Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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ESTRATÉGIAS DE EDUCAÇÃO PERMANENTE PARA A CONSTRUÇÃO DO PLANO MUNICIPAL DE SAÚDE: CONFERÊNCIAS LOCAIS DE SAÚDE NUM MUNICÍPIO DA AMAZÔNIA.
Camilla Maria Nery Baracho de França, Izi Caterini Paiva Alves Martinelli dos Santos, Júlio Cesar Schweickardt, Thalita Renata Oliveira das Neves Guedes, Mariane de Souza Abreu

Última alteração: 2022-01-20

Resumo


Apresentação: Conferências Locais de Saúde são espaços democráticos de discussão, que envolvem os princípios da Educação Permanente em Saúde (EPS). A Educação Permanente em Saúde pode ser entendida como uma ferramenta que possibilita a transformação de práticas em saúde, através da identificação de problemas e busca de soluções no cotidiano dos serviços. Já o plano municipal de saúde é um instrumento que abrange propostas, que irão atender às principais necessidades em saúde de uma população, em um determinado tempo. Neste contexto, este resumo objetiva apresentar um relato de experiência da apropriação da Educação Permanente por usuários, profissionais e gestores da saúde, no apoio à construção do Plano Municipal de Saúde, através de Conferências Locais (CL), realizadas em um município do interior do Amazonas. Desenvolvimento do trabalho: A fim de viabilizar o início das atividades de Educação Permanente em Saúde no Município de Presidente Figueiredo/AM, foi instituído o Núcleo de Educação Permanente em Saúde (NEPS), pela Secretaria Municipal de Saúde. O NEPS foi composto por uma comissão de trabalhadores da saúde, que recebeu apoio e formação do projeto de Implantação da Política de Educação Permanente na Amazônia do Laboratório de História, Políticas Públicas e Saúde na Amazônia – LAHPSA/ILMD/Fiocruz Amazônia. Após a formação de facilitadores em EPS, através de oficinas, deu-se início a realização das Conferências Locais de Saúde. As oficinas utilizaram de estratégias EPS, cujo objetivo foi identificar os problemas de saúde do município, unidade e/ou território e apresentar propostas, de uma forma participativa. Antes de iniciar as atividades, a equipe do LAHPSA realizou uma formação de um grupo de facilitadores que conduziram as oficinas. A formação aconteceu em três encontros, sendo o terceiro ampliado para os trabalhadores da rede municipal. A realização das Conferências Locais de Saúde se deu através de quatro etapas: I- Planejamento, II- Execução, III- Avaliação, IV- Registro. A etapa I consistiu em um levantamento das unidades de saúde do município e a escolha das unidades que receberiam as conferências locais. Houve também um levantamento de recursos humanos, que eram os facilitadores, e materiais, como papel colorido, papel cartão, tesoura, fita adesiva, necessários para a realização dos trabalhos. A etapa II se deu através da execução propriamente dita das Conferências Locais de Saúde, quando os facilitadores foram divididos em equipes de em média 3 pessoas para acompanhar cada unidade de saúde do município. O público-alvo eram os profissionais e usuários das unidades. Para a realização das conferências foi utilizado o método “ZOPP”, sigla alemã que significa “planejamento de projeto orientado por objetivos”. Este método apresenta uma metodologia dinâmica, que utiliza a visualização e escrita em tarjetas coloridas e cartazes. O método permite que todos os envolvidos participem de forma igual e ativa na tomada de decisões. Ao chegar nas unidades, a equipe de facilitadores realizou a apresentação da proposta e do método, em seguida eram realizadas as etapas de: a) análise dos envolvidos, onde  os usuários e profissionais eram estimulados a escrever em uma tarjeta seu nome, formação, função e o que desejava para a saúde do município; b) identificação e priorização de problemas, etapa na qual o grupo era estimulado a escrever os problemas dos serviços de saúde percebidos por eles e em seguida havia uma priorização de problemas, através da escolha de um problema principal; c) causas e consequências, nesta etapa através da utilização de uma ferramenta visual, o desenho de uma árvore explicativa dos problemas, era possível identificar em conjunto as raízes, que eram as causas, e os frutos, consequências dos problemas identificados; d) objetivos, estratégias e ações, a partir da identificação e priorização de problemas, deu-se origem aos objetivos/propostas, assim para cada problema encontrado, um objetivo “solução” era gerado e a partir dos objetivos, estratégias e ações foram traçadas para especificar como e de que forma os objetivos seriam realizados. e) feedback, quando os participantes avaliavam de forma verbal ou escrita as atividades realizadas, onde muitos relataram que pela primeira vez tiveram a oportunidade de ser ouvidos. Em algumas conferências locais também foram realizadas dinâmicas para melhoria da interação do grupo. Após as Conferências Locais, foi realizada a etapa III de avaliação, onde a comissão do NEPS se reunia regularmente a fim de avaliar o desenvolvimento das atividades e fazer os ajustes. A etapa IV consistiu no registro das CL realizadas através de relatórios descritivos, com fotos da experiência em cada unidade. Resultados e/ou impactos: Ao total foram realizadas 22 Conferências Locais de Saúde no município, no período de julho a dezembro de 2021, na zona urbana e rural, incluindo Unidades Básicas de Saúde, Hospital, Policlínica, Endemias, Vigilância em Saúde, dentre outros. O resultado das atividades foi compilado em uma matriz unificada que compreendeu todos os objetivos advindos das conferências locais. A partir desta matriz, os objetivos foram distribuídos em três eixos temáticos: I- Direito e garantia ao acesso nas redes de atenção à saúde; II- Desafios no novo financiamento do SUS; III- Direito e garantia da equidade à saúde. A organização destes eixos subsidiou os trabalhos de grupo na Conferência Municipal de Saúde que ocorreu em dezembro do mesmo ano, cujo objetivo era a construção do plano municipal de saúde, vigência 2022/2025, quando os objetivos se tornaram propostas que foram validadas na plenária final. Considerações finais: As conferências locais de saúde permitiram a promoção de espaços de diálogo entre trabalhadores da saúde, gestores e usuários, e os colocaram na posição de protagonistas na identificação conjunta dos problemas e busca de soluções para seu enfrentamento, pois não havia pessoas mais qualificadas para esta tarefa do que estes atores que vivenciam diariamente o cotidiano dos serviços. A maioria das propostas que surgiram da “ponta”, das necessidades reais da região, foram incorporadas no plano municipal de saúde, vigência 2022/2025. O problema identificado com maior frequência nas unidades foi a falta de comunicação entre profissionais das equipes, entre profissionais e usuários, e entre profissionais e gestores. Neste sentido a EPS tem um grande potencial na melhoria da comunicação nos setores de saúde. A falta de informação sobre a rede de atenção à saúde do município pelos próprios profissionais e usuários, também foi um problema recorrente, que pode ser melhorado através da comunicação e da EPS. As estratégias de Educação Permanente em Saúde podem ser empregadas nos serviços para diversas finalidades, gerando benefícios aos usuários, trabalhadores e gestores. Na experiência apresentada, as Conferências Locais de Saúde demonstraram-se como ferramentas potenciais de Educação Permanente em Saúde, no fortalecimento da participação social, diagnóstico e planejamento em saúde.