Associação da Rede Unida, 15º Congresso Internacional da Rede Unida

Anais do 13º Congresso Internacional da Rede Unida

v. 4, Suplemento 1 (2018). ISSN 2446-4813: Saúde em Redes
Suplemento, Anais do 13ª Congresso Internacional da Rede UNIDA
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Educação Interprofissional: desafios para a enfermagem no norte do Brasil
Sanay Vitorino de Souza, Rosana Aparecida Salvador Rossit, Beatriz Jansen Ferreira

Última alteração: 2022-01-24

Resumo


Apresentação: A crescente necessidade mundial em fornecer um cuidado em saúde de qualidade, vem mobilizando discussões sobre a urgência de preparar profissionais de saúde para trabalharem juntos, colaborando em equipes interprofissionais. Para tanto, privilegiam-se discussões em torno de políticas e estratégias envolvendo a formação profissional em saúde. Nesse contexto, emerge como necessário, o uso da educação e trabalho interprofissional colaborativo para melhorar as práticas, experiências e resultados em saúde (HPAC, 2019). Compreender a formação e trabalho profissional para além da perspectiva do conhecimento compartimentalizado, implica a construção e desenvolvimento de competências interprofissionais colaborativas que ultrapassam os atributos profissionais específicos. Esse movimento constitui espaço de saberes, condicionado pela disponibilidade para aprendizagens interativas, garantindo que estudantes das áreas de saúde estejam aptos para o trabalho em equipe, proporcionando qualidade e segurança aos sistemas de saúde (IPEC, 2016). A Organização Mundial de Saúde e a Organização Pan-Americana da Saúde (OMS/OPAS) reconhecem a importância dos profissionais de enfermagem para ampliação e melhoria do acesso e cobertura dos sistemas de saúde. A Enfermagem é uma profissão caracterizada pelo cuidado, reconhecida pela sua atuação em diversas situações da vida humana. A prática de enfermagem comporta múltiplas dimensões do conhecimento, sobretudo no que se refere ao saber-assistir os usuários, famílias e comunidades. Na atualidade, os caminhos trilhados no processo de formação do enfermeiro são influenciados pelo complexo panorama sócio-político-econômico brasileiro. Nesse contexto, a reflexão impõe dilemas e novas perspectivas na tentativa de estabelecer mecanismos de aprimoramento por meio de inovações curriculares, pensamento crítico, articulando diferentes saberes e experiências. Para tanto, é imprescindível que os sistemas de saúde e educação trabalhem em conjunto, apoiando a implantação de políticas e propostas de educação interprofissional, estimulando o trabalho integrado entre diferentes profissões de forma equitativa, assim como, apoio permanente para o desenvolvimento docente intencionalmente articulado, cooperativo e colaborativo, redefinindo referenciais numa perspectiva interdisciplinar e interprofissional. De maneira específica, a OMS/OPAS declararam 2020 como o ano internacional dos enfermeiros e parteiras. Tal iniciativa reconhece a capacidade resolutiva desses profissionais em todo o mundo. Para que seja possível promover transformações nos sistemas de saúde por meio da educação interprofissional e prática colaborativa, quatro objetivos centrais são apresentados por InterprofessionalResearch.Global e da Interprofessional.Global (2019): melhorar a qualidade do cuidado ao paciente; aprimorar a saúde das comunidades e populações; reduzir custos relacionados com a prestação de serviços de saúde; e, melhorar a experiência de trabalho dos profissionais da saúde. Objetivo: mapear nos projetos pedagógicos dos cursos de Enfermagem da região norte do Brasil conteúdos que indiquem a existência de iniciativas e/ou intenções em relação ao trabalho e prática interprofissional colaborativa. Método: Trata-se de uma pesquisa baseada na abordagem multimétodo. A pesquisa documental baseou-se no Levantamento dos Projetos Pedagógicos dos cursos de graduação em enfermagem de sete universidades públicas da Região Norte do Brasil: Universidade Federal do Acre, Universidade Federal do Amazonas, Universidade do Estado do Amazonas, Universidade Federal de Roraima, Universidade Federal