APRESENTAÇÃO

A interdisciplinaridade na área da saúde é uma estratégia que busca trabalhar contextos de uma forma global, sendo capaz de abordar sua complexidade, objetivando a integralidade no processo de assistência, a qual é um dos princípios doutrinários do Sistema Único de Saúde (SUS). O trabalho em equipe interdisciplinar proporciona um espaço dinâmico, impedindo que as equipes adotem uma conformação rígida, possibilitando que a atuação em saúde seja mais contextualizada e resolutiva.

O Projeto de Extensão Reviver é uma iniciativa do Laboratório de Química Farmacêutica Medicinal da Universidade Federal do Amapá, integrado por uma equipe de profissionais e acadêmicos, de diversas áreas da universidade, a fim de acompanhar pacientes e seus familiares/cuidadores. Trabalha-se de forma interdisciplinar permitindo uma atenção global de acordo com as necessidades de cada indivíduo.

A Doença de Parkinson e Alzheimer são demências que estão geralmente associadas ao envelhecimento, ocorrendo principalmente após os 65 anos e estão tornando-se cada vez mais comuns. Diante disso, notou-se a importância de uma atenção integral e qualificada para os portadores destas doenças e seus cuidadores/familiares, uma vez que são fatores que mexem com todo o contexto onde este paciente vive.

Portanto, este relato tem como objetivo apresentar a experiência exitosa na relação interdisciplinar na área da saúde vivenciada pelo Projeto de Extensão Reviver, visando contribuir para a diminuição dos desafios da interdisciplinaridade na organização dos processos de trabalho, na tentativa de estimular outras equipes à adesão do trabalho interdisciplinar como estratégia de acompanhamento e melhora da assistência à saúde.

DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO

Trata-se de um relato de experiência do tipo descritivo, o qual apresenta a vivência e a forma de trabalho interdisciplinar entre as equipes do Projeto de Extensão Reviver, da UNIFAP, no processo de assistência a cuidadores e portadores de Parkinson e/ou Alzheimer que frequentam o grupo.

Diante do contexto de vida de pessoas com Doença de Parkinson e/ou Alzheimer, é importante atender de forma que englobe tanto o paciente quanto seus familiares cuidadores, visto que estes tendem a anular suas vidas em prol de quem cuidam. Ambos precisam de cuidados específicos com perspectivas diferentes, objetivando orientações sobre a doença e como lidar com o progresso dela, cuidados com a saúde dos pacientes, observações e intervenções. Assim, no funcionamento do Projeto de Extensão Reviver, cada uma das diversas equipes que o compõem têm um papel específico a este público,  intervindo de acordo com seu conhecimento e prestação de serviço.

Como exemplo, pode-se citar os farmacêuticos que visam informar sobre os medicamentos utilizados para estas determinadas doenças, orientando-os onde encontrar, como obter, quais ou onde procurar. Os médicos ficam à disposição de consultas, solicitações de exames e renovação de receitas quando necessário. A fisioterapia contribui com a reabilitação e exercício dos pacientes. A equipe de psicologia cuida da saúde mental tanto dos cuidadores, quanto dos próprios pacientes, dado que o estado do indivíduo doente afeta a família e a resposta da família a esses fatores afeta as rotinas diárias de recuperação dos pacientes. A enfermagem, por sua vez, trabalha diretamente com os cuidadores, uma vez que cuidar de outra pessoa exige uma mobilização interna e disponibilidade emocional, física e econômica.

No funcionamento do Projeto, quando identifica-se a necessidade de intervenção de outro grupo da saúde, são realizados encaminhamentos internos entre as equipes, a fim de atender de forma integral os pacientes e cuidadores participantes deste Projeto de Extensão. Esses encaminhamentos ocorrem de acordo com as necessidades de cada pessoa. Além disso, todas as equipes contribuem para o funcionamento e movimentação das redes sociais do Projeto, enriquecendo-as com conteúdos multidisciplinares e possibilitando maior orientação e contato com os cuidadores e pacientes.

Em caso de reuniões do Projeto, cada equipe se divide de acordo com o seu determinado público para trabalhar questões específicas. Assim, médicos e fisioterapeutas, por exemplo, se reúnem com os pacientes enquanto a equipe de enfermagem se reúne com os cuidadores. Isso é feito para que haja organização e trabalho direcionado ao paciente/cuidador, além de assisti-lo também, no caso dos cuidadores, com orientações de como cuidar, o que fazer, como fazer, tirar dúvidas ou até ajudá-los a enxergar a importância de também cuidar de si. Esse modelo não impede que as equipes se diversifiquem ou trabalhem em conjunto nas reuniões para que todas executem trabalhos efetivos e integrais com os participantes do Projeto, agindo-se de acordo com as necessidades identificadas.

Além do mais, como forma de organização, há o processo de arquivamento de dados coletados para pesquisas que podem ser utilizados pelas outras equipes, a fim de otimizar tempo, diminuir perguntas repetidas aos participantes e evitar incômodos desnecessários, melhorando o trabalho e relacionamento tanto entre as equipes quanto profissional-cliente.

RESULTADOS

Apesar dos desafios e dificuldades comuns durante este processo de trabalho com outras equipes, como a comunicação e organização, com o trabalho interdisciplinar no Projeto Reviver observou-se  que as necessidades dos cuidadores e seus pacientes são melhores assistidas, facilitando o acesso às diversas áreas da saúde, além de promover um acompanhamento integral e constante.

Ademais, a organização no trabalho implica diretamente na produtividade e no rendimento profissional. Uma equipe organizada consegue realizar tarefas de forma mais rápida e eficiente. Desse modo, através dos dados arquivados e compartilhados, as equipes conseguem conciliar de forma eficaz e organizada a pesquisa e extensão.

Por fim, esta estratégia de trabalho demonstrou resultado satisfatório, uma vez que a interdisciplinaridade possibilita a comunicação entre os cursos da área da saúde, podendo olhar para o mesmo tema ou problema e obter diferentes pontos de vista. Isso adiciona uma visão do todo, facilitando a análise do problema e a oferta do tratamento, podendo propiciar resultados mais efetivos está sendo cuidado.

Portanto, esta forma de trabalho tornou necessário e possível que toda a equipe de saúde desenvolvesse um vínculo de conexão mais próximo com os participantes do Projeto de Extensão Reviver. Além disso, foi importante que os participantes percebessem que a equipe estava capacitada e pronta a prestar cuidados sempre que necessário.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

À guisa de conclusão, reitera-se que o modelo de trabalho interdisciplinar para promoção de uma atenção integral à saúde é uma experiência construtiva e viável que pode melhorar o desempenho dos profissionais na assistência, além de estimular o trabalho em equipe e pensamento no todo.

Por fim, a interdisciplinaridade na área da saúde configura-se como um avanço que intervém na relação profissional-paciente, com melhora significativa na assistência. Isso ocorre devido a compreensão de problemas que requerem diferentes tipos de abordagem ao usuário, enxergando, além do problema, diversos outros aspectos, sejam eles ambientais, clínicos, comportamentais, sociais ou culturais.