Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
Tamanho da fonte: 
PERSONAGENS HUMORÍSTICOS BRASILEIROS E O REFORÇO À ESTEREÓTIPOS RACISTAS
Eduarda Sepulchro Barone, Isabela Seabra Baiôcco, Samantha Moreira Felonta, Letícia do Nascimento Rodrigues, Roseane Vargas Rohr, Hiata Anderson Silva do Nascimento

Última alteração: 2022-02-23

Resumo


O racismo está presente no cotidiano da sociedade brasileira sendo estrutural e sistêmico, atrelado não apenas ao processo de colonização e escravidão mas, fortalecido pela ciência por correntes da raciologia clássica que defendiam uma hierarquização racial na qual os brancos seriam dotados de maiores capacidedes intelectuais e os negros teriam maiores aptidões manuais, legitimando o colonialismo, a escravidão e discriminação por cor da pele. O racismo é um determinante social de saúde de importante fator de produção de iniquidades, além de ser uma prática criminosa, frequentemente relativizada pela sociedade quando associada a piadas e outras produções culturais que promovem a descontração das pessoas, legitimando a impunidade. Trata-se do racismo recreativo, que é a prática do racismo em uma interface com o humor, e com a justificativa de fazer rir, pessoas negras são ridicularizadas. Segundo o professor Adilson Moreira, a sociedade precisa enxergar o racismo recreativo como um projeto de dominação que procura promover a reprodução de relações assimétricas de poder entre grupos raciais por meio de uma política cultural baseada na utilização do humor com expressão e encobrimento de hostilidade racial. Neste sentido, são objetivos do trabalho descrever estereótipos racistas reforçados em personagens humorísticos da televisão brasileira utilizando imagens paradas e em movimento. Refere-se a um estudo de natureza qualitativa, teórico reflexivo apoiado na metodologia de estruturação de mostra cultural temáticas desenvolvida pelo projeto de extensão Imagens da Vida: Arte - Saúde - História  (Proex Ufes 638) e no referencial teórico e metodológico de Paulo Freire. Ao definir o tema gerador inicia-se a apropriação temática por meio de leituras, que permitem definir descritores para a busca e seleção intencional de imagens paradas e em movimento, favorecendo estabelecer análises e o processo crítico e reflexivo. A obra do professor Adilson Moreira sobre o racismo recreativo delimitou a busca de imagens para a análise dos estereótipos em quatro personagens: Tião Macalé, o feio, exemplifica um dos pontos característicos do imaginário social sobre os negros,  a noção de que eles não são parceiros sexuais socialmente aceitos em função da sua raça; Mussum, o bêbado, caracterizado pelo seu jeito malandro, estereotipo sobre negros, também associado a vadiagem e a bebida; Vera Verão, a bicha preta, com estereótipo racial da sexualidade exacerbada da mulher negra, além de difundir o estereótipo da sexualidade exacerbada e promiscuidade de homossexuais; Adelaide, a desvairada, com características do imaginário social sobre as mulheres negras pobres. Os personagens humorísticos da televisão valorizam a branquitude colocando a negritude em situação de inferioridade e os meios de comunicação contribuem com a difusão e naturalização do racismo recreativo. As imagens desvelam a sutileza e perversidade de um projeto de dominação racial que ridiculariza negros e banaliza o racismo recreativo, legitimado pela ideia de cordialidade brasileira. Há urgência em incluir esse debate nos espaços de formação dos profissionais de saúde,  incorporando os principios da Declaração Universal de Bioética e Direitos Humanos como dignidade humana e direitos humanos, igualdade, justiça e equidade, não discriminação e não estigmatização nas relações humanas.