Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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A experiência do Curso de Planejamento e Orçamento em Saúde e suas contribuições para a implementação do Planejamento Regional Integrado em Pernambuco
Natalia Nunes de Lima, João Carlos Batista Santos, Emmanuelly Correia de Lemos, Bárbara Paloma Marques de Luna, Nathalia Ingrid dos Santos Silva, Neuza Buarque de Macêdo, Célia Maria Borges da Silva Santana, Luciana Camêlo de Albuquerque

Última alteração: 2022-02-03

Resumo


Apresentação

A Regionalização da saúde é uma diretriz organizativa do Sistema Único de Saúde (SUS) que orienta a descentralização das ações e serviços potencializando os processos de pactuação e negociação entre gestores. O avanço deste processo depende da construção de desenhos regionais que respeitem as realidades locais, a partir do fortalecimento da Governança Regional nos espaços ativos de cogestão. Nesta perspectiva o Ministério da Saúde, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde e Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde pactuaram na Comissão Intergestores Tripartite as resoluções de n° 23/2017 e 37/2018 que estabelecem as diretrizes para o processo do Planejamento Regional Integrado (PRI) e a organização de Regiões de Saúde. Nesse sentido, foi definida como uma das ações estruturantes a construção e o desenvolvimento do Curso de Atualização sobre Planejamento e Orçamento em Saúde visando à qualificação técnica e política dos trabalhadores da saúde, no sentido de viabilizar a operacionalização do PRI no território, por meio da organização e aprimoramento da Gestão e Governança das Redes de Atenção Saúde em Pernambuco. Este estudo objetiva descrever o processo relativo ao Curso de Planejamento e Orçamento em Saúde, desde sua construção, desenvolvimento, e contribuições para o processo do Planejamento Regional Integrado no estado de Pernambuco.

Desenvolvimento do trabalho

Trata-se de um relato de experiência do curso, realizado pela Secretaria Estadual de Saúde em parceria com a Escola de Governo em Saúde Pública de Pernambuco (ESPPE), no período de agosto a dezembro de 2021. O curso foi desenvolvido na modalidade de educação online, por meio do ambiente virtual de aprendizagem (AVA) da ESPPE, com carga horária total de 60 horas, divididas em três módulos: Módulo 1 - A importância do Planejamento em Saúde para o fortalecimento do SUS; Módulo 2 - Desenvolvimento do Ciclo de Planejamento no SUS; Módulo 3 - Planejamento Orçamentário no SUS. Optou-se pelo formato de educação online diante do momento atípico e complexo circunstanciado pelo isolamento social necessário ao controle da pandemia da COVID-19, e pelo fato da aprendizagem se dar a partir de um processo interativo e colaborativo, contando com uma sala de aula virtual, mediada pelo tutor, com a participação dos discentes, construído a partir da colaboração/cocriação de todas as pessoas envolvidas. Nesta modalidade de ensino o discente aprende com o material didático e na dialógica com outros sujeitos envolvidos - coordenadores educacionais, tutores e outros discentes - através de processos de comunicação síncronos (presença em tempo real do tutor) e assíncronos (sem a presença do tutor em tempo real). Alinhado ao objetivo da modalidade de educação online, as atividades assíncronas foram fundamentadas na metodologia da sala de aula invertida, de forma a proporcionar o estudo dos conteúdos previamente através de materiais virtuais, estudos dirigidos, leitura de textos, vídeos, etc. Este modelo de aula efetiva o protagonismo do discente enquanto sujeito ativo e responsável pelo próprio aprendizado, além de possibilitar maior tempo e espaço para desenvolver habilidades diversas: a autonomia, a capacidade na resolução de problemas, o senso crítico, a colaboração e a criatividade. O público-alvo do curso foram os gestores e técnicos das Secretarias Municipais e Estadual de Saúde. As vagas por município priorizaram os profissionais do planejamento e da área de finanças, indicados pelo gestor municipal. O processo de construção do plano de curso e matriz curricular foi realizado de maneira colaborativa pela ESPPE, Secretaria Executiva de Gestão Estratégica e Participativa (SEGEP) e Conselho de Secretarias Municipais de Saúde de Pernambuco (COSEMS/PE), através da escuta qualificada e da análise dos processos de trabalho diretamente relacionados às práticas de planejamento e orçamento locais. Os planos de aulas foram construídos também de forma colaborativa pela equipe ESPPE, SEGEP, COSEMS/PE, Residentes de Saúde Coletiva e a equipe de tutoria, sendo discutidos e exercitados nos encontros de alinhamento pedagógico, realizados entre os meses de julho e agosto. O objetivo do alinhamento pedagógico foi construir um processo didático que fizesse a relação teoria/prática, e no qual o cursista fosse sujeito ativo do seu processo de aprendizagem, assim como discutir o conceito da educação online e seus objetivos de aprendizagem e possibilitar aos tutores vivenciar as ferramentas do AVA, além de acrescentar suas vivências e saberes ao processo de construção pedagógica do curso. Ao longo dos encontros a coordenação fez revisão do material didático e auxiliaram os tutores na condução das aulas, registros dos encontros e monitoramento das entregas das atividades assíncronas, assim como fazia reunião de alinhamento com a equipe de apoio do curso. Todo processo foi conduzido com muita escuta e construção horizontal. Os encontros síncronos iniciavam-se com uma atividade de acolhimento para integração entre os participantes; atividades de aproximação com as temáticas que seriam abordadas, provocando sempre os discentes a refletir seus processos de trabalhos locais; resgate das atividades assíncronas, como forma de introduzir o conteúdo trabalhado na exposição dialogada, estruturada com perguntas condutoras e exemplos que promovessem a relação teoria/prática, e a avaliação do encontro pelos discentes.

