliar o alcance de meus abraços presentes - AbRaSUS! VEM VACINA!: As pessoas que perderam familiares em decorrência ao adoecimento pela covid-19.Aos meus colegas profissionais da saúde cansados porém, que seguem incessantemente na atenção cuidado aos pacientes e que também (são gente, não heróis, GENTE!!!) adoecem, falecem e perdem familiares. Abraçar ao nosso querido Sistema Único de Saúde – SUS como ato político para fortalecimento e resistência frente a todos ataques, desmantelos do atual desgoverno. Seguirei a minha narrativa contextualizando a minha proposta e os percursos que venho trilhando para a sua insurgência, idealização, concepção e redimensionando do próprio ato do abraço, que muitas vezes é subestimado, rejeitado, negado, erotizado, percebido com menos importante, e convidar as pessoas se permitirem ser afetadas e receberem uma demonstração de amor, carinho que É SIM valioso que nos nutre, impulsiona e nos faz seguir na vida. Conversa O que é o abraço? Quais sensações e emoções invoca esse gesto no encontro entre duas pessoas? Como seguir... seguuuuiiirrrr em meio a tantos AfeToS? E o AbRaÇo onde fica, não fica?! Se perde, se esvai em meio à impossibilidade de ser tocad@? O Abraço é um gesto de ConTaTo entre dois seres, afirma através deste o pacto de aaaafeto que se faz no encontro de um com o outro. O Gesto se faz por meio da inteireza na presença daqueles que o partilham, concretizando-se através do movimento de alternância e enlace dos braços que envolve um ao corpo do outro. - Ei, eiiiii...! Vem cá! Dá aqui um ABRAÇO!... Uma das minhas marcas registradas é o abraço. Posso me considerar uma expert ao se tratar deste tema. Sabe o abraço valeeeendo mesmo? Aquele que só presta se for de corpo inteiro, daqueles que não passa nem uma agulha entre os corpos, sabe como é?! Para mim se faz presente na presença em que sinto o meu coração e o do outro baterem, percebo a expansão e retração do ciclo de nossas respirações. Nossa quantas vezes já ouvi: - Como seu abraço não há! – Ai, que saudade do seu abraço!, - Aprendi a abraçar com você, sabia?! – Dra. vai mesmo me dá um abraço? - Quer saber? EU VOU SEGUIR ABRAÇANDO!!!!! A importância do abraço/afeto para mim. Por que o abraço é um ato político? Vivemos em uma sociedade em que as relações estão cada vez mais liquidas, distância que já vem se instaurando cada vez mais entre nós, bem mesmo antes das medidas protetivas de distanciamento devido a atual condição da pandemia da Covid- 19. Já se fazia, existia a se-pa-ra-ção (seria forte dizer apartheid?!). Sou mulher e abraço! ABRAÇO SIM !!!. A maldade se faz nos olhos dos que fantasiosamente veem, porém que pouco se afetam e nada mudam. Quantas vezes percebi o olhar malicioso, comentários desnecessários em relação à erotização do gesto do abraço. ACREDITO, o afeto É revolucionário (afeto em todos os sentidos da palavra) e a minha poética, a minha revolução também é pelo Abraço – PARTILHA - onde se dá e recebe ao mesmo instante. O abraço guarda em si o acolhimento, a empatia, tranquilidade, sentimento de pertencimento, possibilita a visibilidade, evoca a sensação de segurança. Pois é, tudo isso e mais um tanto se faz presente no abraço. No abraço que me vejo e sou, me percebo e manifesto em contato/encontro com o outro. O Caminho Ritualística do abraço, fazer-se presente com o traçado das linhas. Um dia desses lembrei das músicas do meu querido Gilberto Gil, Aquele Abraço, e a Linha e o Linho. A primeira, apesar de tão alegre, versa sobre a sensação de saudosismo, daquele que se vai e deseja ficar e espalha abraços por onde for/aos que cruzam o seu caminho e até mesmo – “aquele que me esqueceu... aquele abraço!”. A segunda canção é como uma declaração ao ato de permanecer, de sustentar e afirmar o AMOR com “A” que é tecido dia a dia em todas suas matizes, nuances... suas cores! Me afeto e nesta confluência de permanecer aberta ao que me toca, provoca e incomoda. Partindo disso, e que o afeto é revolucionário, manter espaços de expressão, experimentação e de encontro com isto, aquilo o outro que se dispõem diante a mim e me faço permeável a este afeto, reaciono em ato revolucionário em acreditar na expressão do amor, além de uma intenção romântica idealizada mas, de um amor que pode nos nutrir e sustentar da força para seguirmos, o Abraço acalma a alma aconchega, restaura , acolhe dor e traz a sensação de proteção e segurança, quem não quer ou deseja sentir-se seguro, amado e protegido no atual contexto que estamos enfrentando? Na ritualística deste amor que se faz presente nestas linhas, cores, deixo o meu contato, afago presença a aqueles e aquelas que me são preciosos, estimados, uns que há tantos meses não os vejo mas que meu abraço chega, na memória da sensação presente em nossos corpos do abraço que remete ao nosso encontro, afeto, contatos que me são caros, um ato político. A partir do de meu desejo de seguir abraçando mesmo apesar (“de” como diria Clarice Lispector) do isolamento social, venho distribuindo abraços, as pessoas que não vejo há muito tempo... para aquelas que foram embora e não pude me despedir, para amiga que adoeceu e não pude estar perto. Me faço pertinho abraçando com o meu abraço presente. Que são abraços bordados e entregues como presentes para as pessoas amadas que me afetam, que compartilham comigo a vida. Uma sagrada ritualística de afirmação de nossos afetos, abraços, amparo e força que juntos seguiremos.