Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Enfermagem e a humanização nos serviços de hemodiálise: um relato de experiência
Hector Brenno da Silva Cagni, Pedro Lucas Carrera da Silva, Ana Carolina Ferreira Pantoja, Kendra Sueli Lacorte da Silva, Felipe Macedo Vale, Armando Sequeira Penela

Última alteração: 2022-01-24

Resumo


Apresentação: A Doença Renal Crônica (DRC; CID 10 – N18) é uma determinação para as alterações heterogêneas que afetam tanto as estruturas quanto as funções renais, sendo uma patologia de curso prolongado, demonstrando-se assintomática na maioria dos casos, mas que pode muitas vezes apresentar-se grave, tendo múltiplas causas e fatores de risco, como, hipertensão, diabetes e obesidade. Valendo ressaltar que o diagnóstico é feito tardiamente em virtude da assintomaticidade da doença, o que leva os pacientes a já iniciarem o principal tratamento, a hemodiálise (HD). De acordo com Inquérito Brasileiro de Diálise Crônica, realizado pela Sociedade Brasileira de Nefrologia, em 2019, no Brasil, a prevalência e a incidência tiveram representações por milhão de pessoas equivalente a 665 e 218 por 100 mil habitantes, respectivamente. A mortalidade bruta alcançou valores iguais a 18,2%. Foram registrados um total de 139.691 pacientes em diálise, sendo 93,2% em hemodiálise e 6,8% em diálise peritoneal. Há algumas formas de tratamento para a DRC, como: a hemodiálise, a diálise peritoneal e o transplante renal. Deve-se destacar que a diálise é um termo genérico para descrever a filtração do sangue, o que varia é a forma e o material utilizado, e esse procedimento não é destinado para o tratamento dos rins, mas sim para substituir parte das suas funções. A diálise peritoneal é um método que utiliza como filtro uma membrana natural do corpo, o peritônio, que está localizado na cavidade abdominal, diferentemente da hemodiálise em que o sangue é retirado para fora do corpo por uma máquina e filtrado no dialisador, mas na diálise peritoneal, o sangue é filtrado dentro do próprio corpo do paciente. O acesso é feito por um cateter peritoneal permanente (Tenckhoff) no abdômen, um pouco abaixo e ao lado da cicatriz umbilical. Há dois tipos de diálise peritoneal: a Diálise Peritoneal Ambulatorial Contínua (DPAC), realizada de forma manual; Diálise Peritoneal Automatizada (DPA), onde a troca é feita por uma cicladora em casa. Já na hemodiálise, há três possibilidades de acesso: Cateter Duplo Lúmen (CDL) de curta duração (Shilley), Cateter Duplo Lúmen de longa duração (Permcath) ou Fístula Arteriovenosa (FAV). Diante da complexidade, da assistência e da visibilidade que os pacientes em HD necessitam, verificou-se a necessidade de relatar a experiência vivenciada por um acadêmico de enfermagem durante o período de três meses em uma clínica de hemodiálise localizada na região metropolitana de Belém-PA. Desenvolvimento: trata-se de um relato de experiência de um acadêmico de enfermagem em uma clínica de HD durante um estágio extracurricular de três meses. A cínica é composta por 32 máquinas de hemodiálise Fresenius Medical Care 4008s V10, sendo distribuídas entre a sala branca e a sala C, na qual ficam os pacientes acometidos com Hepatites B e/ou C. O serviço funciona da seguinte forma: os pacientes são acolhidos na recepção para o registro e autorização do plano de saúde, seguem para a pesagem e verificação do quantitativo a ser perdido com base no peso seco (peso em que o paciente se sente bem após a passagem pela máquina) e, por fim, eles são conectados nas máquinas. Durante a pesagem, o enfermeiro realiza o lançamento e atualização dos pesos no sistema, sendo dois utilizados: Nephrosys e o Therapy Monitor (TMon). Com isso, o enfermeiro realiza a ligação dos pacientes que utilizam CDL tipo Shilley, Permcath ou FAV de primeiras punções, sendo posteriormente realizada uma visita a cada paciente para a verificação dos 5 