Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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RELATO DE EXPERIÊNCIA DO EVENTO “I CICLO DE CULTURA NEGRA NO PRAEM”
Aline Vargas Escobar, Cristina Kologeski Fraga, Juliane Silveira, Luiza Constante Oliveirs, Jéssica de Moura Barboza

Última alteração: 2022-01-17

Resumo


O presente trabalho é um relato sobre o evento cultural “I Ciclo de Cultura Negra no PRAEM” que buscou promover e valorizar a cultura afro-brasileira e negra, tendo assim o objetivo de socializar sobre o processo de construção desta experiência. O Programa de Atendimento Especializado Municipal (PRAEM) é um serviço multiprofissional, localizado no município de Santa Maria - RS, Brasil, ele atende a Lei n° 5.991/2015, a qual descreve o PRAEM como uma política pública permanente do município. O mesmo desenvolve ações pedagógicas de prevenção, promoção e enfrentamento de  vulnerabilidades sociais  de crianças e adolescentes, matriculados na rede municipal de educação. O público a ser atendido são alunos com dificuldades de aprendizagem. Se almeja sanar a principal demanda que é concluir o ciclo de alfabetização, ou seja, saber ler e escrever. Desta forma, é importante trabalhar com ludicidade, a redução das  desigualdades sociais e raciais com essas faixas etárias. Gomes (2003) traz que, a cultura é mais que um conceito acadêmico, ela diz respeito às vivências de cada sujeito, a sua forma de conceber o mundo, faz parte de sua construção pessoal, com isso evidencia-se a importância de se ter acesso a sua cultura, a sua história por um todo. Por meio da cultura, podemos adaptar o nosso meio e se adaptar, podendo transformá-lo. Com isso, destaca-se a importância de abordá-la enquanto os jovens ainda estão em formação. Além disso, precisamos adentrar na realidade das crianças e adolescentes que vivem em dilemas conflitantes, adolescentes negros e negras ainda são vítimas de racismo e, isso se dá pela falta de explicação, compreensão e entendimento entre a sociedade acerca de diversidades étnicas e culturais, visto isso, é necessário o aprendizado da sociedade frente a essas questões (Melo, 2019). A fase de pré-produção do presente trabalho, iniciada em outubro, envolveu a criação da comissão organizadora, a elaboração dos cartazes de divulgação e envio dos convites aos oficineiros para aderir a programação. O Dia Nacional da Consciência Negra, que ocorre em 20 de novembro, reverbera a sua dimensão simbólica por todos os estados brasileiros. Nesse viés, o município de Santa Maria dispõe de uma programação do mês da consciência negra, na qual o PRAEM incorporou a necessidade de se mobilizar. Já a fase de produção, consistiu em intensa divulgação do evento nas redes sociais e para os usuários (as) que recebem atendimentos no cotidiano. O evento ocorreu no dia 19 de Novembro de 2021, e é fruto do Projeto de Intervenção de estágio em Serviço Social UFSM, da acadêmica Aline Vargas Escobar. Neste dia, no período da manhã, houve a oficina de capoeira “Salve o povo da ginga!”, com o grupo Barra Vento que desde 2004 vem construindo identidade, autoestima e autonomia em seus praticantes. A oficina estava dividida em dois momentos, primeiro houveram falas dos oficineiros sobre o surgimento da capoeira, suas características e a sua importância cultural. No segundo momento os participantes e os oficineiros praticaram capoeira no espaço externo do PRAEM. À tarde, ocorreu a oficina “Tem ancestralidade na costura” ministrada pela acadêmica Mariana Lourenço, do curso de Serviço Social da UFSM, a qual ensinou bordado livre, feito a mão. Nesta oficina os participantes aprenderam técnicas básicas de costura a partir do desenho do busto de uma mulher negra. Desse modo, o ato de costurar foi um disparador de diálogo para refletir sobre algumas questões que permeiam vivências de mulheres negras como a autoestima e o uso do cabelo crespo natural. Também, no mesmo turno, sucedeu a oficina “No ritmo da batucada” ministrada pela percussionista Taciane Nunes, que trabalha com os saberes da percussão afro-brasileira. A oficina teve como intenção identificar os interesses dos participantes, a maneira como eles entendem o sentir e o tocar, nas suas particularidades e singularidades, bem como utilizar a própria percussão para criar um laço de confiança, amizade e respeito. Além do uso de alguns recursos pedagógicos como a exposição de provérbios africanos pelo espaço físico, o jogo de memória de mulheres negras Sankofa e a distribuição de kits com materiais escolares. Após, ocorreu  a continuidade das oficinas de arte e de música semanalmente no cronograma fixo do serviço. A fase de pós-produção, foi voltada para autoavaliação do evento, prestação de contas e envio dos certificados. Assim, do total de 39 avaliações dos participantes 74% avaliaram como excelente, 20% muito bom, 3% bom e 3% ruim. A autoavaliação do evento se deu por meio da troca de impressões e relatos dos participantes. Uma das questões que mais se destacou foi as discussões realizadas na oficina de bordado, os adolescentes falaram sobre o preconceito sofrido e o bullying ainda recorrente na escola, em razão dos cabelos crespos e cacheados. Percebeu-se que o espaço foi acolhedor e que os participantes se sentiram confortáveis para falar com o grupo. Neste sentido, não há luta de classes sem a luta contra a opressão racial (GONÇALVES, 2018). O sistema escravocrata caminhou lado a lado com o fortalecimento do sistema capitalista. Ao tornar corpos negros em mercadoria e legitimar esse crime desumano através do racismo científico, a população negra enfrenta até hoje as mazelas oriundas do período colonial (Durans, 2014). Esses eventos possibilitam que o público conheça a verdadeira história do seu povo e sua cultura, a fim de promover uma valorização da cultura afro-brasileira e disseminar a história que muitas vezes não é contada nas escolas. Sendo assim, a intenção do evento esteve em consonância com alguns dos princípios fundamentais do Serviço Social, tais como: a liberdade e a justiça social. Que sejamos livres de toda e qualquer forma de opressão. O evento foi pensado justamente para viabilizar o acesso a expressões artísticas e a prática do esporte, a partir da perspectiva negra. Além de potencializar a visibilidade de tais temáticas, elevar a auto estima dos participantes negros, trazer reconhecimento e pertencimento, Viva a ancestralidade africana! Axé!


Referências:

DURANS, Cláudia Alves. Questão social e relações étnico-raciais no brasil. Revista de Políticas Públicas. São Luís, número especial, p. 391 – 399, jul. 2014.

GONCALVES, Renata. Quando a questão racial é o nó da questão social. Revista Katálysis. Florianópolis. V. 21, n. 3, p. 514-522, set./dez., 2018.

GOMES, Nilma Limo. Cultura negra e educação. Revista Brasileira de Educação,2003. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbedu/a/XknwKJnzZVFpFWG6MTDJbxc/?format=pdf&lang=p t. Acesso em: 09/12/2021.

MELO, Lais. Cultura e identidade negra na escola: qual a importância dessa prática?. Politize, 2013. Disponível em: . Acesso em, 09/12/2021.