O presente trabalho é um ensaio teórico com o objetivo de construir aproximações entre o conceito winnicottiano de holding e aspectos da Política Nacional de Humanização (PNH). Essa política foi criada em 2003 com objetivo de tornar os serviços de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS) mais humanizados. Suas diretrizes contam com aspectos como, dentre outros, o acolhimento e a ambiência, que são centrais na PNH. O acolhimento diz respeito à escuta qualificada que permitirá ao profissional de saúde identificar as necessidades do paciente e ofertar a ele o cuidado de que necessita. A ambiência busca a criação de espaços saudáveis, acolhedores, confortáveis, que garantam a privacidade e possam se tornar lugares de encontro. Na política o ambiente é central para a humanização, pois é visto como o lugar de interação dos sujeitos, bem como local que possibilita o trabalho devendo resguardar a privacidade, respeitar a individualidade dos sujeitos e possibilitar a produção de subjetividades. É no ambiente que o cuidado e o acolhimento acontecem. Para o psicanalista inglês Donald Woods Winnicott, cada ser humano carrega em si uma tendência inata ao amadurecimento. Mas, para que esse amadurecimento ocorra, é necessário que haja um ambiente facilitador (que, nessa fase da vida, é a mãe ou quem exerce função de cuidado), que consiga suprir as necessidades do bebê, propiciando condições adequadas para que ele amadureça. Nesse momento do amadurecimento, o bebê necessita de alguém que compreenda suas necessidades e lhe ofereça um colo que o sustente e o ampare. O holding é descrito na sua obra como aquilo que nomeia o ato de segurar, sustentar, cuidar, prover o bebê com aquilo de que necessita para amadurecer tanto física como emocionalmente. O holding é fundamental no início da vida, mas também pode ser ofertado ao longo dela, sustentando o indivíduo com o que necessita em determinado momento da caminhada maturacional. A partir do exposto, podemos transcender o conceito de holding para o contexto da atenção em saúde, pois através do estabelecimento do holding, o profissional da saúde pode ofertar um ambiente que permita que o paciente possa integrar emoções até então não integradas. O estabelecimento de um bom holding pela equipe de saúde também facilita a adesão ao tratamento. Pensando nas diretrizes da PNH e do conceito winnicottiano de holding, é possível pensar que a capacidade do profissional em conseguir identificar as necessidades do paciente, vai ao encontro justamente da diretriz da PNH que diz respeito ao acolhimento. O acolhimento no contexto da PNH expressa justamente a criação de um vínculo entre os profissionais e os usuários, percebendo suas singularidades e necessidades em saúde. Isso é a tradução do estabelecimento de holding no contexto da atenção em saúde. Realizar essas aproximações entre conceitos nos permite olhar para nossas práticas enquanto profissionais da saúde e auxilia no fortalecimento da política em nossos afazeres, bem como nos propicia oportunidade de questionar o cuidado que ofertamos e tentar, na medida do que é possível, ofertar um cuidado suficientemente bom nos serviços de saúde.