Resultados e/ou impactos

Foram desenvolvidas 13 turmas, com 300 participantes, distribuídas nas 12 regiões de saúde, com dois coordenadores educacionais, 7 tutores(as)  e um  apoio técnico pedagógico por turma. Quanto aos conteúdos trabalhados no curso, os discentes relataram que foram essenciais para ressignificarem suas práticas de trabalho, relacionar teoria e prática, bem como expuseram que as atividades realizadas no curso foram transportadas para a sua realidade local. Observou-se que a troca de vivências entre os discentes e com a tutoria dentro da gestão do SUS foi fundamental para construção da relação ensino-aprendizagem. Em relação aos desafios enfrentados no desenvolvimento do curso, pode-se destacar: a heterogeneidade no acesso às ferramentas tecnológicas para utilização adequada da plataforma virtual; e a falta de sensibilização de alguns gestores em relação ao reconhecimento da importância da educação permanente o que dificultou a liberação dos discentes promovendo evasão no curso. O curso foi relevante no contexto da implementação do planejamento regional integrado por possibilitar a discussão e exercício de práticas e temáticas essenciais a este processo, tais quais: concepções, métodos e instrumentos de planejamento em saúde, regionalização na saúde, RAS, financiamento do SUS, governança em saúde e articulação interfederativa, análise situacional em saúde, monitoramento e avaliação. O ambiente de ensino-aprendizagem do curso permitiu trocas de vivências entre os tutores e discentes/trabalhadores de forma a refletir os seus processos de trabalho e o papel de gestão na implementação da RAS regionalizada enquanto espaço de efetivação da política de saúde e dos princípios do SUS.

Considerações finais

Nesse sentido, o curso proporcionou aos discentes repensar as práticas de planejamento local, construir e compartilhar conhecimentos, vivências, dificuldades e conquistas, de forma a promover articulações locorregionais. As atividades educacionais ofertadas na formação fomentaram a discussão das reais necessidades de saúde da população e a reflexão crítica quanto às prioridades regionais e as responsabilidades dos atores municipais na implantação e construção do PRI, além do desafio de fortalecer os espaços de governança regionais para efetivação da RAS regionalizada. Por fim, fica para todos os envolvidos a corresponsabilidade de dar continuidade às atividades iniciadas com o curso de maneira a tornar permanente as ações educacionais integrada ao processo de trabalho para o alcance de sua transformação e melhor oferta de serviços à população.