Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
Tamanho da fonte: 
Panorama da Obesidade em Crianças e Adolescentes no Brasil
Michele Gonçalves da Costa, Raphael Barreto da Conceição Barbosa, Ana Carolina Rocha de Oliveira

Última alteração: 2022-01-20

Resumo


Apresentação: A obesidade infantil é um problema mundial, aproximadamente 40 milhões de crianças com menos de 5 anos e 340 milhões de crianças e adolescentes de 5 a 19 anos apresentam sobrepeso ou obesidade.  A obesidade é fator de risco para diversas doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares e até mesmo câncer. Além disso, crianças com obesidade têm cinco vezes mais chance de se tornarem adultos com obesidade.

No Brasil, 30,3% das crianças e adolescentes de 5 a 19 anos possuem excesso de peso, de acordo com dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN). Sendo que 31%, entre 6 e 23 meses, já consumiram alimentos ultraprocessados como refrigerantes, sucos industrializados e biscoitos, como aponta o “Atlas da obesidade infantil no Brasil” (2019). A prática recomendada de pelo menos 1 hora de atividade física por dia não é realidade na vida dos adolescentes brasileiros, por diversos fatores 84% não a incluem no cotidiano.

As práticas de vida saudáveis não são uma escolha individual. O acesso à alimentação e ambientes saudáveis que propiciem melhores condições de vida é um direito garantido pela Constituição Federal. No âmbito da alimentação, cabe destacar que o comportamento alimentar é influenciado por diferentes fatores, em especial o ambiente nos quais crianças e adolescentes estão inseridos. Constituído pelos ambientes físico, econômico, político e sociocultural, o ambiente alimentar é o lugar que o indivíduo vive, estuda e trabalha e que pode afetar tanto a qualidade da alimentação quanto o estado nutricional individual e coletivo.  Um ambiente que propicie bons hábitos alimentares é capaz de influenciar no desenvolvimento de um comportamento alimentar saudável e prevenir as doenças crônicas não transmissíveis.  ​

O crescimento rápido da obesidade e suas consequências, seja na infância e adolescência ou na vida adulta, torna urgente a necessidade de políticas e programas que orientem os sistemas de saúde e toda a sociedade para a redução desses índices e na prevenção de outras doenças crônicas não transmissíveis, sobretudo no contexto de crise sanitária, econômica e política acelerada pela pandemia do Sars-CoV-2 (novo coronavírus). Para acompanhar a evolução dessa condição, é fundamental monitorar os dados e produzir informações sobre o cenário da obesidade infantil no país. O objetivo deste trabalho é consolidar os dados do perfil nutricional e antropométrico de crianças e adolescentes, sobre consumo e hábitos alimentares na perspectiva dos marcadores sociais da diferença, de raça, gênero e faixa etária.

Metodologia: Trata-se de um trabalho de caráter descritivo, transversal, documental com abordagem quantitativa. As informações apresentadas são resultantes da terceira edição do “Panorama da Obesidade em Crianças e Adolescentes”. A edição foi desenvolvida no formato digital, com dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (DATASUS, 2021), do Ministério da Saúde, extraídas do sistema no primeiro semestre de 2021. As informações analisadas são referentes ao ano de 2020, logo não refletem o impacto da pandemia nas condições alimentares e nutricionais do segmento em questão.

Os dados do SISVAN são coletados e registrados a partir dos acompanhamentos realizados no âmbito da Atenção Primária em Saúde (APS), incluindo os beneficiários do extinto Programa Bolsa Família e demais usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) que tiveram avaliação antropométrica e nutricional realizada no período. Os dados foram disponibilizados para todas as faixas etárias. A análise da categoria excesso de peso foi obtida pela soma dos valores de risco de sobrepeso, sobrepeso e obesidade para as classes nutricionais até 5 anos e a partir desta a junção de sobrepeso, obesidade e obesidade grave.

Resultados: Embora os dados possam ser consultados para o nível municipal e estadual, optamos por apresentar os resultados do Brasil. Entre os dados mais preocupantes do estudo está a condição de excesso de peso. De acordo com os dados do SISVAN, do total de usuários menores de 19 anos acompanhados, 33% apresentaram sobrepeso, fator que ajuda a compreender o crescimento da obesidade neste segmento. Quanto à análise por gênero, raça/cor/etnia e grupo etário, o excesso de peso ocorre entre todas as raças/cores/etnias, em ambos os gêneros, e em todas as faixas etárias. No entanto, a maior concentração de excesso de peso é entre meninos pardos de 0 a 5 anos, que ficou em 36%.

Outro ponto importante é o consumo de produtos ultraprocessados que, entre crianças com mais de dois anos e adolescentes, foi superior a 80%. Entre crianças de 5 a 10 anos, este número chegou a 85%. Tais mudanças no padrão alimentar contribuem para o crescimento da prevalência do excesso de peso e obesidade. O consumo de alimentos minimamente processados ou in natura nas refeições caseiras vem sendo substituído paulatinamente pelo consumo de ultraprocessados.

Quanto à qualidade dos dados analisados, cabe destacar que a coleta e inserção de tais informações da APS no SISVAN ainda é um desafio a ser superado para a formulação de políticas que atendam às necessidades da população. Mesmo com os avanços na cobertura da Estratégia da Saúde da Família, o percentual de registros sobre estado nutricional (15,39%) e consumo alimentar entre crianças e adolescentes no Brasil (3,16%) ainda é baixo.

Ainda que o acesso a diferentes recortes nos dados seja importante para a tomada de decisões, formulação de programas, pesquisas e demais ações, no âmbito público e privado, a análise de consumo alimentar estratificado por raça e gênero acaba sendo inviável em função do baixo percentual de cobertura. Melhorar a qualidade do registro é fundamental para garantir que as agendas e decisões políticas incluam as necessidades de cada grupo populacional, sobretudo as minorias, que estão em maior situação de vulnerabilidade.

Considerações finais: A informação sobre obesidade é só um dos preâmbulos para a compreensão do cenário nacional e para o enfrentamento da obesidade. A pauta requer mudanças complexas e estruturais, como, na legislação para a produção e o comércio de alimentos mais saudáveis, para a eliminação de propagandas que induzem crianças ao consumo não saudável, para o aumento de atividades físicas e a redução de tempo de tela. Além disso, sendo um problema de saúde pública, a questão é responsabilidade dos governos, nas três esferas, e dos setores públicos e privados. Uma agenda que requer ação intersetorial, com a área da saúde, educação, assistência e outros, de maneira que articule e envolva a sociedade em seus diferentes segmentos, de modo que possamos garantir um futuro saudável para nossas crianças e adolescentes.