Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida
v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Última alteração: 2022-01-20
Resumo
Este relato de experiência visa apresentar o desenvolvimento do projeto intitulado "Farmácia Viva" (FV), implantado no Centro de Saúde Jardim São Marcos (CS), Campinas-SP, este projeto atua no âmbito do cuidado e assistência na atenção primária, favorecendo o reconhecimento dos saberes tradicionais e valorização das práticas populares. Foi desenvolvido por profissionais do CS, residentes do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Criança e Adolescente, tutores (docentes da Universidade Estadual de Campinas) e usuários.
As plantas são elementos facilitadores do cuidado, da escuta e do vínculo, favorecendo práticas dialógicas e menos prescritivas, caracterizando-se como uma das Práticas Integrativas e Complementares de Saúde (PICS). A Portaria nº 886/GM/MS, de 20 de abril de 2010 institui no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), este modelo de farmácia, que prevê o cultivo de plantas medicinais até a produção de fitoterápicos.
Em 2020, no contexto pandêmico da COVID-19, foi idealizado e implementado o projeto FV no CS, dentro do Programa Farmácias Vivas, da Secretaria Municipal de Saúde de Campinas. A instalação da FV contou com a doação de mudas de outros serviços da rede, usuários e trabalhadores.
Em 2021, com a flexibilização das medidas restritivas da pandemia, com o objetivo de aproximar a população local à FV, foram realizadas ações para difundir o conhecimento científico sobre as plantas medicinais. Entre as ações, foi criado um manual com referencial teórico, para a utilização dos profissionais da unidade, que embasou a criação de um varal informativo. Este varal foi desenvolvido com linguagem acessível sobre as 47 plantas medicinais existentes na FV do CS, contendo o nome científico e popular, indicações e contra indicações de uso e forma de preparo, exposto de forma permanente na área da FV, de livre acesso.
Para difundir e inaugurar a FV para a população, foi realizado um evento com a distribuição de mudas, incentivo ao consumo e esclarecimento de dúvidas sobre as plantas medicinais. Com este evento foi possível atingir aproximadamente 100 pessoas, promovendo não apenas a disseminação do conhecimento sobre as plantas, mas também o cultivo e o incentivo do uso destas.
No ano de 2020, devido às restrições da pandemia, a relação do usuário com a FV era estabelecida nos acolhimentos ou consultas, onde a equipe do projeto era solicitada pelos profissionais para indicação e orientação de uso das plantas. Após as ações supracitadas, ocorreu a abertura semanal da FV à população, ampliando a autonomia do uso.
Dessa forma, a FV possibilita a aproximação e a troca de conhecimentos entre a comunidade e o serviço, valorizando as práticas populares. Propicia discussões a respeito das PICS e favorece o rompimento com o modelo médico hegemônico, que privilegia tratamentos com medicamentos alopáticos. Ademais, o uso e o cultivo de plantas medicinais pelos profissionais do CS, corrobora para o autocuidado, impactando positivamente na saúde do trabalhador. Sendo assim, a FV é reconhecida como ferramenta de cuidado, fortalecendo a integração ensino-serviço-comunidade, valorizando os diversos contextos culturais que coexistem no território e os saberes e práticas populares de saúde.