Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Tutoria de Núcleo de enfermagem: encontros de aprendizagem permeados pelo afeto
Kelly Dandadra da Silva Macedo, Michele Neves Meneses

Última alteração: 2022-01-25

Resumo


Introdução: A Residência Multiprofissional como campo da formação da pós-graduação no Brasil é uma experiência relativamente nova, sobretudo por estar caracterizada como ensino em serviço que abrange a interprofissionalidade em equipe visando o exercício no Sistema Único de Saúde (SUS). Ao longo da sua efetivação,  com um pouco mais de quinze anos, tem enfrentado reveses, como por exemplo, a desarticulação da Comissão Nacional de Residência Multiprofissional em Saúde por parte do Ministérios da Educação, o que tem impactado na dinâmica das residências multiprofissionais de todo o Brasil. Contudo, mesmo parecendo que esse modelo de formação não seja priorizado pela gestão federal, as residências seguem sendo potentes possibilidades de formação de profissionais para atuarem no SUS, uma vez que elas têm papel fundamental na formação de profissionais da saúde. Constituem-se como importante estratégias de formação para o SUS, ao realizarem um movimento importante de transformação e de ruptura do modelo de formação e privilegiar como metodologia a formação através do ensino-serviço, na tentativa de responder às complexas demandas de atenção e de gestão que o SUS impõe. Como parte da aposta teórico-metodológica, o projeto político pedagógico estimula que parte da carga horária teórica da residência também aconteça no espaço do serviço. Esses espaços de encontros de aprendizagem são chamados de tutoria. Com o advento da pandemia do coronavírus esse espaço passou por remodelações para se adequar às necessidades de prevenção da transmissibilidade e preservação da vida. Objetivo: Relatar de forma reflexiva como os espaços de tutoria de núcleo de enfermagem aconteceram durante o período da pandemia de  coronavírus em um Programa de Residência Multiprofissional em Saúde, no Sul do Brasil. Metodologia: Relato de experiência das vivências em tutoria de enfermagem de uma residência multiprofissional em saúde. Resultados: A residência é marcada por diversos espaços de aprendizagem, entre eles, as tutorias de campo e de núcleo, a primeira tem como propósito facilitar os processos de ensino-aprendizagem através da observação e problematização da realidade vivenciada pelos residentes no cenário em que estão atuando, a partir do encontro entre residentes, tutor e preceptor de campo. A segunda tem o propósito de facilitar o processo de ensino aprendizagem através da problematização das situações vivenciadas na prática de núcleo do residente, os encontros acontecem com os residentes e tutor do mesmo núcleo profissional. Desde março de 2020, com a crise sanitária causada pelo novo coronavírus, os encontros de aprendizagem tiveram que ser remodelados. Esses, que eram marcados pela presencialidade física dos corpos e dos afetos, agora dão lugar a novas presencialidades possibilitadas, quase que apenas por telas e áudios. Nesse contexto, mesmo sobre as telas os espaços reorganizados de diálogo permeavam a escuta, o acolhimento, a amorosidade, o que não impediu a viabilização de espaços afetivos e compartilhados. As medidas sanitárias de contenção de disseminação do vírus exigiam isolamento social e no caso de impossibilidade, orientavam o distanciamento social. No caso da residência em questão, diferente das graduações e até mesmo de outras pós graduações stricto e lato sensu que precisaram de um tempo para uma outra organização diante desse cenário, a residência seguiu realizando suas atividades ininterruptamente, ainda assim, sofreu algumas modificações, que foram sendo realizadas durante o processo. Além disso, o Ministério da Saúde, em meio a troca constante de gestores, falta de informações e a algumas desorientações quanto aos protocolos a seguir, lançou o programa “O Brasil conta Comigo” que tinha como objetivo aumentar o escopo de profissionais na linha de frente, dentre os editais, havia um específico para residentes em formação. Tal medida tinha como objetivo incentivar de maneira financeira, mesmo que quase figurativa, que residentes pudessem estar atuando na linha de frente da pandemia. Destaca-se que a residência por si só é um processo de muitos desafios, sejam eles pela inexperiência dos residentes, que em grande parte vem direto da graduação, seja pela extensa carga horária semanal, ou até mesmo pela própria proposta do programa de formação no serviço. Nesse sentido, os desafios com a pandemia só aumentaram, pois acrescido a isso, os residentes ainda tiveram que lidar com um cenário de incertezas quanto às condutas, aliado ao medo de contaminação e, por vezes, o distanciamento da família. Ao reformular o modo de nos encontrarmos, também tivemos que pensar outras formas de ser e de estar presente, pois esse era e é um processo que necessita ser mediado pelos afetos, não só pelo cenário pandêmico, mas porque o processo formativo pressupõe a afetividade. A tutoria de núcleo é um espaço para fortalecermos nossas práticas de núcleo, a partir do estudo coletivo daquilo que o grupo identifica como necessidade e da partilha de experiências, mas para além disso, também foi possível fazer desse espaço um lugar de acolhimento, de escuta e de cuidado. Neste espaço de acolhimento e de escuta coletiva, foi possível compartilhar as angústias do processo de estar residente em meio a uma pandemia nunca vivenciada neste século. Também, possibilitou a reflexão para a execução de outras formas de comunicação com os usuários com a finalidade de levar informação de qualidade e científica com linguagem adequada para a prevenção da Covid-19 e combatendo as fake news tão veiculadas por diversas mídias digitais.

Considerações finais: O contexto da pandemia gerou muitas inseguranças, não só nos residentes, mas também nas equipes pelas quais os mesmos foram recebidos, o que por vezes impactou a forma como foram criando vínculos, no ambiente de prática, com os usuários, trabalhadores e com os demais residentes. Ainda, é importante considerar que para além dos espaços instituídos, como as aulas, tutorias, e os encontros com usuários e equipe do território, os momentos que acontecem antes ou após esses espaços também podem ser encontros de aprendizagem, de cuidado e de escuta. No entanto, os encontros telepresenciais nem sempre viabilizaram que esses espaços não instituídos, porém legítimos, acontecessem de forma espontânea como aconteciam quando os encontros eram presenciais. Todavia, ao longo do caminho estratégias como acolhimento através da poesia, da música, da escuta sobre as impressões e sentimentos da semana, foram sendo criadas à medida que o fim da pandemia não era algo previsto, resultando na manutenção das medidas sanitárias. Dessa maneira, os encontros de tutoria, mesmo que telepresenciais, foram mediados pela afetividade, proporcionando momentos de reflexão crítica da realidade e contribuindo para uma formação que se tece à medida que acontece, seja na presencialidade cotidiana ou durante uma pandemia.