Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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CATASTROFIZAÇÃO DA DOR: ANÁLISE DE PACIENTES DO AMBULATÓRIO DE COLUNA VERTEBRAL EM UM HOSPITAL ESCOLA FILANTRÓPICO DO ESPÍRITO SANTO
João Carlos Ferreira Silva, Ingrid Fagundes Medeiro, Isabela Souza Couzi, Alessandra Miranda Ferres, Isabelle Gadiolli Verzola, Charbel Jacob Junior, Priscila Rossi de Batista

Última alteração: 2022-01-26

Resumo


APRESENTAÇÃO

As dores crônicas de coluna constituem uma das queixas mais comumente relatadas pela população adulta, gerando incapacidade, redução da funcionalidade e afastamento do trabalho. Dados da OMS definem novos manejos e protocolos quanto à dores que acometem principalmente a região lombar, entretanto, muito embora os estudos sejam crescentes nesta área do conhecimento, é alarmante o elevado número de registros de doenças na coluna vertebral atualmente, tornando-se uma relevante questão de saúde pública.

Neste contexto, e considerando os estudos recentes sobre dor, é notório o interesse pela mensuração e abordagem da funcionalidade do paciente através da CIF, que postula incapacidades e restrições funcionais influenciadas por múltiplos fatores decorrentes da interação entre corpo, restrição da participação social e aspectos pessoais e ambientais. O modelo biopsicossocial de saúde/doença, portanto, tem se destacado na literatura científica pois inclui, entre outros, aspectos psicológicos e individuais à terapêutica, como a insegurança, o medo, a catastrofização e a cinesiofobia, os quais parecem influenciar o acompanhamento do paciente e seu desfecho clínico.

Neste estudo, então, foi abordada de forma específica a catastrofização da dor, que é caracterizada pela intensificação de sentimentos sobre a dor e pensamentos constantes sobre situações dolorosas. A catastrofização engloba três dimensões importantes entre si na sua multidimensionalidade, destacando-se: a magnificação, que compreende a forma de exagerar na percepção e intensidade da dor; a ruminação, que se caracteriza pela ocorrência constante de pensamentos negativos relacionados com a dor; e a desesperança, que se caracteriza pela ausência de apoio, pelo sentir-se desamparado, ou mesmo bloqueado pela dor. A pessoa com pensamento catastrófico sobre a dor estereotipa padrões de movimentos, o que afeta diretamente sua qualidade de vida.

Diante do exposto, e considerando que as disfunções musculoesqueléticas repercutem de modo significativo na qualidade de vida por impactar em parâmetros sociais e psicológicos dos indivíduos, o objetivo deste estudo foi avaliar a incidência do pensamento catastrófico sobre a dor em pacientes do ambulatório de coluna vertebral.

DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO

Trata-se de um estudo observacional transversal, realizado através de coleta de dados entre setembro de 2019 e março de 2020. A amostra foi composta por 50 pacientes assistidos pelo ambulatório de coluna vertebral de um hospital filantrópico do Espírito Santo que consentiram em participar do estudo através da assinatura do TCLE. Os critérios de exclusão foram: não possuir condições psíquicas, emocionais ou de alfabetização para responder aos questionários, os quais não foram aplicados a nenhum dos pacientes incluídos.

Este estudo foi desenvolvido de acordo com os princípios científicos preconizados pela Resolução nº 466/12 do Ministério da Saúde/Brasil e aprovado pelo comitê de ética local, sob o parecer nº 3.538.018.

Cada etapa da coleta de dados e aplicação dos instrumentos de avaliação foi realizada por um único pesquisador pré-determinado, sempre acompanhado de um pesquisador assistente.

Para caracterização do perfil sociodemográfico foram documentadas, por intermédio de questionário semiestruturado pelas pesquisadoras, as seguintes variáveis: idade, sexo, cor, estado civil, escolaridade, ocupação e tipo de trabalho. No que se refere às condições de saúde, foram registrados os seguintes dados: doenças assistidas pelo ambulatório de coluna (doenças degenerativas e deformidades); situação ambulatorial; segmento da coluna acometido; doenças associadas; presença de polifarmácia; e perfil farmacológico.

