Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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A educação sanitária realizada pela APS e as medidas adotadas pelas famílias para o enfrentamento da Covid-19 em município da Bahia
GENILSON JESUS DAS VIRGENS, ANTONIO JOSÉ COSTA CARDOSO, PEDRO BRASILEIRO FREITAS JUNIOR

Última alteração: 2022-01-21

Resumo


APRESENTAÇÃO

O estudo trata da análise do trabalho de educação em saúde realizado pelo SUS no enfrentamento da pandemia e as medidas adotadas pelas famílias para se prevenir da Covid-19 em Coaraci, um pequeno município do interior da Bahia com 100% da população coberta pela APS.

 

DESENVOLVIMENTO

Trata-se de estudo transversal, qualiquantitativo, que analisou base de dados produzida pela pesquisa, de abrangência nacional, “Prevenção e controle da COVID-19: estudo multicêntrico sobre a percepção e práticas no cotidiano das orientações médico-científicas pela população dos territórios de abrangência da APS” envolvendo cerca de 106.200 famílias de usuários dos territórios adstritos à 134 equipes da ESF que tenham frequentado a unidade de saúde nos 90 dias precedentes à pesquisa, distribuídos em 88 municípios. Neste recorte em específico, analisamos a etapa I que foi produzida por meio da aplicação de questionários a cerca de 70 usuários no município de Coaraci-Ba, entre 01 e 30/062021. As entrevistas foram gravadas, transcritas e os dados foram inseridos em plataforma Google Forms, sob o gerenciamento da Coordenação Geral da Pesquisa, e posteriormente encaminhados, por meio de planilha Excel, para às coordenações locais. De 70 questionários aplicados (Etapa I), foram analisadas as respostas às questões 1 a 10, que tratam do perfil sociodemográfico dos participantes em Coaraci, e às questões 23 a 25, que investigam a realização de “alguma ação de saúde e de educação em saúde voltada para a prevenção do coronavírus” pela equipe da ESF e “as medidas que as famílias adotaram para se prevenir da infecção pelo coronavírus”. As respostas à questão 24 (ações de saúde e de educação em saúde voltadas para a prevenção do Coronavírus), única aberta, foram analisadas utilizando o método “Análise do Conteúdo” de Bardin por meio das seguintes etapas: organização da análise, codificação, categorização e interpretação dos resultados (Bardin, 2016). A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal do Sul da Bahia (Parecer: 4.467.287).

 

RESULTADOS

Do total de 70 participantes, (68,6%) eram mulheres e (31,4%) homens, na área de abrangência do Centro de Saúde Dr. Ângelo Brito, onde residem 3.550 usuários, mulheres (55,7%) e homens (44,3%). O nível educacional mais frequente foi o “Médio completo” (35,7%), seguido por “Superior completo” (17,1%), “Fundamental incompleto” (14,3%) e “Superior incompleto” (12,9%). Apenas (2,9%) referiram não ter frequentado a escola, enquanto (7,1%) informaram ter “Pós-graduação”. Quanto ao rendimento mensal do lar, quase a metade dos participantes (44,3%) informou “Até 1 SM - R$1.045,00”, seguido, em igual proporção, por “Mais de 1 até 2 SM – de R$1.045,00 a R$2.090,00” (20,0%) e “Mais de 2 até 3 SM – de R$2.090,00 a R$3.135,00” (20,0%). Apenas (15,7%) referiram renda maior que 3 SM – de R$3.135,00. Na área de abrangência do Centro de Saúde Dr. Ângelo Brito, 30% vivem com 1 SM; 18,3% com 2 SM; 5,1% com 1/2 SM; 2,3% com 4 SM e 1,0% com mais de 4 SM; mas 39% optaram por não informar (E-SUS, 09/2020). Quanto às condições dos domicílios que poderiam revelar alguma dificuldade em relação às medidas recomendadas de distanciamento social, a maioria (61,4%) declarou residir em domicílio com “1 a 3 moradores” além do entrevistado, seguida por “4 a 7 moradores” (34,3%) e “0 morador na casa” (4,3%).

No contexto da pandemia, a SMS de Coaraci priorizou o atendimento aos sintomático-respiratórios – tendo sido instalada uma Central de Atendimento ao Coronavírus ainda em março de 2020, com 07 leitos de baixa complexidade e atendimento 24 horas –, em detrimento da APS. Em um segundo momento, a SMS organizou a APS para prestar atendimento presencial, mas somente àqueles que realmente necessitassem, orientando os demais pacientes para que recebessem ações de promoção da saúde por meios eletrônicos ou visita domiciliar de ACS ou de outros profissionais. Embora tenha sido a última medida recomendada pelas autoridades, o “Uso de máscara quando sai de casa” é a medida mais popular, segundo os participantes (91,4%) referindo a sua adoção, seguido por “Lavagem frequente das mãos” (85,7%) e “Uso de álcool gel” (84,3%), empatados com a mesma proporção, e por “Isolamento social parcial” (61,4%) e “Isolamento total” (22,9%).

O distanciamento social, traduzido nesta pesquisa como “isolamento social total” ou parcial”, foi a medida menos adotada pelos entrevistados, embora seja a mais difundida, sendo considerada a medida de controle mais importante para a redução da incidência de casos (Bezerra et al., 2020; Noal; Passos; Freita, 2020; Russell et al., 2020; Souza et al., 2020).

As populações com rendas menores têm mais chances de quebrar as regras que são impostas quanto ao isolamento social. Mesmo os indivíduos que recebem o auxílio emergencial do Governo Federal, um recurso considerado insuficiente para atender as demandas de uma família, precisam sair de casa para ganhar mais dinheiro e complementar a renda, comprometendo todo esforço de controle da pandemia. As famílias detentoras de menor renda estão passando por dificuldades para se sustentar, já que não possuem economias para se manterem sem a entrada de recursos financeiros, tendo sido muitos os que, devido às medidas de isolamento social e fechamento de diversos serviços considerados não essenciais, ficaram desempregados e, consequentemente, perderam sua fonte de renda.

Por muitas razões, o “distanciamento social”, principalmente o “isolamento social total” por longo tempo, esbarra em muitas dificuldades operacionais que tornam a prática inviável para um número grande de pessoas. Além de estar associada a mudança de padrões comportamentais, significando que cada indivíduo precisa compreender a importância dessa medida para ser persuadido a adotar o distanciamento social.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a pandemia, é preciso considerar as especificidades das populações vulnerabilizadas e priorizar as estratégias de educação em saúde para diminuir o nível das contaminações e melhorar os indicadores da população com menores oportunidades sociais e maiores dificuldades financeiras. É preciso fortalecer a atuação da APS no território e aumentar o conhecimento para promover o uso de medidas preventivas pelos indivíduos considerados vulneráveis (Zhao et al., 2020).

O impulso motriz de um processo de mudança paradigmática recai fundamentalmente na Educação, enquanto processo de leitura e releitura do contexto social e sua reinterpretação e ressignificação. Por esta razão, a OMS (2020, 2020a) recomenda educar o público sobre a seriedade do COVID-19. Aposta-se no diálogo como ferramenta de negociação de sentidos, a partir da compreensão da realidade na qual o sujeito está inserido, visando a adesão à quarentena, ao isolamento social e a outras medidas de prevenção (Ceccon; Schineider, 2020).

Além disso, o enfrentamento da pandemia exige a elaboração de planos de gerenciamento de risco em vários níveis (nacional, estadual, municipal e local), em parceria com as organizações comunitárias, potencializando habilidades e estimulando a solidariedade (Dunlop et al., 2020; Medina et al., 2020).