Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Os significados por trás de uma xícara de chá: saberes ancestrais e a perspectiva decolonial no uso de plantas medicinais
Jéssica Aline Silva Soares, Simone de Araújo Medina Mendonça, Djenane Ramalho-de-Oliveira

Última alteração: 2022-01-31

Resumo


APRESENTAÇÃO: Os saberes sobre as propriedades das plantas medicinais se originaram pela interação e experiências individuais/coletivas dos seres humanos com a natureza em certos meios, culturas, sociabilidades e tempos. Tais saberes no nosso país são tão relevantes e ainda resistem, ao ponto de termos o reconhecimento e instituição de uma política pública para a implementação, resgates e valorização desses saberes referentes à fitoterapia no Sistema Único de Saúde (SUS). Mesmo com essa abertura para a integração dos conhecimentos tradicionais e populares sobre as plantas medicinais, ainda observa-se a dicotomia entre Fitoterapia tradicional e popular versus Fitoterapia ocidental científica. Para esta última , o único conhecimento válido é o que deriva da ciência ocidental, do paradigma cartesiano, da modernidade/colonialidade, em que a Matriz Colonial é o sistema que perpetua a dominação imperialista a partir das colonialidades do poder, do saber e do ser. Assim, sistematicamente, as práticas e saberes populares são condenados, silenciados e muitos profissionais da área da saúde desconsideram e desconhecem os potenciais terapêuticos, assim como, os significados e as experiências que a fitoterapia pode ter para cada pessoa. Diante deste contexto, a decolonialidade vem como resposta imediata e de resistência à modernidade/colonialidade. Visando contribuir para esta discussão sobre a colonialidade do ser e saber nas práticas e saberes sobre as plantas medicinais, esta pesquisa visa, a partir das minhas vivências como farmacêutica e neta de uma raizeira, refletir e construir uma perspectiva decolonial de cuidados em saúde no uso de plantas medicinais. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: A autoetnografia evocativa está sendo utilizada como metodologia para a compreensão da minha experiência de ser neta de uma raizeira e uma farmacêutica que tem a sua prática clínica a partir da fitoterapia. Está sendo empregada a técnica de diário de memórias e notas reflexivas com o intuito de descrever, analisar e compreender as minhas experiências vividas nas intersecções e encruzilhadas epistemológicas entre o saber dito científico e tradicional/popular. RESULTADOS: A narrativa construída a partir da descrição e compreensão destas experiências – a ser compartilhada durante o congresso - apresenta os reflexos culturais, sociais e políticos da opressão da matriz colonial, sobretudo a colonialidade do ser e saber. Depara-se também com a (re)existência das práticas e conhecimentos ancestrais, por meio da oralidade, afetos e de uma construção de rede de saberes que se conectam e florescem no encontro com a teoria, conceito histórico e posicionamento político decolonial. CONSIDERAÇÕES FINAIS: O fazer autoetnográfico dá voz, lugar e me (re)conecta com o significado mais importante para a minha existência: a ancestralidade. Além disso, a reflexão promovida pela narrativa pretende ser um chamado para podermos melhorar os cuidados oferecidos às pessoas que fazem o uso das plantas medicinais. Alerta para a necessidade de considerarmos as experiências e os significados que podem, por exemplo, estar presentes em xícara de chá, assim como todas as formas de produção de conhecimento sobre a fitoterapia.