Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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A experiência da formação em saúde mental na linha de cuidado infantojuvenil na modalidade da Educação online em Pernambuco
Bárbara Luna, Emmanuelly Lemos, Nathalia Silva, Natália Lima, Neuza Macêdo, Leila Oliveira, Célia Santana, Luciana Albuquerque

Última alteração: 2022-02-03

Resumo


Apresentação

É sabido que a chegada da COVID-19 ao Brasil alterou a rotina dos/das brasileiros/as. Os efeitos foram sentidos nas mais diversas áreas, mas foram os setores da Saúde e da Educação os mais afetados. Estudantes e trabalhadores/as precisaram se adaptar rapidamente ao universo virtual para dar continuidade às suas atividades. Interações mediadas pela internet e expressões como trabalho remoto e home office passaram a fazer parte do nosso cotidiano. Com o novo contexto, demandas formativas surgiram no cotidiano dos serviços de saúde, de modo que se tornou imprescindível o avanço do ensino-aprendizagem também no ambiente virtual. Essa intersecção entre o mundo do trabalho e o da formação é orientada pela Política Nacional de Educação Permanente em Saúde, que tem como objetivo qualificar o processo de trabalho e a assistência à saúde no cotidiano das organizações, e a Escola de Governo em Saúde Pública de Pernambuco (ESPPE) é uma das instituições responsáveis pela qualificação e formação dos/das trabalhadores/as da saúde no estado. Assim, considerando a conjuntura e as necessidades formativas para profissionais das doze Regionais de Saúde do estado, a ESPPE passou a se dedicar à estruturação dos cursos para sua oferta virtual, com base nos estudos sobre a Educação online, alinhada aos princípios da Escola e sua perspectiva pedagógica. Diferente do modelo autoinstrucional da Educação a Distância, a Educação online requer a mediação por um/a tutor/a e um Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA). A Formação em Saúde Mental na Linha de Cuidado Infantojuvenil (FSMIJ) - ofertada para profissionais que integram a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) no estado - foi a primeira experiência da ESPPE ofertando uma formação online, um desafio para todos/as envolvidos/as. Assim, o presente resumo tem por objetivo descrever os aprendizados com a experiência da FSMIJ a partir da Educação online.

Desenvolvimento do trabalho

A iniciativa desta formação vem na perspectiva de fortalecer a lógica antimanicomial, que surgiu dos embates promovidos pelas reformas sanitária e psiquiátrica brasileira. Com isso, o país assumiu responsabilidades sanitárias relativas ao cuidado em saúde mental para a população, redefinindo seu conceito e atuando nos âmbitos da promoção, proteção e recuperação à saúde nos três níveis de atenção. Exigindo a substituição gradual do antigo modelo asilar e hospitalocêntrico por uma rede de cuidados e serviços de base territorial e comunitária, com foco no cuidado em liberdade. O mesmo valeu para o cuidado às crianças e adolescentes, sujeitos de direitos que necessitam de atenção especial, a qual demanda serviços e conhecimentos específicos para atuar com este grupo etário. Nesse sentido, a formação foi construída considerando os aspectos descritos acima e com o objetivo de corresponder a uma demanda reprimida de formação na área. Foi estruturada inicialmente na modalidade presencial, composta por 40h de encontros presenciais (teórico-prático) e 20h de atividades de dispersão para construção de um plano de ação. Porém, a realidade atravessada por uma pandemia exigiu a suspensão dos cursos presenciais em andamento, e impôs a readequação dos processos formativos ao novo contexto. Assim, a equipe da ESPPE, juntamente com residentes, tutoras, coordenadores educacionais desta Formação e representante da equipe técnica da Gerência de Atenção à Saúde Mental (GASAM), revisou e adequou todo plano da formação ao formato online. No alinhamento pedagógico, foi necessário rever desde a condução das aulas até a carga horária da Formação. Não se tratou de apenas transpor o que foi planejado para o ambiente virtual, mas construir novas possibilidades com fins de garantir o objetivo educacional: a aprendizagem e qualificação do processo de trabalho. Assim, primeiramente, foi crucial eleger uma plataforma que permitisse o uso de diversos recursos de interatividade e estratégias pedagógicas, ferramentas que auxiliassem na condução das aulas, como textos, vídeos, bate-papo e enquetes. Por ser um ambiente diferente, identificamos como necessária a presença de um/a apoiador/a para auxiliar nos registros e manejo da plataforma, de modo que as tutoras pudessem focar na condução das aulas. Considerando estudos sobre atenção e concentração em processos pedagógicos online, as aulas que antes aconteciam durante um dia inteiro, passaram a ser um turno quinzenal (encontros síncronos), além da carga horária destinada à construção de plano de ação (atividade assíncrona). O plano foi composto por uma estratégia de intervenção para uma situação-problema relativa à saúde mental infantojuvenil no território de atuação dos/das discentes. Com isso a carga horária total da formação foi mantida de 60h, distribuídas em 36h e 24h, atividades educacionais síncronas e assíncronas, respectivamente.

