Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Imagens publicitárias e reflexões sobre racismo na formação em saúde
Eduarda Sepulchro Barone, Isabela Seabra Baiôcco, Samantha Moreira Felonta, Letícia do Nascimento Rodrigues, Hiata Anderson Silva do Nascimento, Roseane Vargas Rohr

Última alteração: 2022-02-23

Resumo


O Iluminismo impulsionou as teorias racialistas que  legitimaram o colonialismo e a discriminação de pessoas pela cor da pele.  No século XIX, na Europa e Estados Unidos essas teorias tiveram grande crescimento, repercutindo em outros continentes. A ciência promoveu o racismo, quando  o conceito “raça” abrangeu uma interpretação, sobretudo, social. Com isso, áreas como biologia, antropologia, criminologia, direito, psicologia,  medicina e a ciência em geral  contribuíram com o racismo. O Espetáculo das Raças de Lilia Moritz Schwarcz é referência para compreender o quanto a ciência impulsionou e legitimou o racismo, repercutindo em questões complexas no decorrer da história, tornando-se um determinante social de saúde e fator de iniquidade. Vale ressaltar que o racismo fere princípios fundamentais da Declaração Universal de Bioética e Direitos Humanos, além de ser qualificado como crime de injúria racial e preconceituosa. Os anúncios publicitários, inicialmente escritos, incorporaram imagens a partir do século XIX quando as técnicas de reprodução de litografia e fotografia puderam ser incorporadas aos anúncios. Para Schwarcz as imagens não são produtos nem meras ilustrações mas, produzem o seu contexto, e nessa direção, refletir sobre o racismo por meio de imagens publicitárias ao longo da história constitui-se objetivo desse estudo exploratório, descritivo de natureza qualitativa. Utilizou-se a metodologia de estruturação de mostras culturais temáticas do projeto Imagens da Vida: Arte - Saúde - História (Proex Ufes 638) alicerçado no referencial teórico e metodológico de Paulo Freire. O tema gerador foi estabelecido, direcionando a apropriação temática, emergindo temas em interação que atuaram como descritores, direcionando a busca intencional de imagens na internet. Imagens e palavras possibilitam análises múltiplas considerando as subjetividades e o diálogo com referências sobre a temática. A análise cronológica das imagens publicitárias revelam uma forte presença do racismo em campanhas publicitárias em diferentes momentos da história com nuances de humor. As imagens reforçam a branquitude como lugar de poder social e os estereótipos raciais supostamente negativos. O racismo recreativo é presença marcante nas campanhas publicitárias legitimando a inferiorização de características das pessoas negras. Publicidade de materiais de limpeza e higiene pessoal como sabão, palha de aço, alvejante são alguns exemplos de produtos encontrados nas propagandas analisadas. Processos de judicialização são movidos contra empresas responsáveis por campanhas de cunho racista, a partir do engajamento de pessoas negras e movimentos sociais organizados. O racismo gera iniquidades na saúde, violando direitos e impedindo a equidade, princípio básico estabelecido pela Organização Panamericana de Saúde para o desenvolvimento humano e a justiça social. A inclusão obrigatória de conteúdos sobre educação e relações étnico-raciais no ensino superior ainda é incipiente na formação dos profissionais de saúde. As imagens publicitárias de cunho racista possibilitam estabelecer o diálogo crítico e reflexivo sobre o tema, e podem contribuir no processo de educação das relações étnico-raciais. Em uma sociedade imersa em imagens publicitárias deve-se  atentar aos signos presentes nas propagandas, repudiando empresas que divulgam seus produtos com campanhas que promovem a branquitude e inferiorizam pessoas negras.