Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
Tamanho da fonte: 
MORTALIDADE POR COVID-19 E ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO MUNICIPAL (IDHM) NO ESTADO DO AMAZONAS
Tânia Aparecida de Araujo, Izi Caterini Paiva Alves Martinelli Real dos Santos, Thalita Renata Oliveira das Neves Guedes, Ana Elizabeth Sousa Reis, Rodrigo Tobias de Sousa Lima, Julio Cesar Schweickardt

Última alteração: 2022-06-23

Resumo


Apresentação: O Sistema Único de Saúde brasileiro conta com direção única, mas descentralização das ações e decisões. O que permite que estados e munícipios realizem a gestão de saúde de maneiras diferentes, acarretando resultados distintos também. Em relação a COVID-19, por exemplo, apesar das orientações gerais do Ministério da Saúde (às vezes difusas, é verdade) o gestor local pôde optar pela realização (ou não) de algumas ações – como abertura ou fechamento do comércio. Essas ações e decisões em saúde, assim como esperado, tiveram um impacto direto nos índices da doença (incidência e mortalidade, por exemplo). Apesar disso, é fato que diferenças na estrutura do sistema de saúde já implantado (insumos e equipamentos ou recursos humanos disponíveis) na composição demográfica, e nas características socioeconômicas (níveis de renda e escolaridade da população) podem contribuir para melhores, ou piores, resultados. Dessa forma, esse trabalho teve como objetivo analisar a mortalidade por COVID-19 em algumas localidades do Estado do Amazonas, comparando com o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM). Desenvolvimento do Trabalho: Este trabalho faz parte da pesquisa “Prevenção e controle da COVID-19: a transformação das práticas sociais da população em territórios de abrangência da Atenção Básica em Saúde no Estado do Amazonas”. Os municípios avaliados foram Boca do Acre, Carauari, Iranduba, Itacoatiara, Manacapuru, Manaus, Manicoré, Parintins, Presidente Figueiredo, São Gabriel da Cachoeira, Tabatinga e Tefé.  Dados obtidos no período de 01/ março de 2020 a 20/ outubro de 2021. Dados do número de óbitos observados foram obtidos por informações gerados pelo “MonitoraCOVID-19” do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde, Fundação Oswaldo Cruz (https://bigdata-covid19.icict.fiocruz.br/, acessado em 21/10/2021) e referem-se à atualização de 20/10/2021. Para o quantitativo da população residentes utilizou-se as estimativas populacionais por município, idade e sexo 2000-2020, do Departamento de Informática do Ministério da Saúde,  http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?popsvs/cnv/popbr.def,  acessado em 21/10/2021). Para cálculo do Coeficiente de Mortalidade (CM) utilizou-se a razão entre o número de óbitos observados sobre a população residente multiplicado por cem mil.

Para a padronização da mortalidade, utilizou-se o cálculo do quantitativo de óbitos esperados segundo a proporção da faixa etária de uma população padrão. Utilizou-se a população padrão do Estado do Amazonas e a mortalidade segundo a faixa etária foi obtida por meio do site disponibilizado pelo Sistema de Registro Civil: Portal da Transparência. Registro civil. https://transparencia.registrocivil.org.br, acessado em 21/10/2021). O IDHM é uma medida composta de indicadores de três dimensões do desenvolvimento humano: longevidade, educação e renda. O índice varia de 0 a 1. Quanto mais próximo de 1, maior o desenvolvimento humano. Os dados obtidos do IDHM de cada município avaliado referem-se ao ano de 2010 e foram obtidos por meio do site do Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil: http://www.atlasbrasil.org.br/perfil. Resultados e/ ou impactos: Os resultados encontrados neste estudo demonstram que o munícipio com maior CM (427,06 óbitos / 100.000 habitantes) é Manaus, que também conta com uma maior população. Boca do Acre, com uma menor população, é o que apresenta o menor CM (77,96 óbitos / 100.000 habitantes). Iranduba, por outro lado, embora tenha uma população menor do que 50.000 habitantes, possuí um dos maiores CM (342,78 óbitos/ 100.000 habitantes). Já São Gabriel da Cachoeira e Presidente Figueiredo, que possuem uma diferença de quase 10.000 habitantes, tiveram o mesmo número de óbitos (108).  Após a padronização, a maior mortalidade (Razão de Mortalidade Padronizada – RMP) encontrada foi no município de Manacapuru (RMP: 1,73), seguido de Manaus (RMP: 1,73) e Tefé (RMP: 1,57). Já Boca do Acre (RMP: 0,31), Manicoré (RMP: 0,85) e Carauari (RMP: 0,95) foram os municípios com menor mortalidade, padronizada por faixa etária. Quanto ao IDHM o município com maior índice foi Manaus (0,737), seguidos por Parintins (0,658) e Presidente Figueiredo (0,647). Por outro lado, municípios como Carauari (0,549), Manicoré (0,582) e Boca do Acre (0,588) representaram os menores valores dos locais avaliados. E localidades como Itacoatiara (0,644), Tefé (0,639), Tabatinga (0,616), Manacapuru (0,614), Iranduba (0,613), e São Gabriel da Cachoeira (0,609) apresentaram valores médios de IDHM. Assim, embora Manaus tenha o melhor IDHM entre os locais avaliados, foi o município que apresentou maiores taxas de mortalidade.  De outro modo, apesar de Boca do Acre apresentar a menor taxa de mortalidade foi um dos municípios com menores IDHM’s. Considerações finais: Dada a intrínseca relação dos determinantes sociais, como renda e escolaridade, com os resultados em saúde, esperava-se que locais com maior IDHM apresentassem melhor resposta a pandemia – com menores índices de mortalidade, por exemplo. A longevidade que é o outro indicador do IDHM é um indicador indireto da mortalidade.  Ainda assim, os resultados encontrados neste trabalho, sugerem que o IDHM não esteve associado a mortalidade por COVID-19 nos municípios avaliados.  Há uma lacuna importante do período que o IDHM foi avaliado (2010) com o momento atual, o que pode ter levado a um viés de interpretação caso o cenário atual (deste índice) seja diferente. Ademais, como diversos fatores podem levar a uma maior mortalidade (ainda mais durante uma pandemia) é possível que outros determinantes tenham contribuído mais para os resultados de CM ou RMP encontrados. Importante ainda destacar que exceto por Manaus, que possuía um IDHM considerado alto (>0,700), todo o restante dos locais avaliados possuía um índice entre baixo (0,500 a 0,599) e médio (0,600 a 0,699). Demonstrando que para esses municípios, a exemplo de Boca do Acre, os desafios para a gestão do sistema de saúde e cuidado da população podem ter sido maiores ainda. E mesmo com adversidades, como IDHM baixo indicando uma população que possivelmente demanda mais dos serviços de saúde, diversas localidades conseguiram menores taxas de mortalidade.  Estudos futuros poderão indicar outros fatores que contribuíram para melhores ou piores resultados em relação a gestão da pandemia. O aprendizado adquirido neste período, por sua vez, pode ainda servir de subsídio para um maior cuidado e atenção a saúde da população. Por fim, a realização de pesquisas que revelem dados mais atualizados sobre as condições de vida da população, como a realização do novo censo, torna-se ainda mais imprescindíveis em momentos como este.