Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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O IMPACTO E O ENFRENTAMENTO DA PANDEMIA POR CORONAVÍRUS NA FORMAÇÃO MÉDICA
Ricardo Estefani

Última alteração: 2022-01-21

Resumo


APRESENTAÇÃO:

Quando falamos a respeito do novo coronavírus nos referimos a um vírus que, devido sua alta taxa de transmissibilidade, mudou o cenário mundial em diversos aspectos. Nos impressiona, por exemplo, a mudança na rotina de autocuidado de cada pessoa, sendo esta refletida no uso constante de álcool em gel, máscara de proteção e, sobretudo, no aspecto de distanciar-se socialmente e horizontalmente das demais.

A implementação desse distanciamento social horizontal e a paralização das atividades tidas como não essenciais, fez diversas instituições de ensino superior a refletirem sobre a necessidade de migrar suas atividades e as aulas do formato presencial para o remoto. Ao partirmos do pressuposto de que os cursos de graduação em medicina, regidos atualmente pelas concepções das Metodologias Ativas priorizam, sobretudo, uma formação holística dos seus alunos principalmente através das aulas práticas e da experiência do internato ao final do curso, podemos nos questionar se essa paralização compulsória resultante da pandemia do COVID-19 não causou um distanciamento dessa formação tão almejada. Para responder a essa indagação, o presente estudo tem por objetivo analisar e descrever como os cursos de medicina do estado de São Paulo se adaptaram no período da pandemia e se esse processo resultou em impactos na formação dos estudantes. Esta pesquisa de caráter exploratório, se destrinchou de maneira descritiva e analítica e fez o uso de metodologia qualitativa para avaliar os dados coletados a respeito do ensino médico no país no período pandêmico em que nos encontramos.

 

DESENVOLVIMENTO:

Na fase inicial da realização da pesquisa foram escolhidos através do método “Bola de Neve” 28 participantes com idade entre 19 a 69 anos que representaram 7 instituições de ensino superior do estado de São Paulo. Nesse conjunto de participantes haviam 7 coordenadores do curso de medicina, 7 coordenadores de internato, 7 graduandos em medicina do 1º ano do curso e 7 graduandos em medicina do 6º ano. Os encontros virtuais com esses indivíduos ocorreram no período de agosto de 2020 a agosto de 2021 e para a coleta dos dados necessários à pesquisa, os participantes eram convidados a responderem perguntas através do Google Forms e de entrevistas agendadas segundo a disponibilidade dos mesmos.

Com o intuito de manter um compromisso ético para com os participantes da pesquisa, eles tomaram ciência antecipadamente da realização do estudo e da  utilização do TCLE nesse processo.

Inicialmente foi disponibilizado aos participantes um questionário com o intuito de levantar o perfil de cada um, assim como ter registradas as suas narrativas de experiência com o curso de medicina no período da pandemia do COVID-19. As entrevistas individuais que ocorreram de maneira remota, através de ferramentas como Google Meet, Microsoft Teams, FaceTime e WhatsApp, eram iniciadas ao questionar os participantes sobre como tem sido sua experiência como aluno/coordenador de curso ou de internato no ensino médico durante o atual período pandêmico. A partir desse disparador inicial e de outras questões direcionadas, buscou-se ouvir e tomar registro das narrativas e vivências de cada participante sobre o assunto. Finalizou-se com um total de 28 entrevistas gravadas e salvas em nuvem, cada uma com duração média de 30 minutos cujas experiências ali narradas foram registradas em diário de campo.

Durante a análise das informações colhidas nas entrevistas, optou-se por dividir as mesmas em quatro categorias relevantes para este estudo, são elas: o acesso às tecnologias remotas, influência financeira, cenário da prática no ensino médico e formação e o futuro pessoal e profissional. A fim de nortear ainda mais este estudo, as informações coletadas foram divididas mais uma vez, desta vez em subcategorias dentro das categorias citadas anteriormente.

 

RESULTADOS:

Como resultado estatístico desta experiência foi relatado que em relação ao preparo do curso quanto as atividades virtuais assistidas, 100% dos alunos disseram que a faculdade os preparou adequadamente. Essa impressão foi de 50% entre os coordenadores do internato e 75% entre os coordenadores do curso. Já em relação ao conteúdo programático, 75% dos alunos do primeiro ano assinalaram que o conteúdo foi mantido. Já para os alunos do 6º ano tivemos a taxa de 50%. Para os coordenadores do internato tivemos 100% e os de curso 75%.

Quanto a manutenção das atividades práticas, 100% dos alunos do primeiro ano assinalaram que foram suspensas, 50% para alunos do 6º ano, coordenadores do internato e coordenadores de curso.

Quando questionados acerca da pressão para a retomada das aulas presenciais, 100% dos alunos relataram não observar a referida pressão. No entanto, para 75% dos coordenadores de internato e de curso houve uma pressão financeira associada.

Por fim, fora percebido que nos cursos entrevistados não foi experienciada a antecipação da colação de grau dos estudantes. Contudo, para 25% dos coordenadores de curso houve perda do semestre ou do ano para os alunos. Para 100% dos alunos, houveram prejuízos em sua formação. Apenas metade destes sentem-se preparados para lidar com uma futura pandemia, em uma situação hipotética.

Quanto aos resultados qualitativos percebidos por meio do estudo realizado, observou-se que em relação ao fator financeiro, muitos alunos e colaboradores da rede particular sentiram-se pressionados quanto ao pagamento das mensalidades e situação financeira de suas instituições causadas pela chegada da pandemia. Já na rede estadual e federal, seus estudantes e funcionários relatam uma dificuldade da referida rede principalmente para se adaptar e garantir o acesso às tecnologias necessárias para a manutenção das aulas no período pandêmico.

Quanto ao cenário da prática no ensino médico na pandemia, o estudo mostrou através dos relatos dos estudantes que a maior dificuldade operacional foi apresentada pelos docentes. Em se tratando de uma geração cuja imersão na tecnologia se deu de forma precoce, os alunos de uma maneira em geral souberam adaptar-se melhor às tecnologias.

Os entrevistados foram unânimes, em maior ou menor grau em afirmar que os formandos e os alunos seriam prejudicados pela suspensão dos cenários da prática e parcialmente pelo uso das ferramentas virtuais.

Quanto ao acesso à tecnologia remota os participantes da pesquisa elogiaram as plataformas virtuais, não como substituição as aulas presenciais, mas como uma alternativa viável para mitigar a falta de encontros presenciais. Todavia, destacaram a precariedade do acesso que alguns alunos tinham nos encontros. Muitos não possuíam condições financeiras para a compra de equipamentos que suportassem os softwares, principalmente alguns alunos da escola federal, estadual e alguns alunos bolsistas das particulares. As faculdades, de uma forma em geral, tiveram e se adaptar à nova modalidade de ensino.

 

CONSIDERAÇÕES PARCIAIS:

O presente estudo ainda é preliminar o que não possibilita uma interpretação final sólida a respeito das informações obtidas por meio dele. Contudo, como considerações parciais pode-se apontar que, apesar das dificuldades apresentadas pela chegada de uma pandemia inesperada, o ensino médico nas instituições de ensino superior estudadas tem se adaptado razoavelmente bem e suprido a demanda acadêmica básica dos estudantes e a cada dia o mesmo busca melhorias e superar desafios.