Resultados e/ou impactos

Como resultado dessa experiência, destacamos primeiramente, a riqueza das trocas e aprendizados, além da qualificação dos/das profissionais da RAPS no cuidado às crianças e adolescentes e dos planos de ação como produto para os territórios. Outro ponto, foi a grande adesão dos/das trabalhadores/as à oferta da formação na modalidade virtual, foram oito turmas em 2020 e seis em 2021, totalizando 14 turmas com trabalhadores/as das doze Regionais de Saúde de Pernambuco e 267 concluintes. E como um dos produtos, foi publicado um livro virtual abordando as experiências na Formação, no qual constam relatos dos atores envolvidos e os planos de ação, e que podem servir de inspiração para profissionais envolvidos na área de saúde mental e da educação permanente em saúde. Diante do exposto, julgamos que a formação, como primeira experiência, proporcionou diversos aprendizados quanto ao que funciona e ao que não funciona na educação online, podendo corrigir as falhas em tempo oportuno, pois foi continuamente registrado, monitorado e avaliado a partir da perspectiva de todos os componentes da formação: discentes, equipes de tutoria e coordenação educacional, GASAM, residentes e profissionais da Escola. Da experiência, avaliamos também que funcionou como continente para esses profissionais, que além da necessidade de atualização referente ao tema, também se encontravam desnorteados diante da pandemia e seus impactos psicossociais visíveis para profissionais e usuários, além das possibilidades de cuidado de crianças e adolescentes em meio à pandemia. A proposta formativa pôde ser vivenciada como ambiente de trocas quanto às angústias vividas no cotidiano dos serviços, e de cuidado mútuo. Por outro lado, alguns desafios também foram identificados, como: limites quanto à inclusão digital e cibercultural, participação simultânea em várias atividades de trabalho e educacionais, participação limitada dos/das discentes nos encontros síncronos, excesso de tempo de tela, sobrecarga de trabalho coletiva, abandonos e desistências, dificuldade em realizar as atividades assíncronas, pactuação frágil entre gestores/as das áreas técnicas da Secretaria Estadual de Saúde e gestores/as locais da política de saúde mental quanto ao tempo protegido para participação efetiva dos/das trabalhadores/as nas ações educacionais, e a ausência do encontro presencial, dos vínculos promovidos, dos afetos compartilhados e construídos nos encontros.

Considerações finais

Nesse sentido, a Formação proporcionou não somente um aprendizado significativo quanto ao exercício da educação online, como também experimentar as potências e possibilidades da Educação Permanente em Saúde no universo virtual. Aos discentes, a experiência permitiu construir e compartilhar conhecimentos, vivências, dificuldades e conquistas, promoveu aproximação e articulações intersetoriais e trabalhou na perspectiva dos profissionais atuarem em rede, fortalecendo a Política de Saúde Mental para garantir um cuidado ao público infantojuvenil cada vez melhor. Por último, destaca-se que a formação precisa prosseguir a partir da continuidade das ações por ela iniciada e do acompanhamento dos seus desdobramentos na RAPS, responsabilidade essa que confere a todas as pessoas envolvidas nessa ação educacional.