certos: máquina, paciente, capilar, linhas e hemobox certos. Feito isso, os curativos programados para o dia já poderiam ser realizados desde que feita a avaliação das condições do curativo anterior para verificar a real necessidade de troca. Diante disso, observávamos o surgimento de quaisquer intercorrências. Em relação a humanização do serviço de HD oferecido, pôde-se verificar a existência de pequenos detalhes que saltavam aos olhos e deixavam a desejar na qualidade do serviço, principalmente quando observados por outros olhares, dessa forma, deve-se destacar: a limitada relação paciente-enfermeiro e a baixa qualidade da escuta humanizada. A princípio, havia dois enfermeiros supervisionando o primeiro e o segundo turno de HD, sendo perceptível a diferença de tratamento ofertado aos pacientes, haja vista que um mantinha uma estreita relação enfermagem-paciente ao limitar-se aos procedimentos técnicos e operacionais em detrimento do que o paciente tinha a oferecer de informações, no entanto, o outro demonstrava completa empatia pelos desejos, medos e vontades dos clientes em HD, ao passo que, por exemplo, respeitava a maneira que os pacientes com cateter gostavam que seus curativos estivessem devido à posição facilitar ou dificultar o dia a dia do paciente ao se movimentar, inclusive na circulação do sangue para a máquina. A partir dessa e de outras vivências e exemplos se tornou perceptível o quão a escuta humanizada é importante para qualquer serviço de saúde, principalmente no serviço em questão, no qual os pacientes estão em constante sofrimento com câimbras, pressão alta ou baixa, calafrios, náuseas, entre outras complicações. Resultados: o profissional da enfermagem, bem como em todas as áreas da saúde precisam desenvolver o cuidado humanizado para todo e qualquer indivíduo de forma universal, integral, igual e descentralizada. Vale ressaltar que durante realização de qualquer curso na área da saúde, os futuros profissionais são orientados tanto em sala de aula quanto nas práticas sobre a importância de realizar um atendimento à população de forma humanizada ao ouvir os indivíduos e tentar ajuda-los de acordo com as necessidades e possibilidades individuais apresentadas, no entanto, mesmo com todo esse preparativo para o mercado de trabalho, muitos ainda não conseguem proporcionar toda essa humanização para os mais necessitados e, sobretudo, para àqueles a quem foi jurado o cuidado. Portanto, em virtude do que foi observado, tentou-se implantar o que estava sendo negligenciado, a escuta humanizada e, com isso, a cada dia que se passava, os pacientes relatavam se sentir mais felizes por estarem sendo ouvidos e menos angustiados e ansiosos com a rotina de diálise renal. Com base no relato verbal de alguns pacientes, pode-se verificar e concretizar a real importância da escuta humanizada, ao passo que o enfermeiro não estava ali presente como um mero profissional, mas, também, como um amigo ouvinte com o qual os clientes podiam contar e conversar sobre as suas inseguranças, medos, anseios e dúvidas que ainda podiam apresentar sobre os fenômenos que se materializavam sobre seus corpos, o que possibilitou a realização de pequenas orientações e educações em saúde. Considerações finais: dessa forma, o profissional enfermeiro tem extrema importância nos serviços de hemodiálise ao participar de todo o gerenciamento e assistência aos pacientes, contudo, eles precisam estar mais atentos às melhorias que precisam ser feitas para aperfeiçoar os serviços oferecidos. É válido, também, que os profissionais e os gerentes estejam em constante aprimoramento das suas habilidades, principalmente utilizando a inserção da Educação Permanente em Saúde (EPS) no cotidiano dos funcionários com o objetivo de elucidar a importância da ininterrupta escuta humanizada, não só na hemodiálise para as pessoas com DRC, mas em todos os serviços de saúde.