Introdução: O Programa Mais Médicos (PMM), contou com a presença até 2018 de profissionais médicos provenientes da cooperação Cuba-Brasil, além de brasileiros e de outros países. Vários estudos sobre o Programa já foram realizados e publicados, no entanto, pouco se encontra sobre as características da relação médico-paciente em ambiente que contou com médicos de diferentes formações, em áreas diversas e não necessariamente urbanas. Este estudo objetivou identificar na literatura o que já foi estudado sobre a relação médico-paciente no PMM, com ênfase na humanização na relação e o que os autores entendem por isso. Método: Trata-se de uma revisão sistemática da literatura que analisou conhecimentos científicos publicados sobre a relação médico-paciente no PMM, no período de 2013 a 2020. Foram utilizadas as seguintes bases de dados: SciELO, Lilacs e Medline com descritores pré-definidos. As análises seguiram uma matriz de referência e do protocolo PRISMA. Foram encontrados 253 estudos em forma de artigos completos, tendo sido escolhidos para análise completa 15 estudos, dos quais 8 restaram para a análise final. Discussão e resultados: O PMM está inserido na Atenção Primária à Saúde (APS), que se orienta-se por eixos estruturantes - os atributos essenciais e derivados – que têm sido discutidos para o fortalecimento da Estratégia Saúde da Família (ESF) e, assim, da reorientação do modelo de atenção à saúde no Sistema Único de Saúde. Estudos mostram uma significativa ampliação da APS, no entanto, poucos abordam conteúdos relacionados às práticas de saúde e possíveis diferenças na relação médico-paciente produzidas por estes profissionais. Neste trabalho foram identificadas práticas humanizadas em algumas localidades do País a partir do PMM na relação médico-paciente e de práticas de saúde produzidas por médicos cubanos participantes do Programa, as quais foram caracterizadas como humanistas, humanizadas, integrais, horizontais e centradas no paciente. Os artigos estudados analisam a relação médico-paciente e/ou as práticas clínicas de médicos do PMM sob a ótica/perspectiva de atores diversos (médicos, profissionais das equipes de APS, usuários e gestores) e mostram que características como o trabalho em equipe, análise de indicadores, uso de ferramentas do planejamento e de protocolos clínicos, a ampliação do escopo de práticas e cumprimento da carga horária de trabalho têm sido relacionadas com os atributos da APS, e podem sugerir que o PMM tem contribuído para a efetivação destes na ESF. Em contraponto, a prática de médicos brasileiros parece ainda seguir o modelo biomédico, por focarem o trabalho no número de procedimentos e na doença, com forte componente de "medicalização" e uso de tecnologia dura, além de ser comum o descumprimento da carga horária laboral, em decorrência de outros vínculos de trabalho (COMES et al., 2017; FRANCO; ALMEIDA; GIOVANELLA, 2018). Alguns autores têm atribuído parte dessas práticas e/ou perfil profissional ao modelo brasileiro de formação médica, que pouco dialoga com as necessidades da população e do SUS. Considerações finais: Os resultados apresentaram importante associação com os atributos da orientação familiar e comunitária, e podem, em médio e longo prazo, favorecer um novo olhar sobre a Medicina brasileira e a formação médica.