Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida
v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Última alteração: 2022-02-03
Resumo
Apresentação
É sabido que a chegada da COVID-19 ao Brasil alterou a rotina dos/das brasileiros/as. Os efeitos foram sentidos nas mais diversas áreas, mas foram os setores da Saúde e da Educação os mais afetados. Estudantes e trabalhadores/as precisaram se adaptar rapidamente ao universo virtual para dar continuidade às suas atividades. Interações mediadas pela internet e expressões como trabalho remoto e home office passaram a fazer parte do nosso cotidiano. Com o novo contexto, demandas formativas surgiram no cotidiano dos serviços de saúde, de modo que se tornou imprescindível o avanço do ensino-aprendizagem também no ambiente virtual. Essa intersecção entre o mundo do trabalho e o da formação é orientada pela Política Nacional de Educação Permanente em Saúde, que tem como objetivo qualificar o processo de trabalho e a assistência à saúde no cotidiano das organizações, e a Escola de Governo em Saúde Pública de Pernambuco (ESPPE) é uma das instituições responsáveis pela qualificação e formação dos/das trabalhadores/as da saúde no estado. Assim, considerando a conjuntura e as necessidades formativas para profissionais das doze Regionais de Saúde do estado, a ESPPE passou a se dedicar à estruturação dos cursos para sua oferta virtual, com base nos estudos sobre a Educação online, alinhada aos princípios da Escola e sua perspectiva pedagógica. Diferente do modelo autoinstrucional da Educação a Distância, a Educação online requer a mediação por um/a tutor/a e um Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA). A Formação em Saúde Mental na Linha de Cuidado Infantojuvenil (FSMIJ) - ofertada para profissionais que integram a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) no estado - foi a primeira experiência da ESPPE ofertando uma formação online, um desafio para todos/as envolvidos/as. Assim, o presente resumo tem por objetivo descrever os aprendizados com a experiência da FSMIJ a partir da Educação online.
Desenvolvimento do trabalho
A iniciativa desta formação vem na perspectiva de fortalecer a lógica antimanicomial, que surgiu dos embates promovidos pelas reformas sanitária e psiquiátrica brasileira. Com isso, o país assumiu responsabilidades sanitárias relativas ao cuidado em saúde mental para a população, redefinindo seu conceito e atuando nos âmbitos da promoção, proteção e recuperação à saúde nos três níveis de atenção. Exigindo a substituição gradual do antigo modelo asilar e hospitalocêntrico por uma rede de cuidados e serviços de base territorial e comunitária, com foco no cuidado em liberdade. O mesmo valeu para o cuidado às crianças e adolescentes, sujeitos de direitos que necessitam de atenção especial, a qual demanda serviços e conhecimentos específicos para atuar com este grupo etário. Nesse sentido, a formação foi construída considerando os aspectos descritos acima e com o objetivo de corresponder a uma demanda reprimida de formação na área. Foi estruturada inicialmente na modalidade presencial, composta por 40h de encontros presenciais (teórico-prático) e 20h de atividades de dispersão para construção de um plano de ação. Porém, a realidade atravessada por uma pandemia exigiu a suspensão dos cursos presenciais em andamento, e impôs a readequação dos processos formativos ao novo contexto. Assim, a equipe da ESPPE, juntamente com residentes, tutoras, coordenadores educacionais desta Formação e representante da equipe técnica da Gerência de Atenção à Saúde Mental (GASAM), revisou e adequou todo plano da formação ao formato online. No alinhamento pedagógico, foi necessário rever desde a condução das aulas até a carga horária da Formação. Não se tratou de apenas transpor o que foi planejado para o ambiente virtual, mas construir novas possibilidades com fins de garantir o objetivo educacional: a aprendizagem e qualificação do processo de trabalho. Assim, primeiramente, foi crucial eleger uma plataforma que permitisse o uso de diversos recursos de interatividade e estratégias pedagógicas, ferramentas que auxiliassem na condução das aulas, como textos, vídeos, bate-papo e enquetes. Por ser um ambiente diferente, identificamos como necessária a presença de um/a apoiador/a para auxiliar nos registros e manejo da plataforma, de modo que as tutoras pudessem focar na condução das aulas. Considerando estudos sobre atenção e concentração em processos pedagógicos online, as aulas que antes aconteciam durante um dia inteiro, passaram a ser um turno quinzenal (encontros síncronos), além da carga horária destinada à construção de plano de ação (atividade assíncrona). O plano foi composto por uma estratégia de intervenção para uma situação-problema relativa à saúde mental infantojuvenil no território de atuação dos/das discentes. Com isso a carga horária total da formação foi mantida de 60h, distribuídas em 36h e 24h, atividades educacionais síncronas e assíncronas, respectivamente.
