Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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ANALISE EPIDEMIOLÓGICA DOS CASOS DE LEISHMANIOSE VISCERAL INFANTIL NOTIFICADAS NO MUNICÍPIO DE ARAGUAIANA, TOCANTINS
Natã Silva dos Santos, Rafael Silva de Sousa, Heloísa Malta de Oliveira, Rayza Brito Silva, Leonardo Medeiros Cintra, Ana Cristina Mendanha Sampaio

Última alteração: 2022-01-26

Resumo


Introdução - Descrição

Leishmaniose visceral, também conhecida como calazar, é uma doença transmitida pelo mosquito-palha ou birigui (Lutzomyia longipalpis) que, ao picar o hospedeiro, introduz na circulação o protozoário do gênero Leishmania. No continente americano, a Leishmania Chagasi é a espécie mais associada à transmissão (BRASIL, 2021). A Leishmaniose Visceral é caracterizada como uma doença relevante no contexto da saúde pública brasileira. Ela é considerada endêmica em pelo menos 70 países tropicais e subtropicais, com a ocorrência anual de 500.000 novos casos e 50.000 mortes no mundo.

Trata-se de uma doença crônica e sistêmica, evidenciada por febre de longa duração, perda ponderal de peso, adinamia, astenia, hepatoesplenomegalia e anemia, entre outros sintomas, que quando não tratada precocemente, pode evoluir para o óbito em mais de 90% dos casos. O seu diagnóstico é clínico, laboratorial e parasitológico, por meio de testes sensíveis e específicos, enquanto o tratamento é feito através do fármaco de primeira escolha Antimoniato de N-metil glucamina (com exceções de casos específicos, nas quais se recomenda o uso da anfotericina B) com cerca de 100% dos pacientes evoluindo para cura.

Só no Brasil, 47.859 novos casos foram registrados pelo Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) entre 2001 e 2014. Nesse âmbito, observou-se um aumento no número de municípios afetados pela doença em alguns estados, principalmente os da região Norte como Rondônia e Amapá que registraram novos autóctones. Essa condição afeta indivíduos de todas as idades e sexo, onde a faixa etária de maior incidência é de crianças em seus 6 primeiros anos de vida.

O Estado do Tocantins figura entre os estados brasileiros que possuem municípios com transmissão intensa de LV, ao lado dos estados de Roraima, Pará, Maranhão, Piauí, Ceará, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul (BRASIL, 2021). A LV se encontra disseminada por todo o Tocantins, com maior coeficiente ao norte do Estado, nas microrregiões de Araguaína e Bico do papagaio, em 2011, Araguaína foi o município tocantinense com maior densidade de casos.

Considerando que os estudos epidemiológicos podem trazer contribuições suplementares para as atividades de controle e prevenção das leishmanioses, o objetivo do presente estudo foi denotar as características epidemiológicas dos casos de leishmaniose visceral infantil (LVI) notificados no município de Araguaína, Tocantins.

Metodologia

Trata-se de um estudo epidemiológico descritivo, retrospectivo com abordagem quantitativa. Os dados foram obtidos no Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS), na base de dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). O levantamento de dados ocorreu nos meses de dezembro 2021 e janeiro de 2022.

A população de interesse é constituída por todos os casos de casos de Leishmaniose Visceral em crianças de zero meses até os 14 anos de idade, notificadas no período de janeiro de 2014 a dezembro de 2020 no município de Araguaína, Tocantins. Foram analisados os seguintes parâmetros: faixa etária, gênero, escolaridade, região de residência. Os dados foram inicialmente tabulados no Microsoft Office Excel 2019.

Resultado e discussão

De acordo com os dados obtidos, no período de 2014 a 2020, o município de Araguaína - TO registrou 649 casos de Leishmaniose Visceral Infantil, uma média de 92,7 casos por ano. Em relação à incidência, o ano de 2016 destacou-se devido a elevação expressiva nos casos de LVI no município, os quais representam 17,7% do total de casos confirmados no período analisado. As características epidemiológicas dessa doença, em Araguaína, expressam uma realidade condizente com suas estruturas periurbanas.

Neste estudo os resultados revelaram que os casos de LVI teve uma maior taxa de notificação com cerca de 356, (52,7%) dos casos registrados no sexo masculino. Esse resultado é semelhante ao encontrado no estado do Maranhão, onde 50,6% dos menores de 15 anos, acometidos pela doença, eram do sexo masculino. Esta diferença entre sexos não tem atribuições relacionadas à maior suscetibilidade, todavia é provável que os homens sejam mais expostos aos vetores.

Em relação aos anos de 2014 e 2018 tiveram por volta de 64 e 62 casos notificados, respectivamente, enquanto que nos de 2015, 2016, 2017, 2019 mostraram 59, 60, 62, 34 casos registrados, caracterizando uma acentuação do número de casos de LVI notificado. O ano de 2020 teve uma queda no número de notificações tanto entre os homens bem como entre as mulheres, podendo esta diminuição ser associada à mobilização das equipes estaduais de vigilância epidemiológica como contrarresposta ao surgimento da Pandemia do Sar-Cov-2, que gerou uma subnotificação ou atrasos das arboviroses. Outra condição que corrobora ao cenário da pandemia é a preocupação das pessoas em procurar atendimento em instituições médicas.

A faixa etária de maior prevalência foi a de 1 a 4 anos com 342 (52,7%), seguida de crianças menores de um ano 151(23,2%). Tal fato pode ser explicado pela suscetibilidade à infecções, em virtude da imaturidade imunológica, uma vez que a imunidade se desenvolve com a idade, sendo esta faixa etária correspondente a um fator de risco importante para LV.

Em relação ao grau de escolaridade desses pacientes, 548 (84,4%) casos não se aplicaram grau de escolaridade algum. Em relação à residência, os pacientes mais acometidos eram provenientes da zona urbana 521 (80%), isso se justifica pelas intensas transformações ambientais, provocadas pelo processo migratório, pressões econômicas ou sociais, a pauperização consequente de distorções na distribuição de renda, o processo de urbanização crescente, o êxodo rural e as secas periódicas acarretam a expansão das áreas endêmicas e o aparecimento de novos focos. Este acontecimento leva a uma redução do espaço ecológico da doença, facilitando a ocorrência de epidemias.

Considerações finais

A leishmaniose é uma doença parasitária potencialmente fatal que figura entre as chamadas doenças negligenciadas, afetando principalmente crianças em idade pré-escolar. O presente estudo aponta para a necessidade de desenvolvimento de políticas públicas capazes de mitigar a disseminação das leishmanioses, uma vez que tal expansão se associa ao processo de expansão urbana bem como invasão do espaço ecológico da doença. Reconhece-se a necessidade de novos estudos capazes de perceber o desfecho dos casos notificados bem como o impacto dos fatores de risco e a efetividade das políticas públicas adotadas no combate a LVI.