do Pará, Universidade Estado do Pará e Universidade Federal de Tocantins. Para delimitar a análise documental, optou-se em realizar um recorte nos projetos pedagógicos. O recorte contemplou aspectos referentes aos pressupostos teórico-conceitual e metodológico dos cursos de enfermagem de cada universidade. Um protocolo de termos rastreadores foi construído para alinhar os tópicos da análise qualitativa. Resultados: Os projetos pedagógicos dos cursos de graduação em Enfermagem analisados tiveram suas propostas elaboradas entre 2008 e 2018. Percebemos que os contextos em que se desenvolvem as propostas de formação foram avanços traçados e vivenciados em temporalidades diferentes. Cada lugar, cada instituição e seu ambiente acadêmico moldaram, ao longo do percurso, suas estratégias de trabalho que têm ressonância na formação e no cuidado que acontece em ato nos serviços de saúde. Porém, o cenário atual de transformação no processo de formação profissional na área de saúde mobiliza ações direcionadas à superação de práticas baseadas e confinadas em suas trajetórias disciplinares. No caso específico do campo da saúde, o trabalho educativo requer uma elaboração constante e atualizada na tentativa de aproximar os saberes teóricos da prática profissional. Para tanto, Mattos et al. (2019) reiteram que as inovações nos processos educacionais podem atuar como aliados na consolidação de processos formativos, pautados na colaboração e nos pressupostos da interprofissionalidade. Desse modo, a análise documental dos PPC de Enfermagem revelou a necessidade de mobilizar novos itinerários e experiências articuladas aos princípios da EIP. Trata-se de projetos dinâmicos, passíveis de ajustes, com a finalidade de alcançar processos avançados que tenham como referencial o desenvolvimento de competências colaborativas, ampliando as possibilidades de reconstruir contextos formativos globalizados, interdisciplinares e interprofissionais. O procedimento de análise proporcionou o levantamento de aspectos que se aproximam da educação interprofissional como: articulação de ações multiprofissionais; reconhecimento da Atenção Primária como campo de prática colaborativa; estudantes como protagonistas do processo ensino-aprendizagem. E constatou-se outros aspectos que se distanciam dos marcos teórico e conceitual da educação interprofissional, como: fragilidade nas propostas curriculares dos cursos de graduação em enfermagem; desarticulação entre ensino e serviço; currículo extremamente conteudista e desconectado do contexto real do usuário/família/comunidade; formação baseada no modelo uniprofissional. Considerações finais: É indiscutível incluir e fomentar nos cenários acadêmicos e de assistência ao usuário do sistema público de saúde reflexões acerca da educação e do trabalho interprofissional, assim como, impulsionar a disseminação de novas práticas voltadas às aprendizagens compartilhadas, ao trabalho em equipe, à comunicação e interações efetivas. Melhorar a capacidade de recursos humanos em saúde propõe novos itinerários e realinhamentos que privilegiem processos que possam convergir para a articulação entre ensino, serviços de saúde e comunidades, formando profissionais qualificados e capazes de induzir a transformação social. Portanto, cada realidade têm em sua trajetória um ponto de encontro, a abertura para novos caminhos e possibilidades com ênfase na integração de conhecimentos multidisciplinares, trabalho em equipe/colaboração e cooperação qualificada entre educação, saúde, ambiente, tecnologia e biodiversidade na Amazônia. Tudo isso, configura um grandioso mosaico de interações, caminhos, práticas, processos, aprendizagens, que mobilizam o deslocamento do olhar linear para um horizonte ampliado, capaz de promover uma integração dos saberes cada vez mais profunda, reconhecendo a pluralidade de sentidos e a complexidade do sujeito. Assim, a discussão da EIP no contexto brasileiro e de forma particular na região Norte, terá ramificações cada vez mais expansivas nas Instituições de Ensino Superior e, consequentemente, produzindo um trabalho em saúde alinhado aos princípios do SUS.