Resultados e/ou impactos
Como resultado dessa experiência, destacamos primeiramente, a riqueza das trocas e aprendizados, além da qualificação dos/das profissionais da RAPS no cuidado às crianças e adolescentes e dos planos de ação como produto para os territórios. Outro ponto, foi a grande adesão dos/das trabalhadores/as à oferta da formação na modalidade virtual, foram oito turmas em 2020 e seis em 2021, totalizando 14 turmas com trabalhadores/as das doze Regionais de Saúde de Pernambuco e 267 concluintes. E como um dos produtos, foi publicado um livro virtual abordando as experiências na Formação, no qual constam relatos dos atores envolvidos e os planos de ação, e que podem servir de inspiração para profissionais envolvidos na área de saúde mental e da educação permanente em saúde. Diante do exposto, julgamos que a formação, como primeira experiência, proporcionou diversos aprendizados quanto ao que funciona e ao que não funciona na educação online, podendo corrigir as falhas em tempo oportuno, pois foi continuamente registrado, monitorado e avaliado a partir da perspectiva de todos os componentes da formação: discentes, equipes de tutoria e coordenação educacional, GASAM, residentes e profissionais da Escola. Da experiência, avaliamos também que funcionou como continente para esses profissionais, que além da necessidade de atualização referente ao tema, também se encontravam desnorteados diante da pandemia e seus impactos psicossociais visíveis para profissionais e usuários, além das possibilidades de cuidado de crianças e adolescentes em meio à pandemia. A proposta formativa pôde ser vivenciada como ambiente de trocas quanto às angústias vividas no cotidiano dos serviços, e de cuidado mútuo. Por outro lado, alguns desafios também foram identificados, como: limites quanto à inclusão digital e cibercultural, participação simultânea em várias atividades de trabalho e educacionais, participação limitada dos/das discentes nos encontros síncronos, excesso de tempo de tela, sobrecarga de trabalho coletiva, abandonos e desistências, dificuldade em realizar as atividades assíncronas, pactuação frágil entre gestores/as das áreas técnicas da Secretaria Estadual de Saúde e gestores/as locais da política de saúde mental quanto ao tempo protegido para participação efetiva dos/das trabalhadores/as nas ações educacionais, e a ausência do encontro presencial, dos vínculos promovidos, dos afetos compartilhados e construídos nos encontros.
Considerações finais
Nesse sentido, a Formação proporcionou não somente um aprendizado significativo quanto ao exercício da educação online, como também experimentar as potências e possibilidades da Educação Permanente em Saúde no universo virtual. Aos discentes, a experiência permitiu construir e compartilhar conhecimentos, vivências, dificuldades e conquistas, promoveu aproximação e articulações intersetoriais e trabalhou na perspectiva dos profissionais atuarem em rede, fortalecendo a Política de Saúde Mental para garantir um cuidado ao público infantojuvenil cada vez melhor. Por último, destaca-se que a formação precisa prosseguir a partir da continuidade das ações por ela iniciada e do acompanhamento dos seus desdobramentos na RAPS, responsabilidade essa que confere a todas as pessoas envolvidas nessa ação educacional.