Na sequência, foi aplicada a Escala de Catastrofismo relacionado à Dor (B-PCS), que por sua vez, foi utilizada para identificar os sentimentos e pensamentos do indivíduo durante momentos de dor. É distribuída em três domínios, sendo eles: desesperança, magnificação e ruminação. Trata-se de uma ferramenta amplamente utilizada por seu bom caráter discriminativo, confiabilidade, validade e tradução para população brasileira.

Os dados foram tabulados em planilha Microsoft Excel e analisados no programa IBM SPSS Statistics 25. Variáveis de natureza categórica foram analisadas por meio de frequências e percentuais, e as numéricas por meio de medidas de resumo de dados como média, mediana e desvio padrão. A associação entre variáveis categóricas foi investigada pelo teste qui-quadrado ou Exato de Fisher, sendo considerado p<0,05 estatisticamente. significante.

RESULTADOS

Considerando toda amostra analisada, verificou-se que 82% (n=41) apresentavam pensamento catastrófico sobre a dor. Destes, 73,2% eram do sexo feminino. Observou-se uma maioria de indivíduos pardos (51,2%), seguidos de indivíduos brancos, que representaram 34,1% da amostra, e indivíduos casados foram predominantes na variável estado civil (61%). Já em relação a ocupação, 31% da amostra era composta por aposentados e 39% era de trabalhadores ativos.

Em uma pesquisa realizada com 311 participantes, entre os quais, 74% eram do sexo feminino, foi constatado que os fatores sociodemográficos, cognitivos e orgânicos colaboraram para a ocorrência de sintomatologia depressiva, intensidade de dor e permanência de pensamentos catastróficos. No referido estudo, a análise dos preditores de intensidade de dor mostra que o gênero feminino e a autoeficácia contribuíram significativamente para intensidade da dor. Estes dados corroboram com o presente estudo, que teve em sua maioria pacientes do sexo feminino apresentando B-PCS≥30, indicando presença de catastrofização da dor. Outros estudos também mostram predomínio de indivíduos do sexo feminino em consultas médicas, o que sugere maior preocupação com as dores crônicas. Por outro lado, entende-se que a sobrecarga atribuída ao estilo de vida da maioria das mulheres, em conjunto com a maior procura pelos serviços de saúde, possam influenciar também na maior identificação de possíveis disfunções ligadas aos segmentos da coluna no sexo feminino.

Considerando as variáveis das condições de saúde, 73,1% da amostra com catastrofização da dor possuía doenças associadas, fatores que se apresentaram associados mediante análise estatística. Dessa forma, sugere-se que múltiplos diagnósticos podem levar à somatização da dor, que ocorre em diferentes tecidos do corpo, aumentando o grau de vigilância e, consequentemente, a catastrofização da dor.

Já em relação ao uso de medicamentos, houve uma prevalência de sinais de catastrofização em pacientes que faziam uso de dois ou mais medicamentos, representando 75,6% da amostra.

Os resultados deste estudo também mostraram o segmento da coluna lombar sendo o mais acometido em pacientes com sinais de catastrofização da dor, correspondendo a 63,4% da amostra, já o comprometimento conjunto cervical e lombar foi o segundo mais acometido, correspondendo a 29,3% dos pacientes com sinais de catastrofização da dor.                                  Os pacientes que apresentavam doenças degenerativas também foram maioria na apresentação de sinais de catastrofização da dor, e corresponderam a 78% desta amostra. Um estudo apontou que pacientes catastróficos com pontuações elevadas na B-PCS possuíam perfis mais jovens, menos instruídos em nível educacional e com maior prevalência de dor miofascial.

Outras pesquisas reforçam que a catastrofização da dor foi relacionada à depressão, à dor generalizada, ao aumento da atividade cerebral em regiões relativas à antecipação da dor e à atenção a dor. Assim, há evidências de que a população estudada poderia apresentar diminuída capacidade psicológica de enfrentamento de sua condição de saúde. Assim, torna-se relevante uma abordagem multifatorial, desde a avaliação, que engloba não somente o biológico, como também fatores psicossociais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados deste estudo sugerem que um ambulatório de coluna vertebral pode apresentar elevada prevalência de indivíduos com catastrofização da dor, merecendo atenção pacientes do sexo feminino. Desse modo, destaca-se a relevância de uma abordagem psicossocial complementar e interdisciplinar, e conhecendo a prevalência dos sinais de catastrofização em pacientes acometidos por disfunções da coluna, torna-se evidente a necessidade de abordagens diagnósticas.