Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
Tamanho da fonte: 
Assistência ao adolescente e adulto jovem com câncer no estado de Santa Catarina: análise dos registros hospitalares de câncer, 2008 a 2018
Jane Kelly Kelly Oliveira Friestino, Breno Binotti Souza Camargo, Diego Victor Nunes Rodrigues, Luiz Alberto Oliveira, Daniel Hideki Bando, Priscila Maria Stolses Bergamo Francisco

Última alteração: 2022-01-23

Resumo


O câncer em adolescentes e adultos jovens (15 a 29 anos) apresenta características distintas daquelas que são observadas em outros períodos da vida. Sua ocorrência nos adolescentes e adultos jovens caracteriza-se como uma problemática na atualidade. A incidência nacional de câncer nessa faixa etária corresponde a 4,3% do total de cânceres na população, necessitando para o diagnóstico e tratamento, uma atenção especial quanto à organização e à sistematização das ações e dos serviços de saúde.  Até o presente momento, esforços significativos têm sido realizados em diversos países para a realização de estudos específicos à faixa etária de adolescentes e adultos jovens com câncer, entretanto, na literatura nacional, existem diversas lacunas no conhecimento, as quais podem impactar negativamente na organização da assistência à pessoa com câncer. Com isso, objetivou-se identificar a distribuição espacial e perfil epidemiológico dos atendimentos de câncer em adolescentes e adultos jovens no estado de Santa Catarina. Trata-se de um estudo ecológico exploratório, descritivo, de natureza documental, com análise de atendimentos de adolescentes e adultos jovens (15 a 29 anos) realizados na rede hospitalar de alta complexidade distribuídas no estado de Santa Catarina, entre 2008 a 2018. Os dados coletados são de acesso público e foram obtidos por meio do site do Instituto Nacional do Câncer (Integrador-INCA), oriundo dos Registros Hospitalares de Câncer (RHC). Como fonte de dados também foi necessária a realização de consulta ao Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) do Departamento de Informática do SUS (DATASUS). O estudo utilizou as seguintes variáveis: sexo, idade, município de residência, localização do tumor determinado pela Classificação Internacional de Doenças (CID-10), Código do CNES, Município de atendimento e ano de atendimento. O banco de dados foi obtido por meio de livre acesso no site do Integrador RHC, o qual foi armazenado em planilhas do Microsoft Excel e posteriormente analisado pelo software SPSS. Foram realizadas análises exploratória dos dados, utilizando a estatística descritiva dos dados. Por se tratarem de dados públicos, não houve a necessidade de apreciação em Comitê de Ética para condução do estudo.

Foram identificados 4.926 registros hospitalares de adolescentes e adultos jovens com câncer no período estudado. Destes, 2.819 registros (57,2%) ocorreram em indivíduos do sexo feminino. Em relação à idade, observou-se um aumento gradativo entre as faixas etárias para o conjunto, a partir dos adultos jovens com 21 anos, ocorrendo variação de 3,1% dos casos de adolescentes com 15 anos e 12,9% em adultos jovens com 29 anos.

Em relação ao local de atendimento, o estado de Santa Catarina oferece o tratamento em 18 hospitais diferentes, divididos em 12 municípios que servem como referência, para o tratamento oncológico aos adolescentes e adultos jovens no estado. A maioria dos atendimentos foram identificados nos municípios de Florianópolis (42,3%), Blumenau (11,3%), Joinville (9,2%), Criciúma (8,0%) e Itajaí (4,0%), somando (74,8%) de atendimentos realizados na faixa litorânea do estado, sendo assim identificada como área de maior concentração de serviços especializados em oncologia, e consequentemente, a que detém o maior número de registros, sendo assim referência na rede oncológica.  Distante desta localidade encontra-se o município de Chapecó, que apresentou (9,7%) do total de atendimentos realizados, e torna-se então referência no interior do estado.

Ademais, perante a análise por faixa etária, podemos compreender que em todos hospitais identificados, a maioria dos atendimentos apresentaram ocorrência superiores a 70% dos casos em adultos jovens acima de 25 anos em todos os municípios. Esses achados assemelham-se aos que foram retratadas nos EUA e Canadá, pois demonstram que a incidência de câncer entre 15 e 29 anos é, aproximadamente, três vezes maior do que a observada nos primeiros 15 anos de vida.

Por fim, vale apontar que no último ano da série de ocorrências anuais analisadas foram registrados 3 atendimentos isolados em adultos jovens com 28 anos na cidade de São Miguel do Oeste, não sendo contabilizado nenhum atendimento nas demais idades.

O câncer em adolescentes e jovens adultos (idade entre 15 e 29 anos) configura-se como um problema na saúde pública brasileira, sendo considerada a segunda causa de morte no país. Nesse contexto, o tratamento do câncer entre as faixas etárias aumenta constantemente em todos os municípios, sendo considerado 2,7 vezes maior se comparado a menores de 15 anos. Nesse âmbito, apesar do sexo masculino apresentar menor número no registro de casos, durante a adolescência e o início da maior idade (15 a 19 anos) houve maior número de atendimento em homens, no qual desenvolveram com maior frequência tumores malignos, como: leucemias, linfomas e tumores do Sistema Nervoso Central (SNC).

Diante desse cenário, a falta de informações referentes às manifestações dos sinais e sintomas, em alguns casos, dificultam o diagnóstico precoce e a identificação do estágio da doença, refletindo, dessa maneira, no prognóstico e na cura da doença. Ademais, ocorre uma diferenciação no perfil dos tipos de câncer com os adultos jovens, sendo os carcinomas e os linfomas os tumores mais frequentes nessa faixa etária, além dos tumores do SNC. Outro dado importante é o predomínio do sexo feminino nos registros de atendimentos hospitalares, uma vez que ocorre elevado número de registros de tumores de colo de útero e tireoide no grupo acima de 24 anos, apontando a necessidade de estudos posteriores para evidenciar tal realidade.

Ao longo do período estudado pode ser identificado que a maioria dos atendimentos concentram-se na zona litorânea no estado de Santa Catarina, com pouco percentual de atenção de maneira interiorizada, o que nos leva a pensar em desafios postos para a organização da rede de atenção oncológica, que deve considerar distâncias físicas existentes entre os serviços.  Em relação ao perfil de ocorrência, as mulheres e adultos jovens acima de 25 anos de idade tiveram maior número de registros, sendo necessária a inclusão desta temática na pauta de assuntos relacionados ao diagnóstico precoce e tratamento.

Como proposição de gestão, inclui-se a necessidade em serem pautadas na agenda da Atenção Básica, como também na Educação Permanente nos diferentes pontos da Rede de Atenção à Saúde, a identificação precoce dos cânceres que acometem adolescentes e adultos jovens, posto ser esta uma problemática vivenciada pela população no estado. Além disso, torna-se necessário o planejamento de estratégias para o tratamento, promovendo a excelência do atendimento, bem como a qualidade de vida, impactando, assim, as chances de cura do paciente.