Apresentação

A partir da integração entre os Ministérios da Saúde e Educação para reorientação dos currículos dos cursos da área de saúde, foram institucionalizados mecanismos de indução para adequá-los às demandas do Sistema Único de Saúde (SUS), bem como potencializar os serviços de saúde como campos de formação. Destacamos aqui, os Programas de Residência em Saúde (PRS) os quais, enquanto estratégias de Educação Permanente devem apoiar a formação por meio das realidades concretas em que os profissionais operam, contribuindo para construção e transformação dos cenários de prática, ao mesmo tempo em que provocam a constituição de uma práxis em saúde. No âmbito dessa integração ensino-serviço, à medida que os serviços de saúde passam a ser reconhecidos como espaços de construção de conhecimento, a presença dos residentes no serviço desafia os profissionais, apontando a necessidade de constante qualificação, não apenas quanto aos campos de atuação, mas especialmente sobre os recursos pedagógicos necessários ao exercício da preceptoria. Assim, reconhecendo a necessidade de ofertar ao trabalhador do SUS elementos teóricos e pedagógicos com vistas a ampliar o pensamento reflexivo-crítico no sentido de produzir, difundir e dinamizar processos de mudanças no ensino da saúde e diante do novo cenário vivenciado na pandemia do Covid-19, a Diretoria Geral de Educação na Saúde e a Escola de Governo em Saúde Pública de Pernambuco (ESPPE) lançaram o Curso de Atualização em Preceptoria em Saúde na modalidade de Educação online. Desse modo, esse relato tem por objetivo descrever a experiência do Curso de Atualização em Preceptoria em Saúde para qualificação dos preceptores dos PRS de Pernambuco.

Desenvolvimento do trabalho

Trata-se de um relato de experiência sobre a formação desenvolvida pela ESPPE, realizada de agosto a dezembro de 2021, com encontros de dois turnos na semana e periodicidade quinzenal. Tendo como público-alvo: profissionais de saúde do estado de Pernambuco que atuam como preceptores de PRS. O curso foi ofertado por meio do Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) da ESPPE, bem como, com a utilização de plataforma para realização de aulas virtuais/síncronas (BigBlueButton – BBB), o qual permite interação em tempo real entre tutores e discentes, sendo 39 horas de aulas síncronas e 41 horas de atividades assíncronas para produção do Plano de Rodízio em Serviço, totalizando uma carga horária de 80 horas. A formação apresentou três eixos de aprendizagem: Eixo I - A preceptoria no contexto do trabalho em saúde; Eixo II - Metodologias, didáticas de ensino-aprendizagem para a preceptoria; Eixo III - Dimensões da avaliação da aprendizagem no trabalho e da preceptoria em saúde. A preparação de cada aula passou pelo processo de alinhamento pedagógico dos tutores e coordenadores. Essa etapa foi facilitada pelos profissionais da ESPPE que propõem a construção coletiva e dialogada dos planos de aula, ao passo que se alinham a partir da perspectiva pedagógica da Escola e das necessidades locorregionais. O alinhamento pedagógico também permitiu que os tutores se conhecessem e se aproximassem, aspecto que contribuiu para constituição do sentimento de equipe, ainda mais importante diante do contexto atual de isolamento social, bem como também se constituiu como um processo formativo para eles. O curso foi continuamente monitorado pela equipe da ESPPE a partir do acompanhamento dos momentos síncronos das turmas e dos relatórios produzidos pelos tutores. Como produto final do curso, os trabalhadores discentes construíram e apresentaram o Plano de Rodízio em Serviço, o qual tinha como objetivo estruturar,  planejar e orientar as atividades dos residentes no serviço para que os campos de prática pudessem contribuir com seu processo formativo de forma qualificada, inclusive possibilitando a proposição de adaptações e sugestões. Este levou em consideração e se relacionou com as especificidades e atividades desenvolvidas no serviço/setor de forma alinhada ao Projeto Político Pedagógico do PRS a ele vinculado.

Resultados e/ou impactos

Foram formadas 12 turmas, sendo as regiões contempladas com o curso, neste período: Caruaru, Garanhuns, Arcoverde, Salgueiro, Petrolina, Ouricuri, Afogados da Ingazeira, Serra Talhada, Goiana e a Região Metropolitana do Recife. O curso foi desenvolvido com a participação de 4 coordenadores educacionais, responsáveis por 3 turmas cada e 17 tutores, além de um apoiador técnico pedagógico da ESPPE em cada turma dessa formação. Ao final, o Curso de Atualização em Preceptoria em Saúde resultou num total de  168 concluintes. Para acompanhamento do curso, foram realizadas reuniões de avaliação com a equipe pedagógica, as quais foram especialmente potentes, pois serviram como espaço para desabafar quanto às dificuldades, pontuar aspectos positivos e negativos do módulo concluído, sugerir ajustes para os próximos e realinhar elementos pedagógicos em tempo oportuno. Os tutores puderam relatar a importância da formação, a partir de pontos facilitadores, como: os conteúdos abordados foram muito bem explorados entre os preceptores pelo fato de se identificarem com o assunto, por se reconhecerem na prática, demonstrando maior participação; a discussão das metodologias ativas foi fundamental para despertar outras formas e estratégias pedagógicas nos cenários de prática, fortalecendo a atuação e renovando os preceptores; as experiências compartilhadas referentes aos temas abordados em cada eixo contribuíram com o processo formativo e a proposta de construção do Plano de Rodízio em Serviço também foi uma atividade chave para ajudar a nortear o dia a dia da preceptoria. Quanto aos desafios enfrentados durante o desenvolvimento da formação, foram elencados como principais pontos: as dificuldades de alguns profissionais no uso das tecnologias (AVA e BBB); a qualidade da internet utilizada para o acesso; a sobrecarga de trabalho relatada pelos discentes, sem garantia de liberação para participação efetiva no curso; as dificuldades de realizar/enviar as atividades assíncronas e as desistências e os abandonos no decorrer do curso. Essa experiência proporcionou aos discentes  a possibilidade de se expressar, tirar dúvidas, compartilhar experiências e expor os pontos de vista em relação à prática da preceptoria.

Considerações finais

Apesar da evasão de alguns profissionais na formação, o curso foi bem avaliado pelos diferentes atores nele envolvidos, sendo de extrema importância para a qualificação dos profissionais e para a consequente transformação nos cenários de prática em que atuam, com foco na qualificação dos processos de trabalho e garantia de uma melhor formação dos residentes para atuar no SUS. Destaca-se a importância dada pelos discentes sobre a construção do Plano de Rodízio em Serviço, como elemento crucial para o direcionamento desses profissionais na atuação junto aos residentes e as estratégias pedagógicas pautadas na Educação Permanente em Saúde. Mas, fica também o desafio de monitorar os desdobramentos que o curso proporcionou de maneira a manter os espaços de diálogo e produções quanto a qualificação da atuação da preceptoria de forma integrada com a gestão, residentes, instituições de ensino e população. Além de dar continuidade ao curso nos anos seguintes, visando alcançar a maioria dos profissionais envolvidos na atuação da preceptoria em saúde dos PRS em Pernambuco, devendo ser revistas as principais dificuldades, como também as facilidades do processo, para que sejam realizadas as adequações necessárias no curso para uma melhor adesão e ampliação do alcance dos objetivos previstos e público-alvo.